sexta-feira, 8 de agosto de 2014

4630 - Rua Grande: a rua mais central do Vale do Caí

Na década de 1970, a cidade de São Leopoldo era o principal centro
comercial do Vale do Caí. A Rua Grande, onde havia maior concentração
de lojas, era uma passarela na qual os consumidores do Portão, Caí e outras
cidades do Vale do Caí percorriam em busca dos produtos que não
encontravam nas suas cidades
Nos anos setenta a cidade de São Leopoldo era muito gostosa de se viver. Foi a época em que a cidade deixou de viver como berço brasileiro da colonização alemã, para se transformar num respeitado centro comercial da região. Fervilhavam as repúblicas, casas de aluguel que abrigavam grupos de estudantes da faculdade Unisinos a recém criada, grupos de trabalhadores no Rossi fabricante de armas e na Gedore fabricante de ferramentas, e de tantas outras empresas em ascenção.
Nos sábados, a rua Grande era tomada por pessoas vindas de fora para fazer compras nas tantas lojas que fervilhavam de gente atrás de ofertas e novidades. Bons tempos da Emílio Müller, CR Schneider, Pernambucanas, Casa Mena, Mesbla, O Gramophone, Barbearia Central, Ferragem Feldmann, Casa do Lar, entre tantos outros, e bar Stalu's Chop que ficava na quadra acima do colégio Visconde de São Leopoldo e era o point das noites de sextas e sábados para as eternas caçadas e flertes. Este bar ficava já num calçadão que avançava até o meio da rua Grande a deixando em meia pista.
Naquela época, Novo Hamburgo, cidade vizinha, era a capital nacional do calçado. Inúmeras empresas se instalaram naquele município para fabricar calçados, bolsas e cintos de couro, aproveitando a fartura de mão-de-obra especializada no setor. Como era um ramo lucrativo, pessoas de cargos importantes nas empresas tinham salário abastado, podendo proporcionar uma vida boa à família. E as filhas destas pessoas, de carro zero tipo Chevette, Passat, Corcel, Brasília e tantos outros carros da época, enchiam estes carros de amigas e vinham a São Leopoldo passear nas sextas e sábados à noite, para conhecer os tantos rapazes que moravam e estudavam ou trabalhavam lá. E elas subiam a rua Grande e desciam a Primeiro de Março diversas vezes, para que fossem notadas.
Nosso passatempo era sentar no calçadão daquele bar Stalu's Chop o mais perto possível da meia pista para vermos as meninas de perto e também sermos notados. E quando um olhar rolava, elas achavam um estacionamento e vinham sentar conosco iniciando amizade. Tudo simples, natural.
Eu morava numa república com dois irmãos, mais dois rapazes que eram primos entre si, mais duas garotas, das quais uma era irmã de um dos rapazes e a outra era prima deles. A gente tinha um convívio razoável, mesmo em meio às desavenças normais de pessoas estranhas entre si, que estavam repartindo um espaço por força do aluguel.
Certa vez, meu irmão mais velho se desentendeu com um dos rapazes, o que tinha a irmã morando junto. Não lembro o motivo, mas certamente algo por causa da desorganização que aquela menina tinha, pois era muito sem ação. E os dois, meu irmão e ele pararam de se conversar. Só conviviam sob o mesmo teto.
Um dia, meu irmão chegou em casa de tardezinha, este rapaz estava sentado na frente de sua tv preto e branco, marca GE a válvulas, de 12 polegadas, olhando a programação, e o rapaz, sem tirar os olhos da TV disse para o meu irmão:
- Cortou o cabelo?
Meu irmão, achando bacana a atitude do rapaz voltar a conversar com ele, respondeu:
- É, cortei! Dá para se notar?
E o rapaz falou taxativo:
- Não, eu te vi no barbeiro!
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O proprietário da loja O Gramophone era o atual proprietário do jornal Fato Novo aqui em São Sebastião do Caí, Renato Klein. 


Texto de Pio Rambo, publicado na sua página de Facebook

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