Assim como Feliz, Nova Petrópolis foi uma colônia criada por iniciativa do governo imperial, na década de 1840 |
O Rio Grande aguardava ansioso um novo despertar.
A guerra fratricida havia interrompido os planos ambiciosos do Império Brasileiro. A imigração européia estancara por 10 anos! Os sonhos da imperatriz Dona Leopoldina de Habsburg haviam se mostrado viáveis, e um novo império, nos moldes europeus, começava a surgir na América.
A deficitária "Imperial Feitoria do Linho e Cânhamo" dava lugar à "Colônia de São Leopoldo" que, em pouco tempo, superava a todas as expectativas. Os imigrantes correspondiam ao que deles se esperava: as vilas e comunidades rurais prosperavam, as colônias floresciam em toda a parte e uma geração forte e decidida começava a se impor nas terras gaúchas.
A Revolução Farroupilha havia interrompido todo esse fluxo, mas a "Paz de Poncho Verde" oferecia ocasião para reativá-lo. Para tanto até as leis foram modificadas e as decisões descentralizadas. As províncias do Império foram autorizadas a implantar projetos de imigração e colonização.
Novos empreendimentos foram surgindo, e entre eles a "Colônia Provincial de Nova Petrópolis", criada em 7 de setembro de 1858, no extremo norte da "Colônia Alemã de São Leopoldo".
As terras em questão, pertencentes à encosta nordeste da serra gaúcha apresentavam-se bastante acidentadas, com vales profundos em alguns lugares e extensas várzeas em outros. As encostas íngremes contornando os planaltos e os morros de formas caprichosas lembravam a terra natal dos imigrantes. A densa cobertura vegetal da região, sua abundância em araucárias e outras madeiras de lei fazia antever a fertilidade do solo. Os rios Caí e Cadeia, servindo como vias de escoamento da produção, poderiam viabilizar economicamente a exploração e a produção agrícola.
Mas a encosta da serra gaúcha também tinha sua importância estratégica. Sua ocupação poderia integrar definitivamente as ricas "Vacarias de Cima da Serra" aos mercados da região metropolitana. Das estâncias serranas as grandes manadas seriam tropeadas através da nova colônia, e os comboios de muares, com suas bruacas carregadas com queijos serranos, maçãs e outros produtos locais, poderiam descer tranquilamente as encostas da Serra e encontrar mercados certos no sul.
A "Colônia Provincial de Nova Petrópolis" foi cuidadosamente planejada. Suas terras foram divididas em lotes, as "colônias", com aproximadamente 50 hectares, distribuídas ao longo de "Linhas" e "Picadas". Estas apresentavam um traçado especial de modo a favorecer a todos os lotes na qualidade das terras, aguadas, etc. De 10 em 10 quilômetros criaram-se pequenos núcleos coloniais cuja função era dar apoio ao "hinterland". No centro implantou-se o "Stadtplatz", a sede colonial, hoje cidade de Nova Petrópolis.
As indagações feitas quanto às origens do nome da Colônia levam à conclusão de que se tratava de uma homenagem ao jovem imperador D. Pedro II, cuja popularidade era muito grande naquela época. "Petrópolis = Cidade de Pedro" e "Nova Petrópolis" foi uma analogia à cidade imperial de "Petrópolis", no Rio de Janeiro, cuja topografia é semelhante à da nova colônia.
A tradição local refere-se a uma hipotética viagem de D. Pedro II à região e a seu deslumbramento pelas belezas das paisagens locais.
Os imigrantes que aqui chegaram, em sua imensa maioria, eram alemães, oriundos da Renânia (Hunsrück), da Pomerânia, Saxônia, Baviera, Prússia e Boêmia. Da Polônia, então pertencente à Rússia, veio um contingente; também da França e Holanda chegaram alguns imigrantes isolados.
Após 1875, italianos procedentes do Vêneto atravessaram o Rio Caí e fundaram a comunidade de Pedancino. Foi também tentado o estabelecimento de um grupo de irlandeses, procedentes dos Estados Unidos, de onde fugiram devido à Guerra da Secessão. Foram localizados na "Linha Marcondes", mas logo se dispersaram.
Somando-se aos estrangeiros, numerosas famílias "teuto-brasileiras" originárias das velhas colônias chegaram em busca de novas terras. Sua experiência foi de grande valia para a adaptação dos recém-chegados.
Os caminhos ou rotas seguidas pelos imigrantes para chegarem à nova colônia foram diversas: grande parte dos pioneiros navegavam até o "Porto dos Guimarães", hoje São Sebastião do Caí, de lá seguiam até a "Colônia Feliz", de onde subiam o morro até a Linha Nova (Neuschneis), ingressando na Linha Olinda. Esta rota tinha uma variante: de São Sebastião do Caí seguia-se até São José do Hortêncio (Portugieserschneis) e de lá até a Linha Nova.
Grande número de famílias também navegava até São Leopoldo e de lá seguia até Ivoti (Berghahnerschneis), continuando de lá até São José do Hortêncio, seguindo via Linha Nova para Nova Petrópolis.
De Ivoti alguns grupos, antes mesmo de 1858, ocuparam o vale do Rio Cadeia, chegando até Picada Holanda (Holland) e Picada Café (Kaffeeschneis). Essa ocupação foi somente legalizada posteriormente, pois havia sido iniciada em 1846.
Partindo de "Dois Irmãos" (Baumschneis) alguns grupos seguiram rumo ao norte, em busca das "Montanhas Azuis" (Blaue-Berge des Nordens) que exerciam grande fascínio sobre os imigrantes. Chegaram ao "Herval" (Teewald) e contornando os morros acabaram chegando ao Jammertal e Joaneta, subindo novamente as encostas rumo ao "Pinhal Alto" (Tannenwald).
Um grupo de pomeranos e mais algumas famílias procedentes de outras regiões ocuparam diretamente o vale do Rio Caí, estabelecendo-se em ambos os lados, até a foz dos Arroios Piaí e Pirajá, que foram ultrapassados. Ali, após 1875, ingressaram os italianos. As famílias boêmias, vindas após 1870, seguiram as pegadas dos seus antecessores e foram ocupando as terras que iam sendo abertas em Linha Imperial, Nove Colônias, Linha Brasil, Linha Araripe, etc. A Linha Marcondes constituiu-se no extremo nordeste da Colônia, e uma ampliação mais para cima da serra, requereria um novo projeto.
Durante muitos anos levas e levas de imigrantes foram chegando à "Colônia Provincial de Nova Petrópolis", carregados de sonhos e ilusões.
O isolamento dos primeiros tempos desviou muitas famílias para outras regiões, e as grandes dificuldades abateram o ânimo de muita gente que abandonou suas terras. A maioria, porém, ficou firme e venceu a todos os desafios, construindo neste recanto da Serra Gaúcha uma nova Pátria para si e para os seus filhos.
Texto extraído do livro "Contribuição para a história de Nova Petrópolis", produzido por Erica Hoffmann, Gessy Deppe, Irmgard Schuch, Ladi Senger, Renato Urbano Seibt e Wemo Wommer; e editado em 1988 pela Prefeitura Municipal de Nova Petrópolis
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