Em meados do século XX, a região do Vale do Caí encontrava-se numa situação de atraso e estagnação. Algumas boas iniciativas foram tomadas e deram bons resultados. Economicamente, por exemplo, surgiram grandes empresas, como a Azaléia no Caí e a Reichert na Feliz. Mas assim como vieram, também se foram. Estes empreendimentos, embora importantes, não tinham raízes bem fixadas na região. Caso semelhante ocorreu com as fábricas Antarctica, na Feliz e em Montenegro, e várias empresas calçadistas que não resisistiram à concorrência chinesa e fecharam suas portas. Mesmo contribuindo para o progresso da região nas décadas de 1970 a 1990, elas não foram fundamentais. O progresso que proporcionaram não era sólido e duradouro.
Mesmo assim, a região do Vale do Caí se transformou e hoje é considerada uma das mais desenvolvidas do país. Tanto que ela foi apontada pela revista Veja, em grande reportagem, como sendo O Vale da Felicidade. Aqui temos os melhores índices de alfabetização, o melhor atendimento de saúde púbica e as melhores administrações municipais brasileiras.
Como pode uma região que, em 1950 havia ficado para trás e perdido importância relativa, conseguir avançar tanto? Muitos fatores contribuiram para isso. Inclusive o boom industrial proporcionado por empresas como a Reichert, Azaléia e Antarctica. Mas, certamente, ocorreram outras transformações, mais profundas e mais sólidas, que resultaram em mecanismos mais autônomos e duradouros de estruturação e desenvolvimento para a região, nos mais diversos aspectos: econômico, político, social e cultural.
O conhecimento acumulado da história da região nos levou à conclusão de que a iniciativa de alguns homens, talentosos e abnegados, teve fundamental importância para tornar a região desenvolvida e diferenciada do restante do país. E consideramos importante destacar essas pessoas, para que o seu exemplo seja estudado e sirva de modelo para que outros o sigam, semeando mais progresso para a região (e fora dela).
Muitos homens e mulheres deram contribuição importante para esse sucesso. mas são três os nomes que, na nossa avaliação, tiveram participação fundamental na recuperação e desenvolvimento do Vale do Caí:
Arno Carrrard, Hilário Junges e Heitor Müller.
Arno Carrard, nos anos de 1981 e 1982 empreendeu, com grande esforço particular, ousadia e capacidade, a emancipação de Bom Princípio. Uma tarefa difícil, pois as leis vigentes praticamente impediam novas emancipações. Vencida essa etapa, Carrard se empenhou numa cruzada, apoiando centenas de movimentos emancipacionistas no estado e, com especial empenho, no Vale do Caí. Surgiram daí as emancipações de Capela de Santana, Brochier, Maratá, Pareci Novo, São José do Sul, Harmonia, São José do Hortêncio, Tupandi, São Pedro da Serra, Barão, São Vendelino, Alto Feliz, Vale Real e Linha Nova. As emancipações deram mais eficiência à administração de nível municipal, contribuindo enormemente para o desenvolvimento dos ex-distritos emancipados. E esse desenvolvimento foi benéfico para a região toda, incluindo os antigos municípios sede: Montenegro, Caí, Feliz e Salvador do Sul.
Hílário Junges - Primeiro prefeito de Bom Princípio, Hilário implantou ali um modelo de administração municipal extraordinariamente bem sucedido. Em seis anos, a administração de Hilário transformou o antes pobre e esquecido distrito caiense num município plenamente estruturado e forte. O modelo foi baseado numa rígida contensão de gastos e combate ao empreguismo, que fez o gasto com pessoal ficar abaixo de 30 % no orçamento municipal. Com isso sobrava muito dinheiro para investimento e foi possível revolucionar a infraestrutura de estradas, eletrificação, telefonia; melhorar o atendimento à saúde e educação, além de dar incentivo à implantação de empresas e ao desenvolvimento do setor rural. Hilário compreendeu bem, e adotou na prática, a idéia de que é preciso primeiro fazer o bolo para depois distribuir as fatias. Ou seja: primeiro é necessário fortalecer a economia, fazê-la crescer e gerar mais renda, melhorando as condições de vida do povo e aumentando a receita de impostos para a prefeitura. Para a sorte de Bom Princípio, o governo de Hilário durou seis anos (1983 a 1988) e ele teve tempo de não só fazer o bolo crescer, como também de distribuir as fatias. O sucesso de Bom Princípio estimulou a emancipação de outros distritos na região e o seu modelo de administração foi copiado por outros prefeitos do Vale de Caí.
Depois, como prefeito de Tupandi, Hilário desenvolveu lá um plano estratégico de desenvolvimento baseado na implantação de aviários e pocilgas. O projeto foi tão bem conduzido e teve resultados tão espetaculares que, em apenas quinze anos, transformou o município, que passou de ser o mais pobre para ser o mais rico da região. Um desempenho que o credencia ao título de melhor prefeito do mundo. As lições de administração dadas por Hilário Junges foram aproveitadas por prefeitos da maioria dos novos muicípios da região. O que contribuiu muito para que esses municípios, antes pobres distritos, se tornassem prósperos municípios e a região seja vista hoje como a mais desenvolvida do país.
Heitor Müller - Ao contrário de Carrard e Hilário, cujas trajetórias são amplamente conhecidas e sobre os quais muita informação pode ser encontrada nesse blog, o papel desempenhado por Heitor Müller no desenvolvimento da região precisa ser melhor estudado. Como líder no processo de criação e desenvolvimento da Frangosul, ele teve papel fundamental na criação da maior riqueza da região, que é a produção de aves e suínos em regime de integração. A integração é um sistema de produção no qual uma empresa fornece os pintos ou leitões, e também a ração, para os produtores rurais, que constroem aviários e pocilgas e cuidam da criação dos animais. A empresa, que recebe a denominação de integradora, proporciona também a assistência técnica aos produtores rurais (denominados como integrados). Heitor Müller, juntamente com seu sócio Flávio Wallauer, começaram a Frangosul do zero e, quando a empresa foi vendida à Doux, em 1989, ela contava com 5.300 funcionários e 2.600 produtores integrados. Era uma empresa poderosa que, inclusive, patrocinava o time de vôlei que, com o nome da empresa, tornou-se campeão brasileiro. Depois de vender a Frangosul, Heitor desenvolveu a Agrogen, que produz pintos com recursos de genética altamente sofisticados e atua também como integradora e possui frigoríficos no Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Continua sendo destacado dirigente de entidades ligadas à avicultura e à indústria. É vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Fiergs, e candidato a presidente.
Mais informações sobre Heitor Müller nas postagens 343 e 344 desse blog.
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