segunda-feira, 24 de agosto de 2009

344 - A venda da Frangosul segundo Heitor Müller

Heitor Müller, à esquerda, na inauguração da Cúria de Montenegro
Zero Hora publicou, na sua edição de 22 de março de 2009, importante reportagem sobre o Heitor Müller, a Frangosul e a avicultura brasileira.
"Quando os dois representantes do banco holandês Rabobank saíram da sala de reuniões, Heitor Müller sabia que estava diante de uma decisão que poderia mudar a sua vida. Na mesa, com o sócio Flávio Wallauer, ouvira uma proposta para abrir negociação de venda da empresa da qual era sócio-fundador, a Frangosul, para a multinacional Doux.

Aceitar significava, além de receber um bom dinheiro, abrir mão não apenas da companhia que ajudara a criar no final da década de 70, quando Wallauer usava um Fusca para transportar frangos que vendia no Mercado Público de Porto Alegre, mas também do prestígio de dirigir uma das maiores empresas do Estado – com 5,3 mil funcionários e 2,6 mil produtores integrados –, cada vez mais admirada na comunidade após patrocinar uma equipe de vôlei que chegou a vencer o campeonato nacional.

Logo que informado da proposta, Müller fez questão de dividi-la com a esposa, Nilsa. É com ela que até hoje, em casa, tomando mate, ele compartilha suas angústias profissionais. Poder repartir os sentimentos gerados no ambiente empresarial, seja com família ou com colegas, é um privilégio que nem todos têm, mas recomendado por especialistas.

Por isso, é comum, especialmente nos Estados Unidos, mas cada vez mais no Brasil, a formação de grupos de apoio entre empresários inspirados nos YPO (Young Presidents Organization), uma organização norte-americana com presença em mais de cem países que promove encontros para que líderes troquem experiências.

– Quanto mais solitária for a decisão, mais difícil será para o empresário, e mais sujeito a reações psicossomáticas, entre outras, ele estará – afirma o psiquiatra Theobaldo Thomaz.

Do primeiro encontro na Frangosul, em março de 1998, até a batida do martelo, passaram-se sete meses. Tempos de muitas reuniões com sócios e consultores. Mas também de bate-papos informais com diretores ao fim do expediente, às vezes no caminho entre o escritório e o estacionamento. Havia horas, no entanto, em que o melhor era ficar só.

– Você precisa de alguns momentos de reflexão. Nessa época eu me levantava e pensava: “Meu Deus, como é que eu vou enfrentar isso? A Frangosul continua, mas tem essa negociação paralela”. Às 6h, eu vestia um calção e ia nadar, ficar sozinho um pouco para me preparar física e psicologicamente para enfrentar o dia – lembra Müller.

O que também tornava a decisão difícil era o tamanho da empresa. Contando prestadores de serviços terceirizados, o empresário calcula que mais de 20 mil pessoas dependessem da Frangosul.

– O empresário é como um chefe de família, toma a decisão em nome de uma coletividade, essa é função social dele. Ainda que ele pense agir só pelo lucro, existem esses fatores muitas vezes ocultos que só aumentam o drama de consciência, o custo da decisão – analisa Thomaz.

Hoje, 11 anos após a venda da companhia para a Doux e à frente de negócios menores, o empresário diz não se arrepender de ter aceitado a oferta, junto com os demais acionistas, dos quais ainda é sócio. E, mesmo tendo passado por uma escolha deste porte, foi outra aparentemente bem menor que mais lhe deixou em dúvida.

– A decisão mais difícil foi bem antes. Eu tinha meu escritório de contabilidade, com 80 funcionários, o mais respeitado de Montenegro, status, aquela coisa. E era sócio da Frangosul. Uma dia eu tive de optar por um ou outro. E todos os amigos diziam: Heitor tu vais largar teu escritório para criar galinha, tu estás louco. Foi difícil, mas também foi engraçado.

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