Existem muita coisa ruim no mundo mas, como diziam antigamente, "pior é a guerra". As guerras mataram milhões de pessoas, mutilaram outras tantas e liberaram homens cruéis para a prática dos crimes mais inomináveis.
O Vale do Caí, terra abençoada, nunca esteve envolvido numa guerra. Mas sofreu perdas na revolução Farroupilha, como já se viu nesse blog.
E, mesmo no século XX, houve um lamentável conflito que, se não resultou em perda de vidas, causou grande prejuízo material e cultural para os caienses.
A foto ao alto mostra um incêndio ocorrido no Caí, há quase cem anos.
Essa é uma história ainda mal explicada. Um assunto que foi considerado tabu na cidade, pois havia sempre o temor de que o ódio que levou um grupo de caienses a perpetrar tal destruição voltasse a se acender e novas perdas, inclusive de vidas, viesse a acontecer.
O prédio arruinado que se vê na foto está localizado onde hoje se encontra o inativo do Clube Aliança. Logo adiante dele se vê o prédio antigo da prefeitura. Mas só o da esquina, pois o segundo prédio da prefeitura (o da Secretaria da Fazenda) ainda não havia sido construído.
O prédio que vemos destruído nessa foto pertencia à principal sociedade caiense.
O livro Caí Monografia, de Alceu Masson, publicado em 1940, refere-se a ele como Sociedade Ginástica.
Helena Cornelius Fortes, no livro Reminiscências, publicado em 1975, dedicou um poema clube e o tratou pelo nome mais antigo: Turnhalle.
Como os demais poemas que compõem a obra, esse também é história em versos:
E outra entidade fundaram,
pra ginástica e recreação.
No lugar do Clube Aliança,
o novo Clube entrou em ação.
Sociedade Ginástica,
traduzido do alemão.
A historiadora refere-se ao clube que existiu no lugar onde, em 1975, funcionava o Clube Aliança.
A ginástica era feita
nas barras e nos cavalos:
as moças criavam músculos
e nas mãos criavam calos.
No trapézio e nas argolas,
tudo feito nos embalos.
O uniforme das ginastas
(era fogo, no verão)
uma saia bem pregueada
da cintura até o chão.
Por baixo daquilo tudo,
meia grossa e bombachão.
Caprichavam nos ensaios
pros toneios cada ano.
Bonitas, mas pareciam
lindas bruxinhas de pano.
Num torneio desses, hoje,
antrariam pelo cano.
Vale a pena ver um poster
que se acha na exposição
do grupo desses ginastas
do século passado em função,
formando enormes pirâmides
nos campos e no salão.
Em mil novecentos e quinze
comecei a fazer parte
das aulas, também das festas,
porque gostava do esporte.
A pratica de exercícios
desde a infância deixa forte.
Os sócios da velha Turnhalle
tinham quase por obrigação
incluir seus filhos às aulas
e davam toda aprovação.
Essa espécie de esporte
é culto do povo alemão.
Revela-se aqui qual era o antigo nome dessa sociedade: Turnhalle
Por muitos e muitos anos
em sua sede primeira
ofereceu a seus sócios,
esta sociedade pioneira,
uma festa em cada ano
marcante e prazeiteira.
De ginástica os festivais,
com torneios bem premiados,
disputavam bons ginastas
gentilmente convidados,
reunindo nessa terra
jovens de todo o Estado.
Senhor Kusminsky, o seu nome,
e russo de nascimento,
era o nosso professor
de muito entendimento.
Suas aulas de ginástica
não estão no esquecimento.
Sempre, ao terminar as aulas,
uma marcha bem batida:
links rechts-eins zwei-links rechts-eins-zwei.
Com pulmões cheios de vida
cantavam um hino bem próprio,
que a marchar sempre convida.
Wir wollen turnen oder sterben
Gutheil hurrá, gutheil hurrá.
(Fazer ginástica ou morrer)
Gutheil hurrá, gutheil hurrá.
Quem se conserva forte e são
a mente sã sempre terá.
Helena Cornelius Fortes, que quando jovem até praticou ginástica no velho clube, não fez nenhuma referência ao trágico incêndio que causou a destruição da antiga Turnhalle. Assim como não o fez Alceu Masson.
O incêndio da sociedade caiense ocorreu antes de 1930 (um ano a mais ou a menos), quando foi construído o segundo prédio da pefeitura (que não aparece na foto).
Manifestates antigermânicos promovem invasões, pilhagens e incêndios
em estabelecimentos germânicos
Foto disponibilizada na internet por PabloSane Hentz
Por muitos e muitos anos
em sua sede primeira
ofereceu a seus sócios,
esta sociedade pioneira,
uma festa em cada ano
marcante e prazeiteira.
De ginástica os festivais,
com torneios bem premiados,
disputavam bons ginastas
gentilmente convidados,
reunindo nessa terra
jovens de todo o Estado.
Senhor Kusminsky, o seu nome,
e russo de nascimento,
era o nosso professor
de muito entendimento.
Suas aulas de ginástica
não estão no esquecimento.
Sempre, ao terminar as aulas,
uma marcha bem batida:
links rechts-eins zwei-links rechts-eins-zwei.
Com pulmões cheios de vida
cantavam um hino bem próprio,
que a marchar sempre convida.
Wir wollen turnen oder sterben
Gutheil hurrá, gutheil hurrá.
(Fazer ginástica ou morrer)
Gutheil hurrá, gutheil hurrá.
Quem se conserva forte e são
a mente sã sempre terá.
Helena Cornelius Fortes, que quando jovem até praticou ginástica no velho clube, não fez nenhuma referência ao trágico incêndio que causou a destruição da antiga Turnhalle. Assim como não o fez Alceu Masson.
O incêndio da sociedade caiense ocorreu antes de 1930 (um ano a mais ou a menos), quando foi construído o segundo prédio da pefeitura (que não aparece na foto).
Manifestates antigermânicos promovem invasões, pilhagens e incêndios
em estabelecimentos germânicos
Na Wikipedia, encontra-se o seguinte texto a respeito de "Brasil na Primeira Guerra Mundial":
"O Brasil oficialmente declarou neutralidade em 4 de agosto de 1914.1 Desta forma, somente um navio brasileiro, o Rio Branco, foi afundado por um submarino alemão nos primeiros anos da guerra em 3 de maio de 1916, mas este estava em águas restritas, operando a serviço inglês e com a maior parte de sua tripulação sendo composta por noruegueses, de forma que, apesar da comoção nacional que o fato gerou, não poderia ser considerado como um ataque ilegal dos alemães.
No início da guerra, apesar de neutro, o Brasil enfrentava uma situação social e econômica complicada. A sua economia era basicamente fundamentada na exportação de apenas um produto agrícola, o café. Como este não era essencial, suas exportações (e as rendas alfandegárias, a principal fonte de recursos do governo) diminuíram com o conflito. Isto se acentuou mais com o bloqueio alemão e, depois, com a proibição à importação de café feita pela Inglaterra em 1917, que passou a considerar o espaço de carga nos navios necessário para produtos mais vitais, haja vista as grandes perdas causadas pelos afundamentos de navios mercantes pelos alemães.
As relações entre Brasil e o Império Alemão foram abaladas pela decisão alemã de autorizar seus submarinos a afundar qualquer navio que entrasse nas zonas de bloqueio. No dia 5 de abril de 1917 o vapor brasileiro Paraná, um dos maiores navios da marinha mercante (4.466 toneladas), carregado de café, navegando de acordo com as exigências feitas a países neutros, foitorpedeado por um submarino alemão a milhas do cabo Barfleur, na França, e três brasileiros foram mortos.
Manifestações populares[editar]
Quando a notícia do afundamento do vapor Paraná chegou ao Brasil poucos dias depois, eclodiram diversas manifestações populares nas capitais. O ministro de relações exteriores, Lauro Müller, de origem alemã e favorável à neutralidade na guerra, foi obrigado a renunciar. Em Porto Alegre, passeatas foram organizadas com milhares de pessoas. Inicialmente pacíficas, as manifestações passaram a atacar estabelecimentos comerciais de propriedades de alemães ou descendentes - o Hotel Schmidt , a Sociedade Germânia, o clube Turnebund e o jornal Deutsche Zeitung foram invadidos, pilhados e queimados.2
Em 1 de novembro uma multidão danificou casas, clubes e fábricas em Petrópolis, entre eles o restaurante Brahma(completamente destruído), a Gesellschaft Germania, a escola alemã, a empresa Arp, o Diário Alemão, entre outros3 .
Ao mesmo tempo, em outras capitais houve pequenos distúrbios. Novos episódios com violência só ocorreriam quando da declaração de guerra do Brasil à Alemanha em outubro.
Por outro lado, sindicalistas, pacifistas e anarquistas se colocavam contra a guerra e acusavam o governo de estar desviando a atenção dos problemas internos, entrando em choque por vezes com os grupos nacionalistas favoraveís a entrada do país no conflito. À greve geral de 1917, se seguiu violenta repressão que usou a declaração de guerra em outubro para declarar estado de sítio e perseguir opositores."
Fica, portanto, a questão:
Teria o incêndio da Turnhalle (antigo nome, alemão, do Clube Aliança) sido provocado por pessoas imbuídas de sentimento antigermânico na época da guerra?
Foto disponibilizada na internet por PabloSane Hentz
Nenhum comentário:
Postar um comentário