quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

1104 - Navegação no arroio Cadeia

Barco com navegantes do Campestre de Conceição, pela década de 1930
Clique sobre a foto (duas vezes) para ver melhor e repare como era pequena e pouco valiosa a carga levada no barco: galinhas em engradados, aipim, frutas (laranjas, limões) e lenha
O arroio Cadeia é o principal afluente do rio Caí. Ele nasce perto de Santo Antônio da Patrulha e banha vários municípios, como Santa Maria do Herval, Picada Café, Presidente Lucena, São José do Hortêncio e Caí. Quando os colonos alemães vieram para o Rio Grande, a partir de 1924, uma parte deles ganhou terras em São José do Hortêncio. E ali foi formado um dos primeiros núcleos de colonização alemã no estado.
Entre os colonos vindos para Hortêncio estava Pedro Selbach, que provinha de uma família que se dedicava à navegação no rio Mosel, na Alemanha.
Seu filho, Jacó Felipe Selbach, ainda jovem, foi trabalhar na fazenda de Hortêncio Leite de Oliveira (fazendeiro do local, cujo nome está integrado, hoje, ao município de São José do Hortêncio. Seu trabalho lá era a fabricação de lanchões. E, como Jacó Felipe conhecia técnica mais avançadas de fabricação de barcos, trazidas da Alemanha, os lanchões que ele produzia foram muito úteis para a evolução do comércio entre a colônia de São José do Hortêncio (então denominada Picada dos Portugueses ou Picada do Hortêncio) e Porto Alegre.
Não era fácil navegar pelas águas rasas do Cadeia. Existem várias corredeiras no caminho, nas quais era preciso evitar o choque com as pedras. E há, principalmente, uma cachoeira alta, chamada Cachoeira Grande, que hoje situa-se perto da localidade de Campestre de Santa Terezinha.
Até ali, os colonos de Hortêncio levavam suas mercadorias em carroças ou no lombo de burros. Ou então faziam baldeação. Ou seja: usavam um barco para navegar de Hortêncio até a cachoeira e, ali, transpunham a carga para outro lanchão atracado já abaixo da cachoeira. Seguindo, então, para Porto Alegre. Era uma longa jornada.
Mais tarde, já na segunda metade do século passado, vapores passaram a navegar no rio Caí, indo até o Porto Maratá (no atual município de Pareci Novo) ou mesmo ao Caí, quando o rio estava mais alto devido às chuvas.
Então, os lanchões tomavam carona nos vapores, sendo puxados por eles rio abaixo ou rio acima. O que tornava a viagem mais rápida e menos sacrificada para os navegantes do Cadeia.
A situação melhorou ainda mais quando foi construída a Barragem Rio Branca. Situada pouco acima do Porto Maratá e abaixo da atual cidade de Pareci Novo. Concluída em 1906, a barragem garantia a navegação até o porto de São Sebastião do Caí, mesmo em épocas de estiagem, quando o rio estava muito baixo.
Mais do que isso: assim como a barragem elevava o nível do rio Caí, facilitando a navegação, elevava também o nível do Cadeia, que é seu afluente. As águas do Caí represavam as do Cadeia, fazendo com que o nível das águas no arroio também aumentasse.
Por isso, numa época em que ainda não haviam boas estradas e nem caminhões, a navegação no arroio Cadeia se desenvolveu.
Produtores rurais do atual Campestre da Conceição, até a década de 1930 ou 40, ainda levavam seus produtos para vender em Porto Alegre usando pequenas embarcações semelhantes aos lanchões que Jacó Felipe Selbach e seu pai fabricavam em Hortêncio no final da década de 1820.

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