domingo, 2 de agosto de 2015

5163 - Harmonia na década de 1970

A rua principal (e quase única) de Harmonia na década de 1970
A foto foi feita da torre da igreja e os dois prédios maiores são o do salão Fink 
e o da Sociedade




Vivi toda a minha infância e cresci em Harmonia, cidade que fica do lado do Caí. Quando eu era pequeno, a cidade ainda era vila, pertencia a Montenegro e a vida era muito simples e tranquila. No verão, dormíamos de janelas abertas para a brisa amainar o mormaço, já que na época ventiladores eram artigos de luxo, para poucos abastados.
Na vila, então, tinha uma estação rodoviária, onde os ônibus paravam para trocar passageiros e para ajustar o horário de acordo com seu itinerário. A rodoviária era administrada pela família Hilgert e destes tempos tenho maravilhosas lembranças. Carlos e Hilda sassaricavam o dia inteiro por dentro do enorme salão para atenderem devidamente a clientela. O atendimento de bar era feito numa ilha situada quase no meio do salão, o que dava um charme a mais, pois os clientes podiam circundar aquele espaço de balcões e, assim, cabiam muitas pessoas ali.
Dona Hilda ficava na cozinha preparando quitutes, frituras, almoços, enfim, o que a clientela pedia. A cozinha para a época já era moderna, pois todos podiam ver o movimento e o trabalho das cozinheiras e ter uma noção da higiene no preparo dos alimentos.
Fora o movimento dos passageiros dos ônibus, haviam diversas mesas espalhadas no salão, onde sentavam as pessoas da vila para um jogo de cartas, um traguinho entre amigos, namorados para ficarem mais pertinhos do que em casa, enfim, uma mistura de finalidades, que o lugar propiciava.
Chegou o dia em que o movimento ficou tão grande, que Carlos se obrigou a contratar um funcionário. Contratou meu irmão. E o trabalho fluía com ele correndo entre as mesas ajudando a servir todos com o máximo de ligeireza.
Carlos era uma pessoa metódica, tinha ideias próprias para muitas soluções de coisas que atrapalhavam as atividades, e assim chegou até a criar algumas máquinas. E, sendo assim, também tinha diversos conceitos e defendia muitas ideias. E ele não se poupava em falar ou repreender alguém quando visse esta pessoa fazendo algo de errado.
Certo domingo, de tardezinha, salão lotado de frequentadores, todos sendo atendidos na correria por Carlos e meu irmão. De repente, alguém chamou de uma mesa num canto. Meu irmão prontamente foi até lá, atendeu e foi até a ilha-bar preparar o pedido. Do lado dele, Carlos estava preparando outro pedido. Quando ele viu que meu irmão estava enchendo um copo tipo martelinho só de Underberg (licor amargo de ervas), que normalmente misturavam com cachaça, colocando só um golinho, ele perguntou:
- Clóvis, quem fez este pedido de Underberg puro?
Meu irmão mostrou o cliente que fizera o pedido. Carlos foi até ele junto com meu irmão e quando ele pôs o copo na frente do cliente, Carlos disse:
- Olha, sabia que este Underberg é muito forte para tomar puro?
O cliente respondeu:
- Não é tão forte assim. - Carlos, colocando a mão na cintura disse:
- Ele é tão forte tomado puro que tira todas as curvas de teus intestinos, e se facilitar, vai te fazer cagar o próprio rabo. Abre o olho!

Texto de Pio Rambo e foto do seu acervo

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