domingo, 9 de fevereiro de 2014

3659 - Das histórias e dos palheiros

Dois fazendeiros do Pareci Velho, Conceição, Campestre e Campestrinho
lutaram na Guerra do Paraguai e defenderam a região na época da terrível
Revolução Federalista de 1893

O caiense Duclece Pires não é muito conhecido pelos seus conterrâneos. Em parte porque ele viveu a maior parte da sua vida fora da sua terra natal, principalmente na cidade de Bento Gonçalves.
Mas ele merece ser muito mais conhecido, pois escreveu um livro precioso para quem deseja conhecer, e entender, a história de São Sebastião do Caí, do Vale do Caí, do Rio Grande do Sul, do Brasil e da humanidade.
Duclece é o autor de um livro impressionante chamado Os Provisórios, que nos revela aspectos da história caiense que, se não fosse por ele, sequer imaginaríamos.
Os Provisórios é um livro que deve ser lido inteiro, mas recomenda-se que se comece pela página 37, na qual o autor nos apresenta o principal personagem do livro: o Capitão Thomé Pires Cerveira.
Ou, talvez, pela  página 41 em que ele apresenta o coautor da obra: seu pai Gabriel Pires. O homem que lhe transmitiu, verbalmente, a história dos Pires Cerveira. História que, felizmente, Duclece registrou no seu livro, ainda pouco conhecido, que mereceria ser lido por todos os caienses.
Gabriel costumava fumar cigarros palheiro. Um hábito que exige certa paciência do seu apreciador.
"... na varanda de nossa casa, sob a luz do lampião a querosene, a gente se reunia em torno da mesa grande, enquanto ele fazia os seus dez palheiros. Onze, na verdade, porque o primeiro ele consumia enquanto preparava os dez que representavam a cota do dia seguinte. 
Todos nós ficávamos muito atentos a ouvir o relato, pausado, de mais uma história fascinante do seu vasto repertório."
Gabriel selecionava e alisava as palhas de milho com grande perícia. O rolo de fumo era ele guardava numa lata fechada, para evitar o ressecamento e preservar o aroma. Depois ele picava o fumo e o enrolava com um bem preparado pedaço da palha de milho. Nesse processo de fabricação dos seus dez palheiros do dia seguinte, Gabriel levava duas horas, incluindo-se aí o tragar lento do palheiro que consumia durante a tarefa.
Esse trabalho todo, entretanto, não o impedia de falar e ele, então, contava histórias do passado. Especialmente as proezas realizadas por seus parentes e antepassados.
As histórias contadas por Gabriel Pires foram-lhe contadas, em grande parte, por Sebastião dos Pires, mais conhecido como Mulato Tião.  Ele era um ex-escravo que foi fiel escudeiro do Tenente Ernesto Pires e contava-se que se tratava de um filho bastardo de Ernesto com uma negrinha (jovem escrava) da fazenda.
Gabriel Pires era neto dos principais personagens das histórias narradas no livro Os Provisórios. E ouviu pessoalmente os relatos feitos pelo capitão Thomé Pires Cerveira: a figura mais central e decisiva dessa saga vivida no Vale do Caí e tão pouco conhecida pelos seus atuais  habitantes. Sabe-se, aqui, muito mais sobre a história do Velho Oeste dos Estados Unidos do que sobre as aventuras igualmente notáveis vividas por nossos antepassados. O que atesta a nossa "admirável" ignorância. O livro de Duclece Pires nos ajuda a minimizar essa lamentável deficiência cultural.



Um comentário:

  1. Os Provisórios eu li 3 vezes, mas não tenho o livro. Tomei emprestado e devolvi. Pretendo comprar assim que achar onde vende. Gostaria muito que o povo caiense conhecesse essa história .

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