Adquirido o terreno, urgia aproveitá-lo, povoá-lo e instalar o seminário.
Chegaram a 12 de fevereiro os primeiros padres: o P. Carlos Teschauer, superior da
residência, o P. José Brehorst seria o cura das almas e o Ir. José Grünvogel cuidaria dos
serviços domésticos. Todos os três vieram de Montenegro, paróquia que os nossos
padres tinham entregado ao clero secular. Pouco tempo depois chegou o P. Francisco
Schleipen, encarregado de fazer do velho casarão da fazenda uma moradia habitável e
acomodada às exigências de internato.
Naquele mesmo ano o P. Carlos Teschauer foi mandado a Santa Cruz e entrou
no lugar de Superior da residência de Pareci, em 17 de abril, o P. Luiz Sarrazin.
Longo e árduo era sem dúvida o trabalho do P. Schleipen de arranjar a casa.
Antes de tudo era preciso matar os ratos, os bichos de pé e demais insetos que a
povoavam. Para isso foi necessário alagar os quartos por algum tempo. Depois
impunha-se abrir o açude da serraria, porque as lavadeiras da povoação vinham lavar aí
sua roupa.
Por muito tempo o bom padre não atinava com o modo de esvaziar o açude.
Consultou certo dia um negro que outrora trabalhara na fazenda. Disse-lhe este que no
interior do lago se encontrava uma abertura fechada por forte tampa. Extraído o tampão,
a água escoar-se-ia lentamente. Contente por ter encontrado a solução do problema, o
padre ajuntou logo algumas pessoas para à força arrancarem o tampão. Procuraram-no e
conseguiram amarrar-lhe grossa corda. Firmada esta, o padre contou 1... 2... 3... Os
empregados deram violento e vigoroso puxão e .... arrebentou-se a corda, mas a tampa
não saíra. Substituiu-se então a corda por forte corrente e afinal a estopa cedeu. Dias a
fio escoou-se a água até esvaziar-se o açude.
A 24 de junho de 1895, ingressou na casa o P. Afonso Behr que veio para
lecionar e dirigir os estudos. A 28 do mesmo mês chegou o prefeito dos seminaristas, o
Ir. Gustavo Lueck. Afinal, a 1º de julho, a casa esteve em condições de abrigar os
seminaristas de São Sebastião do Caí. Começou-se o ano escolar com 16 alunos.
Permitiu-se que os meninos da povoação do Pareci tomassem parte no ensino, mas por
boas razoes era-lhes vedado o trato com os internos. O P. Behr assumiu a regência do
curso, enquanto o Ir. Lueck lecionava algumas matérias preparatórias.
Em 30 de novembro do mesmo ano, o Superior do internato, P. Luiz Sarrazin,
foi nomeado Reitor do Ginásio Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo, e
entrou no cargo de Superior do seminário o P. Estevão Kiefer.
Nos inícios do ano escolar de 1896, o número dos alunos subiu a 27, divididos
em um curso preparatório e um de latim. Daí por diante aumentava de ano para ano o
número dos seminaristas e acrescentava-se anualmente um curso. Em 1904, o
seminário, além do curso preparatório, contava já com quatro cursos de latinidade,
humanidades e retórica. Mas com o aumento progressivo dos cursos impunha-se a
necessidade de reforçar o número de bons mestres.
Em 1898, foi transferido de São Leopoldo para o seminário de Pareci o P.
Martinho Heukamp que tomou a regência do último ano de latim. E quando em 1899 a
nossa Missão entregou a direção do Seminário Episcopal aos padres Lazaristas, o P.
João Batista Schwab, que até então lecionara teologia, foi transferido para o Pareci,
assumindo em 1900 o ensino de humanidades e retórica. Pelos mesmos anos o
professorado viu-se forçado pela chegada do P. João Batista Bruggmann que fizera a
Terceira Provação em Castres, na França, e que passou quase toda a sua vida de ~ 210 ~
atividade sacerdotal no Pareci. Pelo mesmo tempo chegou também o P. Agostinho
Haaser que igualmente passou no colégio do Pareci grande parte de sua vida apostólica.
Em 16 de outubro de 1892, o P. Theodor Amstad benzera a capela de São José
construída no barranco do rio pelos primitivos habitantes da povoação. No dia da
bênção, os pretos da fazenda levaram em festiva procissão da atafona à nova capela a
estátua de São Bento, seu padroeiro. A nova casa de Deus, porém, não tardou a ser
pequena devido ao grande aumento do povoado. À falta de espaço acrescia a posição
incômoda para os padres e os seminaristas. Por isso chegou-se ao plano de construir um
templo amplo mais próximo ao seminário.
E já quatro anos mais tarde, em 1896, ergueu-se nova capela com dimensões de
igreja junto ao seminário. Em 25 de abril, festa do Patrocínio de São José, orago da
igreja, o bispo diocesano, D. Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão, benzeu a nova
casa de Deus. No dia seguinte, procedeu o prelado à bênção do sino. O seminário podia
agora gloriar-se de possuir bela e espaçosa igreja que, para muitos anos, seria o templo
visitado pelo povo e pelos seminaristas.
Ao lado de sólida e esmerada formação literária e ascética cuidavam os
educadores com solicitude da saúde dos alunos. Para a conservação da saúde e também
para aliviar os gastos com que o seminário devia arcar, dedicavam os meninos
diariamente algum tempo aos trabalhos manuais na roça. Frutos destas fainas dos
seminaristas ainda hoje os temos, como o tanque de banho construído em 1896. Tais
trabalhos em conjunto concorrem sempre eficazmente para fomentar a solidariedade
entre os alunos. E de fato um cronista dos primeiros tempos do seminário acentua muito
a harmonia e o bom espírito que reinava entre rapazes de origens tão diversas.
No ano de 1907, havia 72 seminaristas, dos quais 40 eram de origem italiana, 25
teuto-brasileiros, 4 luso-brasileiros, 2 de origem polonesa e 1 de origem espanhola.
Vivia também entre eles um índio de 17 anos de idade que fora preso no estado de Santa
Catarina num assalto que os silvícolas fizeram aos brancos. O pequeno fora entregue ao
vigário geral de Florianópolis, F. Francisco Topp, seu padrinho de batismo. Educou-o e
pô-lo depois no seminário de Pareci.
O bugrezinho falava alemão na casa do vigário, nas aulas do seminário aprendeu
o português e assim, em pouco tempo, esqueceu o idioma indígena. Dotado de ótima
índole e inteligência, fez todo o curso ginasial. Reconhecendo, porém, que não tinha
vocação sacerdotal, abandonou os estudos eclesiásticos e foi à Europa para se formar
custeando-lhe o Governo os estudos. Atualmente é agrimensor do governo em Cruz
Alta, sempre fiel à prática dos deveres de bom católico.
Apesar de tanto florescer o seminário de Pareci, os superiores da Ordem, por
volta do ano de 1905, pensaram em fechá-lo e vendê-lo. Veio por aquele tempo o P.
Carlos Schäffer, Provincial da Alemanha Superior, fazer visita à nossa Missão, que
pertencia àquela Província. Chegou também ao seminário de Pareci e deu a entender aos
padres que estava decidido a mandar fechar aquele instituto. Sobressaltaram-se os
padres porque não viam motivo para tal determinação.
O P. João Batista Schwab apressou-se em escrever um memorial de oito páginas
em que expunha as múltiplas e sólidas razões contrárias ao fechamento do seminário. ~ 211 ~
Os outros padres propuseram oralmente suas opiniões em favor da conservação da
prometedora instituição. Por fim, bem ordenados os “pro” e os “contra”, também o P.
Schäffer não só concordou que se devia conservar aquela sementeira de futuros
sacerdotes, mas daí por diante auxiliou-a poderosamente.
Vencida esta crise, os padres do seminário trabalharam com ainda maior
entusiasmo. O número de alunos crescia de ano para ano e assim era preciso acrescentar
sempre novas classes. Mas os inconvenientes da acomodação na antiga casa da fazenda
eram tão grandes que exigiam melhoramentos. Tornava-se necessário novo domicílio
que melhor satisfizesse às exigências de um internato.
Começou-se a construir a nova casa em julho de 1900. O plano, traçado pelo
arquiteto porto-alegrense João Grünewald e modelado pelo Ginásio Nossa Senhora da
Conceição de São Leopoldo, foi otimamente executado pelo polonês José Frast. Pela
páscoa de 1901, concluiu-se a construção do novo edifício e nele instalaram-se os
padres, passando algumas salas a servir de estudo e de aulas para os seminaristas.
O fato de ser erigido em menos de um ano tão grande edifício prova cabalmente
que era absolutamente necessário mais espaço. No entanto, a falta de recursos não
permitiu que se levasse até o fim todo o plano da construção. Edificou-se por então só
uma ala paralela à estrada pública. Media esta 27 metros de comprimento, 10 de largura
e tinha um começo da ala central com mais ou menos 8 metros de comprimento e 11 de
largura. A altura do novo colégio, dividida em três andares, era de cerca de 14 metros.
Só 30 anos mais tarde reiniciou-se a construção do edifício, ou melhor, erigiu-se nova
casa cuja ala central se ligasse à ala central da antiga.
O lanço de 1900-1901 oferecia aos estudantes ótima acomodação e conforto.
Assim, o corpo docente pôde respirar aliviado e dedicar-se com todo o afinco à
formação dos candidatos ao clero secular e regular. Que não faltaram abundantes
bênçãos do céu na árdua tarefa atestam-no os muitos e zelosos sacerdotes que no
seminário de Pareci hauriram sua primeira formação intelectual e ascética. Muitos deles
ainda hoje se ufanam de terem estudado no seminário de Pareci.
Entre os mais conspícuos membros de nosso clero que no Pareci fizeram seus
primeiros estudos destacam-se: D. Luiz Scortegagna, bispo de Vitória e D. José Baréa,
bispo de Caxias. Além destes dois antístites: Mons. João Emílio Berwanger, Mons. João
Balen, Mons. João Antônio Peres, Mons. Leopoldo Neis, côn. Pedro Hillesheim, côn.
André Pedro Frank e outros mais.
PARECI NOVO – CASA DOS JESUÍTAS De 1895 a 1996, Padre Inácio Spohr, SJ
Vi as ruinas em que se encontram as antigas construções do seminário.O prédio principal com o telhado arruinado,as janelas batendo ao vento, as pinturas nas paredes do segundo andar ainda belas...a cupula da capela e ate mesmo oo velh tanque para os banhos....tudo abandonado!Uma pena!Pude imaginar pela grandeza da construção o quanto foi importante o seminário para a região e seu povo! Lamentável ,mas ainda belo na sua sina de abandono ..Na frente, bem no alto , acompanhada por um simbolo em forma de estrela ainda pude ler a data da instalação...1901!
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