terça-feira, 21 de junho de 2011

1201 - Novo livro de Felipe Braun

Na capa do livro, a cidade de São Leopoldo: vista do centro, do alto da torre da igreja católica. Destaca-se a torre da igreja evangélica

Memórias de Imigrantes Alemães e seus Descendentes no Sul do Brasil é o nome do novo livro lançado pelo jovem Felipe Braun. Um pesquisador de capacidade surpreendente que, com pouca idade, já fez um fantástico levantamento de dados sobre a colonização alemã no Rio Grande do Sul.
Inicialmente os esforços de Felipe foram mais voltados para o registro de fotografias da região colonial e para o Vale do Sinos, Felipe agora começa a trabalhar mais com textos e atentar para o Vale do Caí, como já se observa neste seu terceiro livro publicado.
Nessa publicação, Felipe Kuhn Braun traz biografias e memórias de imigrantes alemães e seus descendentes. O livro é fruto de nove anos de pesquisas e da compilação de cartas, diários, documentos, fotografias antigas e relatos dos alemães pioneiros.
As duas primeiras histórias escritas são as biografias de Anton Kieling e Mathias Mombach, dois ex-soldados de Napoleão Bonaparte, que foram perseguidos em sua pátria e que tiveram que fugir para o Brasil. Kieling emigrou com uma nobre cuja história ainda hoje é pouco conhecida. Mombach fundou Walachei (1), defendeu a localidade, lutou contra os revolucionários durante a Revolução Farroupilha e é considerado uma figura lendárias dos idos da imigração alemã no sul do Brasil.
Braun escreve também sobre Johann Naab, imigrante alemão nascido no sul da Rússia, cujo pai pediu que ele emigrasse depois que o Czar da Rússia obrigou todos os descendentes de alemães a servirem no exército, declarando na época que preferia perdê-lo para o mundo, que para uma guerra. No livro também está registrada a biografia de Henrique Harry Roehe, professor, violinista e líder da comunidade de Dois Irmãos.
Roehe era um Brummer. Pertencia ao grupo de militares que vieram para o Brasil para servirem ao Imperador em um conflito contra a Argentina. Junto com ele viria outro imigrante, cujas memórias biográficas foram transcritas na integra por Braun. Era Franz Adolph Jaeger que é o patriarca de uma conhecida família de professores do século XIX e início do século XX.
Felipe escreve o histórico dos Göllner, uma família alemã que foi dizimada pelos índios no ano de 1835, na localidade de Roseiral, interior do município de Linha Nova. Sobreviveram ao ataque, apenas a filha Helena, de oito anos, e sua irmã de um mês de vida.
Na publicação também está registrado o histórico de Jacob Kroeff Filho, empresário que teve muito sucesso nos negócios, retornou para a Alemanha e foi recebido pelo papa em Roma. Kroeff foi um dos empresários gaúchos mais poderosos do início do século XX, e foi o primeiro deputado a representar Novo Hamburgo na Assembléia Legislativa do Estado.
Braun também transcreve a carta do pastor Dietschi que, já em avançada idade, escreveu a seus filhos deixando conselhos e contanto suas memórias desde a infância, o início no seminário, a saúde frágil da juventude, sua cura e vivência como religioso no sul do Brasil. No livro está registrada a biografia de Karl Lanzer, o primeiro professor de português de Novo Hamburgo e de “Hannickel”, um imigrante alemão que não casou nem deixou descendência e que foi o braço direito dos primeiros padres, missionários jesuítas, estabelecidos no Rio Grande do Sul.
De forma integral, Braun traz em palavras atuais, o diário dos Hennemann, de Carlos Hennemann, um importante juiz de paz de Dois Irmãos, que viajou para a Alemanha no ano de 1906 a fim de fazer cirurgia de catarata, recurso que ainda não existia no Brasil. Seu filho, que foi político na localidade e acompanhou o pai, escreveu no diário, suas impressões e as do pai, sobre o Brasil e a Alemanha do início do século XX. Com pitorescos comentários sobre “os batedores de carteiras” as “bebedeiras na viagem” até entre pessoas respeitadas na comunidade, e sobre os “tumultos” na Alemanha. Além de uma série de impressões reveladoras dos costumes de sua terra.
De forma parcial, encontram-se na publicação os escritos de Hugo Metzler, um renomado jornalista suábio (do sul da Alemanha) que escolheu o Brasil como lar, mas que sempre defendeu sua pátria, sua religião e suas convicções. Por isso ele foi preso, maltratado e difamado, mas foi reconhecido, pelos imigrantes alemães de sua época, como um líder e porta-voz das comunidades no interior.
Braun também escreve sobre Guilherme Winter, o patriarca fundador de Bom Princípio, que aceitava em suas terras pessoas de diversas profissões e que exigia, de todos os recém chegados, que se dedicassem na formação intelectual dos filhos. Felipe também trás a história dos Lammel, descendentes de um empresário austríaco que, ao perder sua empresa na Boemia, decidiu emigrar para o Vale do Taquari.
A publicação também traz o diário de bordo de Guilherme Morsch, escrito desde a partida do rio Elba até a chegada ao Porto de Rio Grande.
O livro “Memórias de Imigrantes Alemães e seus Descendentes no sul do Brasil” é um importante trabalho de resgate e preservação das memórias de pioneiros que se dedicaram à construção do sul do país.
O livro também traz detalhes sobre a diversidade étnica e cultural dos imigrantes que aportaram no Brasil. Para ter uma idéia, apesar de todos falarem alemão, dos 15 imigrantes retratados, 1 era da Áustria, 1 da Suíça, 1 da Rússia, 2 eram de Luxemburgo e os outros 10 eram alemães, sendo que 1 era da Saxônia, 1 de Holstein, 1 da Suábia e os outros 7 do Hunsrück e de Hessen.
Apesar de manter uma continuidade nas pesquisas, Braun relata que seu terceiro livro tem muitas informações diferentes dos anteriores, apesar dessa publicação ter menos fotografias antigas, (45 ao todo, na primeira foram 140 e na segunda 203) há mais texto (190 páginas) e histórias escritas pelos próprios imigrantes.

1) Segundo a Wikipédia, Walachai (ou Walachei) é atualmente um distrito do município de Morro Reuter, no estado do Rio Grande do Sul.

Foi fundado pelo imigrante Mathias Mombach, proveniente de Echternach, em Luxemburgo. Mathias era guarda pessoal de Napoleão Bonaparte, um dos motivos pelo qual ganhou do imperador a Cruz de Ferro, maior condecoração que um soldado poderia receber em sua época. Mathias lutou na Rússia e na batalha de Waterloo. Após a derrota de Napoleão, veio para o Brasil com sua esposa e seus filhos, ajudando junto com Dr. Daniel Hillebrand a proteger a cidade de Dois Irmãos contra os revolucionários a favor da Revolução Farroupilha.
Mathias também defendeu a comunidade de Walachei dos constantes ataques dos bugres, motivo pelo qual foi apelidado de "general" pelos moradores da localidade.
Faleceu aos 93 anos deixando uma numerosa descendência no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.



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