sexta-feira, 30 de julho de 2010

868 - Velhas estradas

Carroças tracionadas por mulas e mulas cargueiras eram os principais meios utilizados para o transporte de cargas até a década de 1940

A Estrada Velha entroncava com a Estrada da Vila Rica onde fica hoje a esquina da rua Omiro Ledur com a Avenida Osvaldo Aranha. Ponto que, tanto no passado como nos dias atuais, pode ser considerado o centro do bairro Vila Rica. As duas estradas não tinham pavimentação. Eram de chão batido e, nas primeiras décadas do século XX, as carroças ou carretas eram praticamente os únicos veículos que trafegavam por elas. Muitas carretas puxadas a boi ou a mula passavam por ali levando mercadorias como alfafa, lenha, galinhas vivas e ovos para o porto do rio Caí. A mula, como é um animal mais veloz e resistente, era usada para tracionar carroças em longos percursos. O boi, lento e pouco resistente, só era usado para puxar carretas em trajetos curtos. Hoje em dia só se usa carreta para trajetos curtos, o que tornou viável a opção pelo boi como animal de tração. E, como o boi tem a vantagem de ter a carne aproveitada para alimentação humana (mesmo depois de anos de vida dedicada ao trabalho de puxar carretas), os agricultores modernos o preferem ao invés das mulas. A mula tem a carne muito seca e dura. Costumava-se dizer, naquela época, que as mulas eram “magras como mulher de desfile”. Antigamente as carroças tracionadas por mulas eram mais comuns nas ruas do Caí do que as puxadas por bois.
As mercadorias transportadas pelas carretas daquela época se destinavam, basicamente, ao abastecimento da cidade de Porto Alegre. As galinhas eram transportadas em engradados de madeira, retangulares, medindo aproximadamente 1,20 metro por 2,00 metros. Cada um deles continha 18 a 20 galinhas. Três ou quatro engradados vinham amarrados por cima de outras mercadorias transportadas pelas carretas, como a lenha. Em carroças com outras cargas, como a alfafa, não era viável levar engradados de galinhas, pois as fezes dessas aves comprometeriam a qualidade da mercadoria.
As carretas eram puxadas por duas parelhas de mulas (cada uma composta por três mulas dispostas lado a lado) e mais uma, a sétima, na qual ia montado o carreteiro. Esta ficava atrás das demais, junto à carroça e o carreteiro se valia de rédeas e de um relho para guiar a carroça. Todas as mulas tinham freios (de metal) na boca. E uma corda amarrada a cada freio, sendo que a outra ponta da corda ficava nas mãos do carreteiro. Dessa forma ele conseguia controlar o andamento e a direção de cada uma delas. Fernando Hartmann, de Feliz, era um destes carroceiros que traziam principalmente fardos de alfafa, lenha e engradados de galinha.
O pai de Bernardo trabalhou na abertura da estrada Júlio de Castilhos (que passa pela Vigia e Escadinhas). Ele trabalhava com picareta no trecho que passa por Vigia. Esta estrada teve o mérito de permitir o trânsito mesmo em ocasiões de enchentes. O que não era possível na estrada que passava pelo Caí Velho e Bela Vista, costeando o rio. Pela Júlio de Castilhos se chegava à Feliz, onde já havia a ponte de ferro (construída no ano de 1900). Este foi o melhor caminho entre Porto Alegre e Caxias do Sul até que foi construída a estrada asfaltada passando por Nova Petrópolis.
Conta-se que na época em que era construída esta estrada, engenheiros do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER) tomavam banho no Arroio Cadeia e um deles estava se afogando. Foi salvo por um jovem da localidade de Angico chamado Adão Nunes. Com isso, ele ganhou emprego no DAER e acabou se destacando como um importante mestre de obras.

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