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Os caienses tratavam Samuca com respeito |
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Esta churrasqueira, na pracinha do bairro era a cama
em que Samuca dormia.
A enchente a cobriu totalmente e Samuca teve de se abrigar
na casa de parentes e amigos. |
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Adoentado, Samuca caminhava pela rua Saturnino da Silva, nestas condições, alagada. Acredita-se que ele sentiu-se mal, caiu, afogou-se e foi levado pela correnteza, passando pelo portão aberto. O corpo foi encontrado só quando a enchente baixou, neste mesmo pátio que aparece na foto. Ele tinha 48 anos. |
Samuca era uma das pessoas mais conhecidas da cidade.
Morreu cedo, aos 48 anos, afogado na grande enchente que atingiu o Caí neste início de semana.
Samuca tinha problemas mentais desde muito jovem. Mesmo assim, ele frequentou a escola e sabia ler e escrever. Há quem diga que ele era louco e, para sustentar o seu ponto de vista, lembram que ele queimou a casa que ganhou de herança.
Outros afirmam que ele não tinha nada de louco. O maior problema dele era a falta de disposição para trabalhar. Samuca seria, então, um malandro, que dava um jeito de viver sem precisar fazer essa coisa, o trabalho, que considerava uma coisa muito aborrecida.
Para ganhar o suficiente para a comida e a bebida (alcoólica), ele tinha uma solução: pedir dinheiro para os outros. Alguém lhe dava um real, outro lhe dava umas moedas e, assim, ele conseguia o suficiente para sobreviver.
Mas não vivia confortavelmente. Teve um tempo em que ele morou num galpãozinho que existe no cemitério. Noutras ocasiões, ele se acomodou em velhas casas abandonadas. Ultimamente (e já há um bom tempo) ele vinha morando na churrasqueira existente na pracinha do bairro Quilombo. A churrasqueira é coberta por um telhadinho, sem paredes laterais. Portanto, ele ficava muito exposto ao frio e até a chuva. Isso sem falar da enchente.
A pracinha, assim como boa parte do bairro Quilombo, é tomada pelas águas durante uma enchente como a que ocorreu no último domingo. E Samuca ficou sem o seu lugar para dormir.
Por isso, na noite de domingo ele foi até a associação de moradores pedir agasalhos e cobertas. Depois disso não se soube mais nada dele. As pessoas se preocuparam. Quem o viu na associação, disse que Samuca não parecia bem. Alguns acharam que podia ser devido à bebida. Outros informam que ele já apresentava sinais de doença e fraqueza há alguns dias.
O mistério do desaparecimento de Samuca só foi esclarecido na madrugada de quarta-feira, quando o seu corpo foi encontrado no pátio de uma casa abandonada, na rua Saturnino da Silva.
Tudo indica que ele tentou caminhar por aquela rua, já alagada, com a água batendo pela cintura ou pelo peito. Sentiu-se mal e desmaiou,.Afogou-se e o seu corpo foi levado, pela correnteza, até o pátio da casa em frente.
Para ganhar atenção, divertir as pessoas e, com isso, receber uns trocados, Samuca costumava fazer algumas artes. Vídeos seus, inclusive um no qual ele discursava pregando a liberação da maconha, foram colocados no You Tube, fazendo algum sucesso.
O corpo de Samuca foi levado para o Departamento Médico Legal, DML, e até a tarde de ontem não havia sido ainda liberado, por problemas na sua documentação de identidade. Houve problema, também, pelo fato do DML, em Novo Hamburgo, estar fechado devido à enchente.
No Quilombo, onde Samuca viveu a vida toda, as pessoas o tratavam com consideração e amizade. Ele tinha uma irmã e sobrinhos vivos, que desejavam enterrá-lo dignamente. Porém, como o seu corpo já está putrefato, o caixão virá lacrado e não deverá haver velório.
Matéria publicada no jornal Fato Novo, em 31 de agosto de 2013
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