segunda-feira, 7 de março de 2011

1142 - Uma costureira de mão cheia

Dalva Dietrich, em foto atual, nos seus bem conservados 83 anos
Dalva Dietrich foi a mais famosa costureira caiense da segunda metade do século XX. Nunca lhe faltou trabalho e nem disposição para ele. Dalva trabalhava na máquina de cinco da manhã até a meia-noite e atendia às encomendas da famílias mais ricas e prestigiadas da cidade. Famílias ricas das localidades vizinhas também a procuravam para fazer roupas, especialmente vestidos especiais. Quando acontecia um grande evento social (o Baile de Debutantes, por exemplo) ela não dava conta de atender aos pedidos de todas as suas clientes. 
Quando Patrícia Rücker (ex-primeira dama, esposa do prefeito Léo Klein) concorreu ao título de Mais Bela Comercíária do Rio Grande do Sul) - e venceu o concurso - foi dona Dalva que confeccionou o seu vestido.
Sem nunca haver feito curso de corte e costura, Dalva Dietrich destacou-se tanto na sua profissão devido aos seu esforço e dotes naturais.
Nascida Dalva Seibert, em 7 de novembro de 1927, ela tem hoje 83 anos e foi só há pouco tempo que ela deixou de costurar.
Seu pai, Henrique Guilherme Seibert, era dono de moinho na localidade de Vale Real. 
Foi carpinteiro, marceneiro e construtor. Era um homem inteligente e talentoso. Ele foi também músico, violinista, e foi ele que fabricou o seu instrumento. Tinha uma banda de música e ensinou muita gente a tocar este, e outros, instrumentos. Era ótimo cantor, destacando-se no coral da igreja local.
A vida era dura naquela época e Henrique, apesar dos seus muitos talentos e da sua seriedade no trabalho, não ganhava muito dinheiro e perdeu muito do que poderia ter ganho devido aos calotes que sofria de seus clientes. Entre as tarefas que cabia a um marceneiro do interir naquela época estava até a confecção de caixões de defuntos. 
Seu avô (?) Seibert, morava na localidade de Bananal, que fica próximo de Feliz, porém no outro lado do rio. Ele morreu no passo da Boa Esperança (na Feliz) quando tentava cruzar o rio montado a cavalo. O animal tropeçou e ele caiu, sendo levado pela correnteza do rio. Provavelmente, como acontecia muito naquela época, o rio estava um pouco cheio. Como não havia outro meio de atravessar, muitos cavaleiros se arriscavam na travessia, mesmo em condições não ideais. 
Dalva teve cinco irmãos: quatro meninos e uma menina. Seriam 17 se dois não houvessem morrido um dia após o parto e se não existisse o recurso da "raspagem", método abortivo aplicado por uma conceituada parteira da região.
Sua mãe Vilma Luísa Kayser, trabalhava muito. Quando o marido não estava, era ela que trabalhava no moinho. Os colonos levavam até lá o milho, para fazer farinha e farelo e o arroz, para descascar. Muitas vezes eram crianças que iam até o moinho, levando o milho ou o arroz em sacos, no lombo de um cavalo ou mula. Dona Vilma tinha, então, de tirar os sacos de cima da montaria, fazer a moagem e depois recolocar sobre o lombo da cavalgadura. Dona Vilma tinha também de lavar a roupa da família, no rio Caí. Ocasião que ela aproveitava para dar banho nos filhos pequenos. 
Dona Vilma tinha duas máquinas de costura: um herdada da sua mãe e outra de sua sogra. A melhor era a pedal, a outra funcionava graças a uma manivela movida a mão. Aos dez anos de idade, Dalva aprendeu a costurar, juntamente com a sua irmã Elda. Cabia a elas confeccionar as cuecas para os irmãos. Já naquela época, Dalva revelava o seu talento para a futura profissão de costureira (ou modista, como se denominava uma costureira qualificada, como ela). Enquanto as costuras feitas por Edna saíam tortas, as de Dalva eram retas. O que levou a sua mãe a dizer que Edna nunca poderia ser uma costureira, enquanto Dalva poderia ser um costureira "fina" (1). Coração de mãe não se engana.
Quando Dalva tinha 13 anos e sua irmã um ano a mais. Seu Henrique preocupou-se em encaminhá-las para trabalhar em Porto Alegre, onde teriam a possibilidade de uma vida melhor. Contava, para isso com a ajuda de Carlos Zimmermann, que era dono do Hotel Avenida, situado próximo à estação rodoviária de Porto Alegre. Ele era pessoa conhecida de Henrique devido às suas freqüentes viagens a Porto Alegre, onde ia fazer compras necessárias ao seu trabalho.
Como a esposa do hoteleiro era ecônoma da SOGIPA (Sociedade de Ginástica Porto Alegre), conseguiu lá emprego para Erna. Um ano depois, Dalva, com 13 anos, foi empregada no hotel. Depois de trabalhar ali por um ano, Dalva foi encaminhada para um outro emprego: o de doméstica, na casa do pastor Fritz Vaht. O que foi muito bom, pois o pastor e sua esposa a tratavam muito bem. Quieseram até adotá-la. O que não aconteceu devido à negativa de seu Henrique.
Em Porto Alegre, Dalva conheceu o caiense Amando Dietrich, com quem casou em 1951. Um ano depois eles se mudaram para o Caí. Dalva começou a costurar e, com o tempo, se projetou como grande modista, atendendo famílias ilustres da cidade, como a do Doutor Cassel e os Blauth, Leão, Trein e Rücker.


(1) - Expressão hoje menos utilizada, que identificava um produto ou profissional de qualidade. Dizia-se de um excelente produto que ele era fino (ou o fino). Por isso, também, o programa da TV Record que, nos anos 60, projetou Elis Regina e Jair Rodrigues chamava-se O Fino da Bossa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário