Houve um tempo em que os alemães eram pobres e receberam ajuda dos seus "irmãos" brasileiros
Esta é uma daquelas histórias que prova, por A mais B, que o amor fraternal existe, e que para ele não há distâncias.
Eu era um iniciante no jornalismo no Vale do Caí, e atendi o chamado que provinha da cidade de Harmonia. Guido Scherer era quem me ligava, e dizia ter uma história muito interessante. Não imaginei, porém, que aquele dia 12 de fevereiro de 1998, uma quinta-feira, me reservasse tantas emoções.
Quando cheguei até Guido ele me contou que seu pai havia recebido uma visita da Alemanha. Até aí a história merecia umas três linhas de reportagem. Mesmo assim fomos à casa de Ignácio Scherer onde ouvi uma bela história. Foi o próprio Ignácio Scherer que me contou a história, detalhadamente.
Ele recebeu uma carta proveniente da distante Alemanha, endereçada para a cidade Harmonia, mais precisamente para Ivo Egídio Kuhn. Como ele não tinha tempo para responder, pediu ao jovem Ignácio que escrevesse para a tal alemã. Começava assim, em 3 de dezembro de 1938, a amizade entre Scherer e Frau Brigitte Ritz. A resposta chegou na Alemanha em janeiro de 1939, tendo sido quase que um testamento de vida para Frau Ritz. Com o país em guerra e a fome assolando os moradores da Alemanha, toda a ajuda era válida. Mas foi o período pós-guerra o mais triste para o povo da arrasada Alemanha. Quando o governo racionava comida e a fome era grande demais, alimentos provenientes de Harmonia vieram amenizar o sofrer. Scherer enviava para Brigitte banha de porco e chocolates, além de muitos outros alimentos. “Não morri de fome graças a ele”, afirmava enfática Frau Ritz.
E depois que os descaminhos da vida fizeram com que Ignácio e Brigitte perdessem contato, uma nova coincidência os uniu. Frei München, que trabalhava em Santa Catarina foi à Alemanha sendo que a filha de Brigitte contou a história da amizade interrompida. Este religioso, por meio de contatos encontrou o paradeiro de Scherer, promovendo novo encontro entre as famílias. Mas este encontro foi muito além do que esperavam ambas as partes, pois Brigitte, no alto de seus 75 anos, embarcou em um avião e veio agradecer, pessoalmente, ao amigo de mais de 60 anos, toda a ajuda recebida então.
Ignácio e Brigitte poderiam ser estranhos, mas o amor fraterno existente entre os dois fez com o que o imenso Oceano Atlântico parecesse tão pequeno quanto à travessia do Rio Caí. O amor, realmente, transpõe oceanos, e como diz o ditado, move montanhas.
Texto e foto de Alex Steffen
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