A Reichert foi a principal delas, com suas fábricas instaladas na Feliz, Bom Princípio e Vale Real.
A maior parte delas destinavam a sua produção à exportação e não resistiram à concorrência com empresas de empresas de países asiáticos.
Uma das únicas fábricas de calçados que resistiu à crise ocorrida nos anos em torno da virada do século (XX para XXI) foi a Kildare, com fábrica situada no Maratá. Esta empresa, que se dedicou sempre ao mercado nacional e criou uma marca de forte presença no mercado, continua sendo importante para a economia do município.
O artigo a seguir dá um idéia do que motivou a crise do setor calçadista que tanta influência teve na história econômica da região: ajudando no desenvolvimento (e gerando forte fluxo migratório) nas décadas de 1980 e 1990 e causando crise no início da década de 2000.
Crise que a maioria dos municípios da região conseguiram enfrentar com sucesso, criando novas alternativas para a sua sustentação econômica. As boas administrações municipais foram importantes para isso.
PORQUE A REICHERT CALÇADOS FECHOU?
22 de agosto de 2008
Paulo Afonso Pereira
Na ZH do último domingo, edição dinheiro, na pág. 3, o industrial Ernani Reuter, dono da Reichert Calçados, que foi uma das maiores empresas brasileiras exportadoras revela porque a empresa fechou, por que perdeu a competitividade nas exportações, segundo Reuter, o câmbio não era favorável já há bastante tempo, a empresa estava voltada exclusivamente para o mercado externo e que para voltar ao mercado nacional, seria muito difícil. Pena isto tudo ter acontecido com uma empresa que até pouco tempo era sinônimo de competência.
Na reportagem o Sr. Ernani fala ainda que a China e também a Índia contribuíram para que a empresa tomasse a decisão de fechar, pois estes países têm impostos e legislação diferentes da brasileira, afetaram com isto de forma retumbante o seu negócio o que contribuiu para a tomada da decisão de fechar.
Em um momento da entrevista, refere-se o presidente da Reichert;
“- Outras empresas boas estão se desenvolvendo, tem parte no mercado externo, mas o forte delas é o mercado interno.”
Concordo plenamente que os argumentos apresentados para o encerramento das atividades, foram e são as reais causas, não apenas para a indústria do calçado, mas uma ameaça para toda a cadeia produtiva do país.
Mas aqui inicio minha particular avaliação. No ano de 1995, eu dirigia o SENAI aqui no estado e juntamente com o Diretor do Centro Tecnológico do Couro, Hugo Srpinger, participei de uma feira de Couro e Calçado em Hong Kong e depois em companhia do jornalista Elmar Bones, que na época era Diretor Editor da Revista Amanhã, viajamos até Guangzou na China, com a intenção de conhecer o milagre do crescimento da industria chinesa de calçados.
Visitamos duas fábricas cujo regime de trabalho dispensa comentários por se tratar de fato de corriqueiro conhecimento, pois se a forma de produção era condenável, e ainda é, o resultado econômico não, pois representava a razão do aumento da riqueza, ou seja, produzir barato, a qualquer custo, e agredir mercados, ganhar dinheiro.
Da feira de Hong Kong, saí com a forte impressão de que os concorrentes do Brasil na área calçadista seriam a China a Índia e ainda o Paquistão, este como forte fornecedor de couros para o nascente mercado daqueles países. Tive também a convicção de que as empresas brasileiras para enfrentar esta concorrência teriam de mudar e muito, no que concordo com o Sr. Ernani, necessitaria também de mudança de atitude nas estratégias governamentais para este setor.
Mas a Reicher perdeu seus mercados, será que foram somente pelos fatores abordados acima e na entrevista a ZH, ou existem outros? Creio que sim, e explico minha visão.
A Reichert tinha capacidade de produção, tinha tecnologia, tinha recursos humanos capacitados, capital, mas não tinha MARCA, exportava, e muito, mas com MARCAS de terceiros, era na prática uma manufaturadora, que recebia pedidos e modelagens para fabricar calçados com marcas das empresas que dominavam o mercado externo, empresas estrangeiras, que vendiam suas MARCAS no mundo e desta forma se fortaleceram e dominaram mercados.
Quando da transferência da produção de calçados do Brasil para outros mercados, em especial a China, a empresa viu-se em dificuldades, o produto chinês passou a ser mais competitivo do que o brasileiro, e como o mercado só entende a linguagem do cifrão, os outrora clientes da industria brasileira migraram para fornecedor mais em conta, o famoso custo/benefício, a busca do melhor resultado.
Se a Reichert tivesse conquistado mercados impondo uma MARCA, creio que os desafios que teve de enfrentar seriam muito reduzidos, pois tanto no mercado externo como no mercado interno marca conhecida e preferida sobrepuja invariavelmente um preço mais barato.
Empresas que optaram por possuir marcas fortes, em momentos de troca de fornecedores permanecem com seus mercados, já as empresas que se dedicam meramente a fornecer nem sempre garantem contratos para continuarem produzindo. Se isto hoje acontece com o Brasil, principalmente no setor de calçados, poderá também acontecer num futuro com a própria China, para tanto é preciso que o Brasil restabeleça sua condição de exportador de calçados e de outros bens manufaturados. Devemos deixar de seremos meros exportadores de produtos primários e passar de vez a exportar produtos com maior valor agregado. Para que isto aconteça, basta o governo fazer seu dever de casa, como reformular suas políticas tributária, trabalhista, planejar uma política industrial exeqüível, trabalhar com seriedade, incentivar a inovação tecnológica, investir na inteligência das pessoas e talvez em alguns pontos mais, aí certamente estaremos à altura, ou lado a lado ou quem sabe em um patamar mais elevado que evitará que casos como o da Reichert Calçados e de outras tantas empresas que tiveram destino similar não volte acontecer.
Na reportagem o Sr. Ernani fala ainda que a China e também a Índia contribuíram para que a empresa tomasse a decisão de fechar, pois estes países têm impostos e legislação diferentes da brasileira, afetaram com isto de forma retumbante o seu negócio o que contribuiu para a tomada da decisão de fechar.
Em um momento da entrevista, refere-se o presidente da Reichert;
“- Outras empresas boas estão se desenvolvendo, tem parte no mercado externo, mas o forte delas é o mercado interno.”
Concordo plenamente que os argumentos apresentados para o encerramento das atividades, foram e são as reais causas, não apenas para a indústria do calçado, mas uma ameaça para toda a cadeia produtiva do país.
Mas aqui inicio minha particular avaliação. No ano de 1995, eu dirigia o SENAI aqui no estado e juntamente com o Diretor do Centro Tecnológico do Couro, Hugo Srpinger, participei de uma feira de Couro e Calçado em Hong Kong e depois em companhia do jornalista Elmar Bones, que na época era Diretor Editor da Revista Amanhã, viajamos até Guangzou na China, com a intenção de conhecer o milagre do crescimento da industria chinesa de calçados.
Visitamos duas fábricas cujo regime de trabalho dispensa comentários por se tratar de fato de corriqueiro conhecimento, pois se a forma de produção era condenável, e ainda é, o resultado econômico não, pois representava a razão do aumento da riqueza, ou seja, produzir barato, a qualquer custo, e agredir mercados, ganhar dinheiro.
Da feira de Hong Kong, saí com a forte impressão de que os concorrentes do Brasil na área calçadista seriam a China a Índia e ainda o Paquistão, este como forte fornecedor de couros para o nascente mercado daqueles países. Tive também a convicção de que as empresas brasileiras para enfrentar esta concorrência teriam de mudar e muito, no que concordo com o Sr. Ernani, necessitaria também de mudança de atitude nas estratégias governamentais para este setor.
Mas a Reicher perdeu seus mercados, será que foram somente pelos fatores abordados acima e na entrevista a ZH, ou existem outros? Creio que sim, e explico minha visão.
A Reichert tinha capacidade de produção, tinha tecnologia, tinha recursos humanos capacitados, capital, mas não tinha MARCA, exportava, e muito, mas com MARCAS de terceiros, era na prática uma manufaturadora, que recebia pedidos e modelagens para fabricar calçados com marcas das empresas que dominavam o mercado externo, empresas estrangeiras, que vendiam suas MARCAS no mundo e desta forma se fortaleceram e dominaram mercados.
Quando da transferência da produção de calçados do Brasil para outros mercados, em especial a China, a empresa viu-se em dificuldades, o produto chinês passou a ser mais competitivo do que o brasileiro, e como o mercado só entende a linguagem do cifrão, os outrora clientes da industria brasileira migraram para fornecedor mais em conta, o famoso custo/benefício, a busca do melhor resultado.
Se a Reichert tivesse conquistado mercados impondo uma MARCA, creio que os desafios que teve de enfrentar seriam muito reduzidos, pois tanto no mercado externo como no mercado interno marca conhecida e preferida sobrepuja invariavelmente um preço mais barato.
Empresas que optaram por possuir marcas fortes, em momentos de troca de fornecedores permanecem com seus mercados, já as empresas que se dedicam meramente a fornecer nem sempre garantem contratos para continuarem produzindo. Se isto hoje acontece com o Brasil, principalmente no setor de calçados, poderá também acontecer num futuro com a própria China, para tanto é preciso que o Brasil restabeleça sua condição de exportador de calçados e de outros bens manufaturados. Devemos deixar de seremos meros exportadores de produtos primários e passar de vez a exportar produtos com maior valor agregado. Para que isto aconteça, basta o governo fazer seu dever de casa, como reformular suas políticas tributária, trabalhista, planejar uma política industrial exeqüível, trabalhar com seriedade, incentivar a inovação tecnológica, investir na inteligência das pessoas e talvez em alguns pontos mais, aí certamente estaremos à altura, ou lado a lado ou quem sabe em um patamar mais elevado que evitará que casos como o da Reichert Calçados e de outras tantas empresas que tiveram destino similar não volte acontecer.
*Economista, Especialista em Marcas e Patentes
Nenhum comentário:
Postar um comentário