terça-feira, 10 de abril de 2012

1347 - Frangosul paralizada

Mil funcionários foram dispensados 






Praticamente nenhum movimento na frente da Doux Frangosul ontem, terça-feira, indicava que a produção no frigorífico estava parada. Nenhum ônibus de funcionários parava e poucos caminhões no pátio. No estacionamento, veículos apenas de funcionários do setor administrativo. 

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação, João Marcelino da Rosa, as atividades estão suspensas no frigorífico desde quinta-feira, dia 5. "O primeiro, segundo e terceiro turnos foram dispensados. São cerca de mil trabalhadores que estão em casa e só no dia 30 de abril devem ser comunicados sobre o retorno", informa Marcelino. Ele cita que os salários dos funcionários estão em dia, mas estão todos apreensivos quanto aos seus empregos. Ainda terá de ser feita uma negociação para compensar os dias parados. "Provavelmente terão que trabalhar em feriados", acredita.

São cerca de 2.200 empregos diretos na Doux Frangosul em Montenegro. E mais os que trabalham no transporte, manutenção, vigilância e os milhares de produtores de frangos. A empresa é a maior do município e da região, sendo também a que mais contribui com impostos (ICMS). Em torno da indústria avícola gira a economia do município, incluindo também o comércio e serviços. São centenas de famílias que dependem deste setor. "Todos estão preocupados", diz Marcelino, citando que apenas o setor de embutidos e empanados retornou, mas com baixa produção. Em Passo Fundo o abate de frangos foi interrompido na última quarta-feira, dia 4, com a dispensa de cerca de 1.500 funcionários. Em Salvador do Sul o incubatório de frangos também está parado.

Negociação para venda
A crise envolvendo a Doux Frangosul tem sido destacada nos principais jornais do Estado. Na Zero Hora foi destacado na capa ontem com o título: “Divida alta. Doux suspende operações até concluir venda”. Já no Correio do Povo a manchete era “Doux negocia operações”. A reportagem do Fato Novo buscou contato, através de e-mail com a S2 Publicom, agência que presta assessoria de comunicação para a Doux. Foi informado que a direção da empresa deverá se pronunciar nesta quarta-feira.

Já havia sido noticiado que a Doux abriu seu capital, com a venda de ações na bolsa de valores, e que negociava a venda de todas as suas operações de abate de aves no Brasil. Também se especula que o grupo brasileiro JBS Friboi, considerado o maior do mundo em processamento de proteína animal, estaria assumindo o controle da Frangosul. Mas nenhuma das empresas envolvidas está se manifestando. O que é comentado é que a negociação estaria bastante adiantada, dependendo apenas de auditoria e definição de valores da compra. Conforme a matéria da Zero Hora, a expectativa é de uma definição nos próximos 30 dias, com a JBS comprando todas as operações de frangos da Doux e assumindo inclusive as dívidas com os produtores. Já a reportagem do Correio do Povo foi mais pessimista, citando que as negociações devem ser finalizadas em 90 dias.
Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetag), Elton Weber, a produção só será normalizada quando for confirmada a negociação. Uma carta de intenções já teria sido assinada entre Doux e JBS quando da presença do presidente mundial do grupo francês, Charles Doux, no Estado no mês passado. 

Já o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, em contato com a direção da Doux Frangosul, diz que a produção em Montenegro não parou, se mantendo na ordem de 20 a 30%. E que estaria sendo feito um levantamento por parte de um novo investidor visando definir a transação. “Estamos torcendo por um final feliz que seja bom para todos”, espera. 

Além de Montenegro, toda a região e o Estado aguardam o fim desta verdadeira “novela” que se arrasta por mais de três anos. Para o prefeito de Tupandi, Carlos Vanderley Kercher (Mano), a paralisação das atividades na Doux é, em primeiro momento, uma notícia ruim, contudo, como a situação estava indefinida era necessário fazer algo. 

“Por pelo menos um mês a situação estará indefinida, mas acreditamos que em breve uma nova empresa compre a Doux e assuma a parte que corresponda à criação de aves”, destacou, lembrando que Tupandi é um dos municípios com maior produção no Estado.

Aviários estão vazios
O frigorífico parou devido a falta de matéria-prima. Os produtores não estão mais alojando frangos em seus aviários porque não recebem desde agosto do ano passado. “Até agora não foi informado nenhum cronograma. Enquanto não sair pagamento não tem alojamento”, informou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Romeu Krug, citando que são cerca de 2.300 produtores integrados que estão deixando seus aviários vazios. Krug diz que alguns avicultores já estão migrando para outras empresas.

Caso os pagamentos comecem em seguida, Romeu diz que serão necessários no mínimo entre 35 a 40 dias para saírem os primeiros lotes. Portanto, só na metade de maio teria frangos para abate. A matéria-prima para o setor de empanados e embutidos estaria sendo buscada junto a unidades de outros grupos. As dívidas da Doux com produtores estão estimadas em R$ 50 milhões, com valores individuais que chegam a R$ 500 mil.

Só no setor de suínos a situação já estaria se normalizando. Após mais de meio ano de atraso, os cerca de 400 suinocultores integrados  começaram a receber a segunda e última parcela. Os pagamentos estariam sendo feitos pela Brasil Foods (BRF), grupo que resultou da fusão entre Sadia e Perdigão. Entretanto, não existe uma posição oficial da Doux e da BRF sobre a negociação envolvendo o frigorífico de suínos de Ana Rech (Caxias do Sul), pois o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) havia vetado a venda. Por isso o controle está ocorrendo apenas de forma supervisionada. E a unidade de perus da Doux em Caxias do Sul foi adquirida pela Marfrig em 2009. Mas restam ainda unidades de abate de frango da Doux em Montenegro, Caxias, Nova Bassano, Passo Fundo e Caarapó (Mato Grosso).

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