Em 2010, finalmente, Hortêncio conseguiu sua ligação por asfalto para o resto do mundo (foto da ponte sobre o arroio Cadeia, batida pouco antes da conclusão da obra) |
Depois de São Leopoldo, que recebeu os primeiros imigrantes alemães, em 1824, São José do Hortêncio foi uma das primeiras localidades ocupadas pelas famílias de colonos vindos da Alemanha. O que aconteceu pelo ano de 1827.
Numa área vizinha à fazenda de Hortêncio Leite, o governo imperial brasileiro, abriu uma picada no meio do mato fechado, demarcou lotes à direita e à esquerda da picada e os doou aos pioneiros. O começo de vida para aqueles colonos era extremamente precário para aqueles pioneiros germânicos. O apoio do governo era pouco e os colonos muito ficaram gratos àquele fazendeiro luso chamado Hortêncio, que lhes prestou muitos favores. Tanto que a localidade que foi surgindo passou a chamar-se São José do Hortêncio.
Não havia estrada. Apenas a picada, tão estreita que por ela não passava uma carroça.
Outra dificuldade era o arroio, que quando enchia, criava enorme dificuldade na comunicação dos colonos com São Leopoldo, onde havia médico, armazém, polícia e outros recursos tão necessários àquelas famílias que se instalavam no meio do mato.
Não havia ponte nem barca e os colonos não conseguiam atravessar o arroio para se dirigir a São Leopoldo. Por isso ele ganhou o nome de Cadeia.
Com o tempo as coisas foram melhorando. Em trinta anos a localidade já contava com uma igreja e com a muito sonhada ponte, que tornou o acesso a São Leopoldo (e ao mundo) garantido.
São Leopoldo ficava ao sul. Ao norte, só havia mato. Aos poucos, no entanto, novas colônias foram sendo criadas, como a Linha Nova, a de Picada Cará (conhecida na época como Tabacksthal), a de Feliz, as de Bom Princípio e Nova Petrópolis. Os filhos pequenos, trazidos pelos primeiros imigrantes, cresceram, casaram e precisaram de terras suas para cultivar. Com a ajuda dos pais, eles compravam terras nestas novas localidades e lá iam construir as suas vidas.
Para todas essas colônias novas, o caminho até São Leopoldo passava por Hortêncio, o que fez a localidade tornar-se um importante polo comercial. Ali começou a nascer a imensa fortuna das famílias Trein e Mentz, que tiveram enorme importância para a economia gaúcha até meados do século XX.
Mas depois surgiu a navegação pelo rio Caí e as novas estradas da região passaram a ser construídas em direção ao porto de São Sebastião do Caí. Com isso a população de Hortêncio viu o Caí prosperar rapidamente, enquanto que ela empobrecia e perdia importância.
No meio do século passado os barcos foram substituídos pelos caminhões e foram construídas estradas modernas, muito melhores que as antigas picadas pelas quais nem carroça podia passar.
Nas décadas de 1950 e 1960 o asfalto passou pela região, ligando Porto Alegre a Caxias do Sul. Dois caminhos foram abertos e asfaltados: um deles a BR-116, que passou por Nova Petrópolis, outro a RS-122, que passou pelo Caí. E Hortêncio ficou à margem desses caminhos, permanecendo esquecido por muitas décadas. E o Hortêncio outrora próspero foi empobrecendo terrivelmente.
Com a emancipação, em 1988, e administrações municipais competentes (entre as melhores do Brasil), Hortêncio conseguiu progredir, apesar da sua condição de marginal e esquecido. Mas ainda faltava realizar o sonho de terminar com a cadeia do isolamento, da distância, dos caminhos de terra que, ao invés de aproximar, afastavam o município dos caminhos pelos quais passava o progresso.
Em 2010, finalmente, Hortêncio conseguiu realizar o seu sonho. Ou seria melhor dizer que conseguiu superar o seu pesadelo?
Neste ano foi construída a primeira ligação à sede municipal por asfalto. Ligando Hortêncio a Presidente Lucena, a estrada construída pelo governo estadual (governadora Yeda Crusius) possibilitou o acesso garantido e confortável até Ivoti e Novo Hamburgo.
E o ano de 2012 se abre com excelentes expectativas. Foi iniciada a obra de asfaltamento da estrada que liga Hortêncio ao Caí. Obra, do governo estadual (do governador Tarso Genro) com conclusão prometida para este mesmo ano de 2012 e que se destina a completar uma importantíssima ligação entre os vales do Sinos e do Caí.
Hortêncio, assim, supera o enorme problema que vem prejudicando o seu desenvolvimento há tanto tempo. E só conseguiu isso graças ao empenho e à competência política dos seus administradores e líderes.
O município volta a estar junto ao fluxo das riquezas, como estava há 150 anos atrás. Agora, tal como aconteceu então, muitas oportunidades surgirão e muito mais riqueza poderá ser gerada. E Hortêncio poderá voltar um papel importante na história, assim como teve naqueles anos gloriosos e difíceis da fase inicial de colonização.
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