Leopoldina Kandler com o vestido preto, no dia do seu casamento com José Kuhn, em 1914
Um dos muitos assuntos interessantes abordados por Felipe Kuhn no seu novo livro (Memórias do Povo Alemão no Rio Grande do Sul), é o das noivas de preto.
Quem vasculha antigas fotos de família (coisa que ele faz como ninguém) se depara com muitas fotos de casamento. Afinal, nos tempos antigos, quando todos eram muito pobres e a teconologia era pouca, as pessoas raramente tiravam fotos. Muitas morreram sem nunca haverem sido fotografadas.
Mas uma das raras ocasiões em que as pessoas eram fotografadas (ao menos aquelas que tinham um certo poder aquisitivo) era o seu casamento. Normalmente, uma ou duas fotos, apenas, eram batidas nesta ocasião.
Outros tempos.
Mas quem, como Felipe Kuhn, vasculha muitas fotos antigas, de vez em quando se depara com um fato intrigante: os vestidos de algumas noivas eram pretos.
No seu livro, ele estampa várias fotos de casamento com essa peculiaridade e proporciona informações interessantes sobre o assunto:
Até o início do século XX, era comum moças de origem alemã casarem com vestido preto. Em Nova Petrópolis isso aconteceu até o começo da década de 1930.
Muitas pessoas acreditam que a razão disso era econômica. Já na Alemanha as ancestrais dos nossos colonos casavam assim, pois um vestido preto poderia ser usado muitas vezes, depois do casamento. Já o branco, por sujar fácil, era difícil de ser muito aproveitado no futuro.
Kuhn afirma, porém, que a razão deste costume tem origens muito antigas. Na Idade Média (entre os anos 500 e 1400), a maioria das pessoas era empregada em terras de senhores feudais. Chamadas de vassalos, essas pessoas viviam, praticamente, como escravos dos nobres. E teria existido, principalmente no leste europeu, uma instituição chamada direito à primeira noite. Ou seja, o senhor feudal teria o direito de desvirginar a noiva, antes do casamento.
Por isso, as mulheres casavam de preto, numa espécie de luto ou protesto pela exigência dos senhores feudais. Um costume que se manteve, mesmo muto depois do témino do feudalismo.
Analisando estas interessantes informações do livro de Felipe Kuhn e conhecendo a extrema pobreza em que viviam os antigos colonos do Vale do Caí, nos parece mais razoável a hipótese da motivação econômica.
Na maioria das famílias, a idéia de gastar na confecção de um belo vestido, que seria usado somente um vez, pareceria absurda.
Neste quadro de Vasily Polenov, um ancião cumpre a obrigação de entregar suas filhas ao senhor feudal
Além do mais, matéria publicada na Whikipedia, diz que a real existência do direito da primeira noite não é comprovado. Fato ou lenda, o direito da primeira noite incendiou o imaginário das pessoas e inspirou um belo quadro do pintor russo Vasily Polenov, que produziu sua pintura no fim do século XIX e início do século XX.
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