sábado, 29 de agosto de 2009

351 - Luis Bugre

Mas um dos bugres não conseguiu fugir. Ele foi atingido por uma carga de chumbo no joelho e, na fuga, destroncou o pé. Era um menino de onze anos e um dos colonos, o luso Matias Rodrigues da Fonseca, resolveu levá-lo para sua casa, para servir de empregado. O garoto, que passou a chamar-se Luís Antônio, cresceu na convivência com os colonos e aprendeu até a falar (mal) o alemão, língua predominante na colônia. Recebeu a educação religiosa que era dada aos filhos de todos os colonos e, em 1849, foi batizado pelo padre João Sedlack, da recém constituída paróquia de São José do Hortêncio. Os padres de Hortêncio, naquela época, prestavam assistência aos colonos católicos do Vale do Caí. Eles eram alemães e tinham, portanto, facilidade de se comunicar com os colonos. Antes da vinda destes padres, os colonos católicos da região estavam mal assistidos religiosamente, pois os padres brasileiros só sabiam falar o português.
Mas Luís Antônio nunca assimilou totalmente a cultura dos brancos. Ele costumava se embrenhar na mata, onde ficava por dias, semanas ou até meses, voltando depois para a casa do “pai” Matias, trazendo peles de animais caçados por ele.
Certa vez Luís voltou trazendo uma companheira. E assim Luís Bugre, como o chamavam, passou a morar na colônia de Feliz, junto com um colono alemão chamado João Welchen que tornou-se seu companheiro de caçadas. Antônio praticava uma forma de comércio bastante comum na época, intermediando as trocas entre brancos e índios. Os seus companheiros de raça forneciam mel silvestre, peles de animais e papagaios vivos, recebendo em troca algumas “maravilhas da civilização”, como pedaços de espelho, facas de metal, açúcar e sal.
Mais tarde Luís se estabeleceu numa encosta de difícil acesso no Morro da Canastra, ao norte da atual cidade de São Vendelino. Lá ficavam sua mulher e dois filhinhos, enquanto Luís andava pela colônia e pelas matas da Serra, fazendo contato com colonos e índios. Gostava de tomar cachaça, que ganhava dos comerciantes em troca da facilitação dos negócios que estes também faziam com os bugres que ainda perambulavam pelas matas do Vale do Caí. Quando bêbado, Luís tornava-se brigão e insolente. E não suportava que o chamassem de bugre. Perambulando pela colônia, sempre acompanhado de uma “escolta” de cachorros brabos, Luís passou a inspirar medo e preocupação entre os colonos.
Aconteceu, então, o episódio narrado no livro do monsenhor Matias Gansweidt.
Vivia na Colônia de Santa Maria da Soledade uma família que havia imigrado da Alemanha em 1858: o casal Lamberto e Valfrida Versteg e seus dois filhos: Jacó e Maria Lucila. Lamberto era de uma família nobre, descendente, por parte de mãe, dos condes von Ameringen. A sua família havia empobrecido e perdido a condição de nobreza, mas ele ainda guardava algo do ar altivo herdado dos antepassados.

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