quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

1703 - O senhor do tempo:Euthymio de Moraes

Seu Euthymio conta histórias de um tempo
que muito poucos conheceram
Existem, no Vale do Caí, algumas pessoas com idade muito avançada, com boa memória e entusiasmo pela vida. Elas são muito importantes, pois podem nos fazer grandes revelações sobre a história da região.
Um exemplo disso é Euthymio Alves de Moraes, que tem 96 anos e excelente memória. Ele se entusiasma por poder falar aos mais jovens sobre um mundo do qual ele é um dos poucos a ter conhecido: o Vale do Caí nas décadas de 1920, 30 e 40.
Seu Euthymio nasceu em 24 de fevereiro de 1917, na localidade de Rio Branco. Era filho de Manoel Joaquim Alves de Moraes, proprietário de vasta área de terras situadas na Várzea do Rio Branco, localidade próxima ao Caí.
Na década de 1920, seu Manoel comprou mais uma área de terras no atual bairro Rio Branco, lugar mais alto, "para escapar das enchentes". Essa propriedade incluía um armazém, situado no que é hoje o início da rua Adolfo Schenkel. A principal do bairro Rio Branco. O mesmo prédio do armazém contava com dependências para a residência da família, que passou a morar ali. Manoel Joaquim pretendeu, com isso, facilitar o estudo dos filhos, já que havia uma escola bem perto desse armazém. 
Na escola, a professora Theobaldina Rodrigues da Silva dava aulas em português, inclusive para os alunos de origem alemã. O menino Euthymio estudou até a quinta série do ensino fundamental, o que era muito para aquela época. A mãe de Euthymio cuidava do armazém apesar de ser analfabeta. Cabia ao menino auxiliá-la, fazendo as contas e as anotações necessárias.
Seu Euthymio poderia ter se dedicado ao comércio. Mas ele gostava mais de trabalhar na roça.  Quando chegou à idade adulta, foi servir o exército em São Leopoldo, no 3° Grupo do 2° Regimento de Artilharia Mista. Era a fase de transição da artilharia transportada por tração animal (Artilharia de Dorso, palavra que deriva do dorso, costas dos animais que transportavam peças de artilharia como canhões) para a artilharia motorizada. Seu Euthymio, foi treinado pare operar com os dois tipos de equipamento. No período em que ele esteve servindo no quartel de São Leopoldo, chegaram lá os primeiros veículos motorizados.
Ele foi para o quartel no ano de 1938 e deu baixa em 1939, quando tinha 22 anos.
Quando saiu do quartel, ele conseguiu emprego no órgão do governo estadual que cuidava da conservação e melhoria das vias navegáveis. Trabalhou por alguns anos no serviço de dragagem do rio Caí e também na operação da Barragem Rio Branco. Ele chegou a residir por alguns anos numa casa junto à barragem e lá conheceu sua esposa Maria Célia Teixeira de Moraes, filha de um outro trabalhador da barragem. Ela faleceu há pouco mais de um ano, com a idade de 89 anos e seu Euthymio sente muita falta da companheira de tantos anos. O casal era muito apegado.
Eles tiveram dez filhos: Flávia, Flávio, Fernando, Maria de Lurdes, Maria Regina, Maria Madalena, Maria Helena, João Luiz, Euthymio Moraes e Sérgio Adriano. Seu Euthymio tem 22 netos, 20 bisnetos e um trineto. 
Seu Euthymio gosta de contar suas lembranças, que ajudam a conhecer melhor a história do Caí e da região

FISCAL NA ESTRADA RIO BRANCO
O avô de seu Euthynio, que se chamava José Luiz Alves de Moraes, veio para a região para trabalhar como fiscal nas obras de construção e manutenção da antiga Estrada Rio Branco, que ligava o Caí a Caxias e Vacaria.  Como essa estrada tinha muitos trechos de várzea, era muito prejudicada pelas enchente e necessitava de permanente conservação.
Antigamente, os homens que não tinham condição de pagar impostos eram obrigados a prestar serviços ao governo executando trabalho braçal em obras, como a construção ou conservação de estradas. Eles trabalhavam com picaretas, pás, carrinhos de mão e carretas de boi. O fiscal era o funcionário do governo, que administrava a execução desses trabalhos.
Mais tarde, pela década de 1930, foi construída a estrada Júlio de Castilhos, que passava pelo atual bairro Rio Branco na encosta do morro, livre de enchentes. Perto do arroio Três Mares, a estrada dobrava à direita dirigindo-se à localidade de Vigia, depois Escadinhas e Feliz.

BOIS FERRADOS
Seu Euthymio Moraes, de 96 anos, conheceu bois ferrados (com ferraduras pregadas nos cascos), que eram usados nas viagens longas. 









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