domingo, 22 de abril de 2012

1349 - A obra dos Irmãos Maristas no Brasil

110 anos de presença entre os gaúchos

Passados 110 anos, a Rede Marista compreende 21 escolas, uma universidade (PUCRS), um hospital (São Lucas) e 22 centros sociais. A motivação para o seguimento da Missão legada por São Marcelino Champagnat permanece a mesma desde o princípio: o desejo de transformar a realidade a partir do que há de melhor nos corações e nas mentes de pessoas comprometidas com os valores humano-cristãos.



Uma das paisagens maristas que melhor evidenciam o avanço do tempo:o Instituto Champagnat em 1924 e a Universidade em 2010




Há valores que mudam com o tempo; há outros que transformam o tempo. Celebrar os 110 anos de presença marista na região Sul significa reconhecer a relevância e vitalidade da obra fundada em Bom Princípio, no Rio Grande do Sul, pelos Irmãos Weibert, Marie Berthaire e Jean Dominici em 1900. É esse espírito celebrativo que pode ser visto na Campanha Institucional dos 110 anos de presença Marista no Sul do Brasil que estará sendo veiculada até o mês de agosto.
A missão, que teve início numa pequena escola paroquial, rapidamente produziu bons frutos. Já nos cinco primeiros anos novas fundações começaram a gerar um cenário promissor para a educação católica, fazendo surgir educandários que se tornariam referência no Estado. O crescimento da então chamada Província do Brasil Meridional, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, não era evidente apenas em número de obras, mas também em vocacionados para a vida religiosa marista. Quando do cinquentenário da Rede Marista, em 1950, a atuação dos Irmãos já se estendia a Santa Catarina, Paraná e Moçambique (África). Eram então 516 Irmãos atendendo 18 mil alunos em 37 escolas.
Ação inovadora 
A ação marista no Rio Grande do Sul foi inovadora sob diversos aspectos. A começar pela primeira aula, quando Ir. Weibert propôs que os alunos se dessem o abraço da amizade.Também o clima de amizade entre os educadores e seus alunos deveria ser a regra, o que era uma exceção no contexto da época. Outro aspecto fundamental era o preparo profissional dos Irmãos que, por serem europeus, vinham para o Brasil habilitados para a múltipla docência em áreas, como Cristologia, Mariologia, Moral, Filosofia, Línguas, Química, Física, Ciências Naturais, Matemática, Estudos Sociais, Desenho, Arte, Música e Pedagogia.
Ir. Weibert afirmava que o êxito das escolas dependia da atenção a três orientações do Padre Champagnat: amizade sincera entre professores, alunos e famílias; a seriedade dos estudos com aperfeiçoamento cultural, seu preparo técnico para o processo produtivo, e a profunda dimensão religiosa da vida de cada um. Esses três pilares continuam dando sustentação à tradição educativa marista, passados 110 anos. 
Passado e Futuro 
No contexto de uma instituição de caráter confessional, a preservação do patrimônio espiritual é o elemento chave da tradição; não a tradição no sentido de algo imutável e estático, mas de fidelidade às razões que justificaram o surgimento do Instituto Marista e à finalidade da própria missão. A tradição educativa Marista, é atualizada permanentemente com o passar dos tempos, sofre os efeitos das mudanças, mas também age de modo a transformar o tempo e o espaço, construindo o presente e o futuro.
Assim tem acontecido há 110 anos no Rio Grande do Sul, onde a ação Marista sempre foi criativa e esteve na vanguarda de muitos avanços educacionais e sociais. Hoje, a relevância do trabalho realizado pelos centros sociais e pela PUCRS, por exemplo, são evidências do empreendedorismo e da visão de futuro características da Instituição.
Para o Provincial, Ir. Inácio Etges, não temos apenas uma história para recordar e celebrar, mas uma história para construir. "Deixemo-nos conduzir pelo Espírito para tornar Jesus Cristo e Maria conhecidos e amados formando bons cristãos e cidadãos honrados. Com este olhar e horizonte, o futuro de nossa Província está em nossas mãos. Coragem e confiança total na Providência Divina que rege os passos de nossa história", conclui.
Maria Lúcia Machado, 17 anos, ex-aluna marista e hoje colaboradora da Assessoria de Pastoral da Rede Marista, percebe a obra marista como um ousado sonho que, com muita dedicação, tornou-se reflexo de ensino de qualidade, formação integral e boas vivências que os alunos levarão para sempre em suas vidas. "Se há muitos anos, com poucas condições, a Instituição conseguiu criar profundas raízes nestas terras, podemos crescer muito mais e não ter medo de sonhar, afinal, como diz o sábio, ‘minha sombra se projeta longe, porque o que me ilumina é grande’", completa Maria Lúcia.
Ao pensar sobre o futuro da obra marista, especialmente no Rio Grande do Sul, Ir. Alfredo Henz, 92 anos, destaca que, por vezes, os altos e baixos podem gerar algum tipo de temor nas pessoas. "Temor e desesperança podem existir, mas nenhum desses elementos me perturba; bem ao contrário, são novos modos de ser que se apresentam e temos que enfrentar para que haja renovação. O temor e a desesperança não produzem nada", conclui o Irmão que acompanha a história da Província desde 1928.
Era 2 de agosto de1900...  
...os Irmãos Maristas haviam recém -desembarcado no porto de Rio Grande e, depois de navegar rio acima até o município de Caí, esperavam na Casa Canônica, por uma condução até Bom Principio. Apareceu uma cavaleria composta de uns 200 homens em trajes festivos.
Na retaguarda dessa comitiva vinham algumas viaturas rústicas, típicas da região, conduzidas por gente mais jovem, para carregar os baús e demais pertences dos Irmãos, pois eles vinham "de mudança", trazendo o material que julgavam necessário para a fundação do "importante estabelecimento de ensino" num país que lhes era totalmente desconhecido, conforme declararam na alfândega de Rio Grande.
No mesmo dia, numa quinta-feira, depois do meio-dia, essa caravana se pôs a caminho de Bom Princípio. Os três Irmãos Weibert, Marie Berthaire e Jean Dominici iam na carreta, sob os olhares atentos de seus jovens guias. Pipocavam os foguetes, troavam os morteiros, ecoando pelas quebradas da serrania, anunciando por toda a parte que algo fora do comum estava acontecendo.
Os vigários das paróquias vizinhas e os representantes do Congresso os esperavam diante da igreja matriz, enquanto os professores, cantores e fiéis, formando procissão, foram ao encontro da comitiva. O encontro se deu nas margens do rio Caí, no Passo Selbach.
Entre cantos, música e foguetes, a procissão se transformou em marcha triunfal. Os três Irmãos não estavam acostumados com tanto tiroteio. Parecia-lhes mais uma revolução do que manifestação de apreço. Diziam: "Nossa Congregação nasceu na humildade e na pobreza; hoje estamos sendo recebidos como se fôssemos gente importante. O que diria o Fundador?".
Chegados diante da igreja, foram recebidos pelas autoridades e os "maiorais" da colônia. Feitas as saudações e formulados os votos de boas-vindas, o povo e os Irmãos entraram na igreja ao canto do Grosser Gott Wir Loben Dich (Deus eterno a Vós Louvor), o Te Deum em língua alemã. Ali, prostrados, em profundo silêncio e prece, renovaram sua consagração ao Sagrado Coração de Jesus e de Maria. 


Os pioneiros




Quando o Superior-Geral dos Irmãos Maristas, Ir. Teofânio, solicitou missionários entre Irmãos do Norte da França, muitos responderam positivamente. Foram então escolhidos Ir. Weibert, Ir. Jean-Dominici e Ir. Marie-Berthaire, que se tornariam os pioneiros da obra marista no Sul do Brasil.
Antes do embarque para o Brasil, os religiosos foram ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus e dedicaram-Lhe a obra que iriam fundar. Muitas décadas depois, Ir. Weibert assim se expressou: "Se eu me vangloriasse com o crescimento da Província, todos me chamariam de velho louco. Tudo é obra do Sagrado Coração de Jesus e de Maria. Eles têm feito tudo entre nós" .


Matéria extraída do site Maristas Sul



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