domingo, 17 de outubro de 2010

997 - Versão de um integralista

Os integralistas costumavam promover desfiles (paradas) para propagar as suas idéias. No Caí, uma delas acabou em tragédia


No ano de 1935 aconteceu um conflito politico de rara violência, nas ruas centrais do Caí. Um tiroteio que resultou em várias mortes.
Reproduzimos aqui um depoimento sobre o fato, que foi prestado pelo líder integralista Emílio Otto Kaminski, publicado no livro Velhos Integralistas. Tenha-se em mente, portanto, que se trata de uma visão facciosa e tome-se as devidas cautelas. Mesmo assim, o depoimento traz algumas informações importantes, principalmente a respeito do clima de conflito existente na época e a discriminação que ocorria, inclusive, entre caienses de origem alemã e de origem portuguesa. Fatos graves, como este conflito, serviram para acirrar os ânimos e gerar divisão entre os caienses de diferentes origens.
"O conflito em Caí foi com o governo da época. O prefeito de Caí era Athos de Moraes Fortes. Nós até brincávamos, dizíamos: Atos de farás mortos, porque ele fez mortes. Ele era totalmente contra o integralismo, que era um movimento legal. Quer dizer, ele estava fora da lei quado perseguia os integralstas. Mas, na época, a gente ainda não tinha muito poder. Então os integralistas de Porto Alegre, de Caxias, de Campo Bom, de São Leopoldo, resolveram mostrar sua solidariedade aos integralistas do Caí, e fizeram então aquela chamada concentração, em 1935, para demonstrar a força do integralismo no estado, para ver se com esse prestigiamento dos companheiros de Caí, o prefeito deixasse de persegui-los. Ele vivia perseguindo os integralistas lá. E ele até desapareceu nesse dia que nós fizemos uma parada lá. Então, o prefeito se foi embora, saiu. Mas deixou ordem para o pessoal atacar os integralistas. E o interessante foi o seguinte: nós achávamos, "bom, não vai acontecer nada, terminou tudo". Aí que houve, começaram alguns soldados, jagunços, começaram a implicar com os integralistas que estavam, principalmente quando estavam meio isolados, não fosse um grupo grande, principalmente os verdes de lá."
Obsrevações:
Verdes eram os integralistas, conhecidos como camisas verdes, devido ao uniforme que sempre usavam em suas paradas (desfiles pelas ruas centrais das cidades, em formação militar). O integralismo, apesar do seu caráter adulto, político e um tanto agressivo, tinha uma certa inspiração no movimento escoteiro, que era muito forte na colônia alemã.
É preciso ressaltar, mais uma vez, que esta é uma visão tendenciosa dos fatos ocorridos em 1935. Athos de Moraes Fortes foi um importante líder caiense (ver, nesse blog, 530 - Vultos políticos da região). Foi pessoa digna e respeitada na comunidade, assim como seus descendentes.
Observe-se que resultaram mortos no conflito três quardas municipais e um integralista (José Luis Schroeder, de São Leopoldo, considerado mártir pelo movimento integralista.
Veja mais sobre o conflito nas postagens 291, 290, 289 e 288 desse blog.
Ainda no livro Velhos Integralistas, consta a resposta de Emílio Otto Kaminski à pergunta "Esse tipo de reação do governo estava acontecendo no resto do país?"
"Não assim generalizado, mas houve lugares onde era mais acentuado. O governo estadual nunca se manifestou hostil. E também no Rio Grande do Sul não foram muitos lugares. O Caí foi praticamente uma excessão. Em outras cidades não houve. Cada um tinha o seu ponto de vista, mas aí ficou na troca de pontos de vista, mas não uma troca de brutalidades, como nesse caso aí."

Um comentário:

  1. Muito interessante este depoimento, já tive acesso a este livro. A propósito, o Integralsimo, como fruto de uma época, tinha inspiração não nos movimentos escotistas, mas sim em manifestaçoes totalitárias como o facismo italiano e o nazismo alemão, visível em seu caráter militarista, manifestaçoes grandiosas e toda uma simbologia própria.

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