domingo, 2 de fevereiro de 2014

3620 - O suplício da escrava Jandira 3

No manhã do dia do seu suplício, Jandira ainda trabalhou normalmente,
com os demais escravos da  fazenda
No dia seguinte, lá pelo meio da tarde, foi a vez da preta Jandira ser punida. Ela trabalhou toda manhã, com os demais escravos, na preparação da fornada do dia. O enorme forno de cozimento estava ardendo em brasas, a boca media meia braça de largura, a porta de barro conjuminado, movia-se verticalmentepor um cambão feito de tronco seco de árvore.
Para espanto geral, o feitor Juvêncio mandou abrir a boca do forno e empurrou a negra Jandira para  que ela executasse a varredura do braseiro, que era puxado pelo espalhador até cair dentro da abertura do cinzeiro situado  na parte frontal, numa boca estreita com rampa inclinada para conduzir a brasa para um fosso de abafamento.
O feitor obrigava, com empurrões bruscos, a escrava Jandira a quase entrar pela boca do forno, enquanto ela ia se queimando com as terríveis baforadas calcinantes, que eram cuspidas a cada arrastão do enorme braseiro.
As roupas da preta pegaram  fogo, os braços e o rosto frigiram, os olhos olhos ficaram esbugalhados pela dor das queimaduras. Ela berrava, clamando por clemência no torpor do desespero. A barriga ficara exposta porque as roupas se extinguiram em chamas.

Texto extraído do livro Os Provisórios, de Duclece Pires

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