segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

1582 - Falando o Hunsrickisch


Apresentador e locutor de rádio, Pio Rambo nasceu em Harmonia
e só aprendeu a falar português aos sete anos de idade:
antes só falava o alemão colonial






























Pio Rambo é um homem de muitos talentos, que vão da música à eletrônica. Entre os seus muitos interesses, está o estudo do dialeto hunsrickisch. O alemão falado na região alemã de Hunsrick (no sudoeste do país), de onde veio a maioria dos colonos alemães estabelecidos no Rio Grande do Sul. Pio estuda o dialeto alemão falado na região colonial do Vale do Caí e outras áreas de colonização alemã no Brasil. Faz registros escritos e gravados em áudio, que servem para registrar esse fenômeno linguístico e a história da colonização alemã no Rio Grande do Sul.
Visando difundir o uso do dialeto, Pio Rambo criou um blog (ou site, como ele prefere dizer) denominado Lingua Alemã Hunsrickisch - Deutsche Hurnsrücker. Entre as muitas atrações do seu blog, estão estórias que ele recolhe no meio colonial e narra na linguagem dialetal. Além da importância linguística desse trabalho, ele também apresenta um retrato da vida do colono e do seu espírito. E faz isso, contando histórias saborosas. Além de histórias escritas, o blog contém também narrações e entrevistas gravadas, sempre no dialeto.
Para conhecer melhor o trabalho desenvolvido por Pio Rambo, acesse

http://hunsrickisch.blogspot.com.br/

Um exemplo:  


O Ruivo

Desde que o mundo gira, existem pessoas infiéis.Os seres humanos ainda viviam pelas cavernas, e já as mulheres traíam os maridos e os homens bobeavam as mulheres.
Ouve-se histórias sobre pessoas infiéis todos os dias. Muitas vezes resulta até em mortes. Sempre é difícil para quem é enganado. O ser humano, no casamento, não quer se repartir. Na colônia ainda é mais difícil que na cidade porque lá as pessoas se conhecem e assim que isto acontece, toda a comunidade fica sabendo.
Quando na traição uma criança é gerada, então o mundo está perdido. Quantos casamentos se desfizeram por causa de uma criança que foi gerada pela traição da mulher! Isto sempre está acontecendo por aí. As crianças sempre são parecidas com o pai ou com a mãe, ou misturadas. Mas sempre têm semelhanças com um dos dois.
Quando a criança não se parece com os dois, então a desconfiança aparece. E assim aconteceu uma vez em Arroio Verde, perto de Feliz. Era uma família: o homem o Pedro, a mulher, a Cecília e cinco filhos. Quatro morenos e um rúivo. Todos eram parecidos entre si. Mas o rúivo era bem difente dos outros.
O Pedro já desconfiava desde que o garoto nasceu de que ele não era seu filho, então ele perguntou:
 - Cecília - me diz a verdade - o pequeno rúivo com certeza é meu? Ela respondeu: - Sim, Pedro, por Deus do Céu! O rúivo com certeza é teu. Tu o deves amar como verdadeiro filho teu.
Mas o Pedro não tinha tanta certeza sobre o garotinho. Onde já se havia visto isto: os quatro primeiros filhos todos de cabelo preto, sem sardas no rosto e todos com um comportamento parecido.
O pequeno rúivo, completamente diferente, não se deixa mandar direito e ainda por cima, tem o rosto cheio de sardas. Algo que ninguém na família tem.
O tempo passou, as crianças cresceram e Pedro nunca aceitou plenamente que o rúivo fosse seu filho. Um dia, ele acabou no hospital e os médicos descobriram que ele era doente terminal.
Então ele mandou vir a família. Quando a esposa estava com ele, ele disse: - Cecília, pela última vez. Me diz a verdade. Estou morrendo e não gostaria de levar comigo essa dúvida. O rúivo é realmente meu filho?
- Então, Pedro, como não pode ser diferente, vou te dar a real: o rúivo com certeza é teu filho!
- Mas como? Como pode ele ser diferente dos meus outros filhos? - Falando sinceramente, o rúivo é teu filho e os outros quatro são filhos do vizinho! (qualquer semelhança é mera coincidência).

De Rothoa

Tsait di welt sich dreht giebt es únntrauiche lait. Di mensche honn noch in de hohle do rom gelebt, dan honn  chon di frólait de mann hinnagang und di menna honn chon di frólait fa de flabbes gehall.
Do heat ma iede tóoch fon únntrauiche lait chtekka. Fillmohls gieb es bis toote debai. Es is ima chweia fa de wo hinnagang gieb is. De mensch, in a hochtzait will sich net fatéele. In de coloni is es dann noch chlimma als wi in de chtadt, wall dort di lait sich all kenne, un so wi so was passiat is, dan gried di gans comunited es chon gewó.
Wenn in de hinnagangung dan en kent sich grind, dan is di wellt faloa. Wiefel hochtsaite sinn fagang weche en kint wo geboat gieb is mit en hinnagangung des fró! Es is ima do romm am passire. Dan sinn di khenna all éhnlich mit em fatta oda di mutta, oda famischt.
Awa, honn ima en éhnlichkhét mit énem fon de tswói. Wenn es kint dan net sich glaicht mit de tswói, dan is di unntrauung do. Un so is es mohl passiat in Grinbach, dicht an Feliss. Es wóod en familie, de mann de Pheda, di fróo di Tsília, un fennef khenna.
Fia chwatskepp un ene rothoa. Alles wóre es guri. Di fia chwatskepp wóre all éhnlich unnana. Awa de rothhoa wód gans annischta. De Pheda hot chon tsait das guriiche uf die welt komm is, net so órich getraut es weat sain. Do horra gefrod: - Tsília, sóo mea di wôachéd: is de klene rothoa sicha main?
Si Antwort: - Gewiss, Pheda! Im Gottes wille! De rothoa is sicha dain. Du sollst ea liebe als en echt kint fon dea. Awa de Pheda hat net so ene óriche palpit iwa das guriiche. Wonê het ma mo sôwas gesihn: di fia easchte khenna sin all chwatskepp, ohne sonneflekke im gesicht un honn all ene éhnliche comportament.
De klene rothoa, gans ánischta, lisst sich net richtich chikke un noch debai, hot es gesicht foll sonneflekke, etwas wo kene in de familie hot. Di tsait is fagang, di khenna sin gewakst, un Pheda hot imma net gut óngeholl das de rothoa saine jung weat.
Ene tóoch, is ea in es kranke haus gefall un do honn di doktre raus gefunn es weat en krankhéd wo ea fics todbringe ted. So is es passiat. In tswói woche wód Pheda chtérblich krank im krankenhaus. Do horra di familie komme geloss. Wi di fró léhn bai em wód, do sóora:
- Tsília, tsum letstes mohl. Só mea di wôached wall ich am chtérbe sinn, un mecht net main unntraung mit nemme. Is de rothoa sicha main kint?
- No iach dann, Pheda, wenn es net ánischta sinn kann, dan gebe ich dea di wôachéd bai: De rothoa is sicha wohl dein kint! - Ja wi so dan? Wi kann de dan so ánischta sinn alls mein andere khenna? - Ufrichtich geschproch: de rothoa is dain kint un di andere fia sin em nôchbar sain khenna! (Ieda ennlichkaite sin nua cointsidense.)

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