sábado, 31 de julho de 2010

870 - O vinho dos italianos passava por aqui

Mulas eram usadas para levar a produção da colônia italiana até os portos do Caí e Montenegro

No site da Prefeitura de Bento Gonçaves, encontramos este texto que contém informações relevantes para a história do Vale do Cai.
"A viticultura tornou-se expressiva com a introdução de uvas americanas, particularmente a Isabel. Por onde se expandia, por exuberância, resistência e produtividade, a Isabel ia desestimulando e substituindo os poucos vinhedos de viníferas européias que ainda existiam. Foi entre os anos de 1839 e 1842 que a uva americana - principalmente a Isabel - foi introduzida no Rio Grande do Sul. Teria sido o cidadão gaúcho Marques Lisboa a remeter os bacelos dessa variedade, de Washington, ao comerciante Thomas Messiter, que com eles plantou os primeiros vinhedos na Ilha dos Marinheiros, tornando-se assim o iniciador do cultivo da uva Isabel no Estado."
"O cultivo da videira Isabel tomou expressão acentuada após a chegada dos imigrantes italianos aos altos da Serra, a partir de 1875. No início, cultivavam apenas para o consumo da família. Por volta de 1890 o êxito dessa variedade era tão surpreendente que os colonos iniciaram a comercialização do vinho Isabel para a capital do Estado e outras cidades. O transporte era feito em lombo de burro, alojado em dois barris de 40 litros cada, colocados um de cada lado do animal. As filas de 10 ou 12 animais percorriam a distância entre a propriedade rural até os pequenos núcleos ou povoados onde havia uma casa de comércio ou armazém colonial. O colono negociava seus produtos por troca. Trocava o vinho (além dos demais produtos rurais como: queijo, porcos, feijão, trigo, etc.) por café, açúcar, tecidos, querosene e ferramentas agrícolas. Quando chegava à casa do negociante, o vinho era transferido do barril em que vinha sendo transportado no lombo do burro para uma pipa. O barril em que era transportado tinha formato próprio e adequado à viagem e deveria retornar ao produtor. Não raro o vinho encontrava-se em condições sanitárias deficientes devido à precariedade de condições de produção e transporte."
"Do negociante até os centros de consumo locais – Porto Alegre, São Sebastião do Caí, Montenegro, São Leopoldo – o vinho era transportado, às vezes, em carretões puxados por mulas, que enfrentavam os precários caminhos e intempéries por dias a fio para chegar ao destino. Daí surge a figura épica do carreteiro que conduzia as duplas de animais puxando enormes e pesadas carretas percorrendo a íngreme serra gaúcha, que tão bem identifica a origem da colonização de Bento Gonçalves e cidades vizinhas. Outras vezes o vinho era transportado em lombo de burros, formando longas filas de animais até o destino. Para Porto Alegre, tem-se notícias de que os primeiros embarques ocorreram em 1884."
"A partir do momento em que se iniciou o comércio do vinho surgiu a figura do tanoeiro, o construtor dos barris. Além de bastante habilidade, o tanoeiro também devia apresentar muita força física. Gradativamente as tanoarias se multiplicaram para comportar a produção e o comércio do vinho. A abertura de estradas tem franca expansão na primeira década de 1900. Em 1908 surge a estrada Buarque de Macedo, uma importante ligação entre Montenegro e Lagoa Vermelha, passando por Garibaldi, Bento Gonçalves, Alfredo Chaves (Veranópolis) e Nova Prata. Muitos quilômetros de estradas municipais também foram abertos nessa época em toda a região. Entre 1900 e 1910 inicia o transportes em carretas entre as regiões de consumo. Em 1898 acontece a primeira grande expedição de comercialização e transporte do vinho gaúcho em direção aos mercados do centro do país. Antônio Pierucini, agricultor natural de Luca (Itália) empreende a grande aventura de conduzir o carregamento do vinho da serra em lombos de burros até São Simão, interior de São Paulo. Dois anos depois, Abramo Éberle, natural de Vicenza (Itália) arrisca-se na longa viagem e chega com o primeiro carregamento de vinho à capital paulista. Ambos conseguem vender todo o lote. Desta forma, iniciou-se uma nova fase no progresso da colônia italiana, que passaria a fornecer vinhos aos outros Estados. A vitivinicultura tomou grande impulso com a ligação ferroviária de Montenegro a Caxias do Sul, concluída em 1910. A área plantada foi expandida e a produção de vinho foi elevada, seguindo de trem até Porto Alegre."

Fonte: Historiadora Assunta De Paris – Arquivo Histórico Municipal



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