Michaelsen (1995, p. 39) destaca a
importância que os soldados Brummers,
que aqui chegaram com um bom nível de
instrução trazido da Alemanha, tiveram
para a educação na região colonial. “Em
1872 Carl von Koseritz observou que
mais da metade dos professores das colô-
nias alemãs eram Brummer e foram eles
que educaram muitos teuto-brasileiros
que tiveram atuação destacada na vida
gaúcha, no período de 1872 até 1920.”
Entre esses mestres se destacam
Koseritz e Wichmann, em Pelotas; Michaelsen
e Oye, em Nova Petrópolis;
Roehe em Campo Bom; Jurgensen, em
Mundo Novo; Emílio Meyer, em Novo
Hamburgo, todas cidades do Rio Grande
do Sul.
Kreutz (2003, p. 163) cita o jornal
Deutsches Volsblatt, que em edição de 19
de janeiro de 1922 faz referência à formação
cultural dos Brummer, os quais,
além de dominarem diferentes línguas,
contribuíram substancialmente para o
associativismo, a difusão da imprensa
e a participação política, com ideias e
posições precisas sobre a organização
econômico-social e política, formando,
com isso, uma elite intelectual entre os
imigrantes alemães, os quais, ao se destacarem
nos concursos para professor estadual,
promoviam a melhoria do magistério
na época. Ainda conforme Kreutz:
Por volta de 1870, mais da metade dos
professores na colônia era Brummer.
No ano de 1853 casei e decidi fundar
minha escola, por conta própria. Inicialmente
tinha nove alunos e mais
tarde treze. Entre estes o futuro profeta
e médico milagroso J. Maurer, esposo
da famosa Jacobina. Consegui elevar
os meus rendimentos de 500 réis para
6.500 réis mensais. Naquele cargo privilegiado
acabei adquirindo um cavalo
por 12 Mil réis. Lamentavelmente o
pobre animal tinha um olho só e rengo
de uma perna.
João Jorge Maurer, citado por Costa
(2004, p. 115), relata:
Um colono analfabeto que um dia
afirmou ter ouvido vozes celestiais
que o aconselharam a curar seus semelhantes.
Ex-auxiliar de curandeiro
João Jorge se tornou famoso na região
como o “wunderdoktor” doutor maravilhoso.
Jacobina Maurer, sua mulher,
era acometida por crises de ausência,
sonambulismo e ataques do tipo epilé-
tico, sintomas associados na colônia à
capacidade de curar.
Essas curas levaram à formação de
um grande grupo de seguidores, composto
de mais de setessentas pessoas,
moradores no morro Ferrabrás, no atual
município de Sapiranga - RS, que passaram
a ser conhecidas como Muckers
ou, na memória local, um grupo de faná-
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REP - Revista Espaço Pedagógico, v. 16, n. 1, Passo Fundo, p. 71-84, jan./jun. 2009
78
ticos. Criaram uma espécie de comunidade
isolada e, em razão de uma forma
própria de viver, que não seguia o protestantismo
nem o catolicismo, religiões
nas quais a colônia alemã se dividia,
passaram a ser hostilizados pela população.
Esse grupo, em 1873, passou a
ser liderado por Jacobina, acabando por
serem mortos num combate que reuniu
colonos e soldados.
Continua a crônica de Frederico
Michaelsen:
No dia 1º de maio de 1854 assumi como
professor na Linha Hortêncio, conhecida
como “Picada dos Portugueses”.
Ali eu assinei um contrato por quatro
anos, recebendo a moradia e terras
para plantar, além disso um salário
fixo de dez Mil réis mensais.
Devia lecionar para todas as crianças
da comunidade cujo número oscilava
entre 30 e 40. Estas davam suas contribuições
mensais em moedinhas que
somavam 13, 14 ou 15 Mil réis.
Além das minhas tarefas como professor
estava ao meu encargo o serviço da
Igreja nos domingos quando o pastor
estivesse ausente. Este vinha de São
Leopoldo, cada três meses. Eu presidia
as devoções, fazia as leituras bíblicas e
a leitura dos sermões além de iniciar
os cânticos da comunidade. Por esse
trabalho recebia 20 Mil réis por ano e
de cada membro da comunidade uma
“quarta” de feijão preto7 e duas quartas
de milho, in natura. Renda extra:
numa festa de noivado recebi “uma
pataca”8
para fazer o discurso oficial,
além de ter o direito de comer e principalmente
beber à vontade! Mas a
minha bagagem espiritual! Levei vazia
para casa. (Michaelsen mencionou
“sacola espiritual” do que o leitor pode
deduzir que nada aprendeu de importante
naquela festa de modo e levá-la
vazia para casa).
No dia 1º de maio de 1858 este contrato
brilhante chegou ao final. Sua renovação
por mais quatro anos significou
um aumento de dois Mil réis mensais
de modo que passei a receber doze Mil
réis fixos, e anualmente de cada associado
o dobro em produtos agrícolas: 2
quartas de feijão preto e 4 quartas de
milho, mas tive que assumir o compromisso
de conseguir prédicas novas pois
as antigas estavam muito maçantes!
Naquele período aconteceu a fundação
de Nova Petrópolis (1858) e os imigrantes
que vinham da Pomerânea,
Saxônia e França ficavam retidos em
“Linha do Hortêncio”, pois não podiam
tomar posse imediatamente das suas
terras. Se os novos colonos tivessem algum
dinheiro eu teria feito bons negó-
cios, pois morriam em grande número,
principalmente as crianças, e como não
havia pastor no local o professor atendia
aquelas funções. Mas pela graça de
Deus todos aqueles foram entregues
à terra. (Nota: Frederico Michaelsen
presidia os enterros gratuitamente,
pois os colonos eram muito pobres).
MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR Luiz Alberto de Souza Marques
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