Mapa do exército revela
muito sobre a história da região |
No ano de 1915, o exército nacional fez esse mapa. Ele não é muito detalhado, mas contém informações importantes para o estudo da região.
FERROVIAS
As estradas mostradas com maior destaque no mapa, com traço mais grosso, são duas ferrovias:
a que liga Porto Alegre a Taquara (mais antiga) e a que vai de Neustad até Caxias do Sul, passando pelas cidades de São João do Montenegro e proximidades de Garibaldi.
Neustad, na verdade Neustadt, era um bairro de São Leopoldo, separado da cidade pelo Rio dos Sinos. Em alemão, a palavra significa Cidade Nova e esse bairro corresponde hoje, aproximadamente, ao Scharlau ou ao Rio dos Sinos.
Era o ponto inicial do ramal ferroviário que ia até Taquara passando por Novo Hamburgo, Hamburger Berg, Campo Bom, Sapyranga, Amaral Ribeiro, Nova Palmeira e Taquara (denominações e grafia da época).
A ferrovia, para Caxias do Sul, passava pelas estações Portão, Capella e M. Negro (antes de chegar a Montenegro). A estação M. Negro deve ser no Pareci Velho, onde hoje ainda se encontra o prédio da velha estação, bem conservado. Por que, em 1915, esse local era denominado Monte Negro? Será que o Monte Negro que deu nome à cidade é o famoso Morro da Mariazinha, situado próximo dali? Essa é uma importante questão a ser respondida pelos historiadores da região.
De Montenegro até perto de Garibaldi, o trem que ia a Caxias passava pela localidade de Cafundó e, depois, pelas estações de Victória (próxima à cascata do mesmo nome), Maratá, Esperança, Linha Bonita, São Pedro e Barão.
A cidade de São Pedro da Serra está situada, hoje, muito próxima a Salvador do Sul. Apenas um quilômetro as separa. São duas cidades irmãs. O mapa nos mostra que, quando a ferrovia foi construída, razões de engenharia fizeram com que ela não passasse pela localidade de São Pedro. A estação foi construída num arrabalde, que ficava mais a mão para a localidade de São Salvador (atual Tupandi) bastante desenvolvida naquela época. Bem mais importante que São Pedro e do que São Salvador que, então, simplesmente não existia. A estação ganhou o nome de Salvador e, em torno dela, desenvolveu-se uma povoação que, muitas décadas mais tarde, transformou-se em cidade. Maior que São Pedro e Tupandi.
Adiante havia a localidade de Barão e, um pouco antes de Garibaldi, a de Carlos Barbosa, seguida de Nova Sardenha, Nova Vicensa e Forqueta, antes de chegar ao final da ferrovia, em Caxias do Sul.
ESTRADAS DE RODAGEM
As estradas de rodagem, em 1915, praticamente não existiam. Assim como não existiam automóveis, caminhões ou ônibus. Os poucos veículos motorizados que chegavam ao Brasil naquele tempo eram quase brinquedos, para usar apenas na cidade, em terreno plano e bem pavimentado.
No interior, o que havia eram estradas carretáveis. Ou seja, nas quais se podia andar de carreta. E essas já eram vistas como grande evolução, pois décadas atrás, o que havia eram apenas picadas (caminhos abertos no meio do mato). Trilhos no meio do mato pelos quais só passavam homens a pé. De preferência munidos de facão, para cortar os ramos das árvores e arbustos, além dos cipós, que cresciam rapidamente (devido ao clima tropical) fechando o caminho.
A primeira evolução da antiga picada ocorria quando ela já era larga suficiente para passar a cavalo. Então passavam a ser percorridos pelos cargueiros (burros ou mulas levando carga).
A estrada Rio Branco, apesar de ser um empreedimento do governo imperial, de alto valor estratégico para o governo, levou muitos anos até possibilitar a passagem de uma carreta. Quando a primeira delas conseguiu ir de Caxias do Sul a São Sebastião do Cai, o fato foi visto como façanha heroica.
Em 1915, a situação já havia melhorado, mas pouco. As estradas não eram retilíneas e nem seguiam os caminhos mais curtos, pois tinham de desviar de terrenos acidentados, pantanosos ou arenosos.
Pelo que se vê no mapa, havia uma estrada mais antiga ligando Porto Alegre a Gravataí e dessa partia uma ramificação que chegava até São Leopoldo.
Havia, também, uma estrada que partia de Canoas (onde havia uma estação da primeira estrada de ferro) em direção a Santa Rita. E, de Santa Rita, partia uma estrada que ia até São Leopoldo e, numa ramificação, chegava também ao Cai. Não há, no mapa, uma linha contínua que indique uma estrada entre São Leopoldo e Caí. Apenas uma linha tracejada, sugerindo a necessidade de construir-se uma.
Entre São Leopoldo e São José do Hortêncio havia uma estrada muito antiga que ficou conhecida como Caminho das Mulas. A existência dessa estrada fez de Hortêncio um importante polo comercial já em meados do século XIX.
ESTRADA RIO BRANCO
Quando o governo de Dom Pedro II resolveu atrair imigrantes europeus para a região da Serra Gaúcha (então quase totalmente desabitada, apenas trilhada por índios selvagens), teve de abrir uma estrada até lá. Mas ela partida de São Sebastião do Cai porque até ali era possível chegar de barco. O que não era fácil, pois o rio é muito raso e, no verão, só permitia a navegação com canoas. Mas, mesmo assim, era muito melhor do que enfrentar os caminhos terrestres então existentes.
Para ficar bem claro: a estrada construída pelo poderoso império brasileiro nas décadas de 1870 e 1880 não ia de Caxias até Porto Alegre. Ela ia somente até o Cai, a partir de onde passageiros e cargas eram levados de barco até a capital da província.
A estrada Rio Branco começava pelo Cai, acompanhando a margem do rio até perto de Feliz (era, portanto, sujeita a interrupção no trânsito motivada por qualquer enchente).
A vila de Feliz está designada no mapa como Stª Catharina, pois a sua designação, na época, era Santa Catharina da Feliz. Ali se atravessava o rio Caí. Não havia ponte e, quando o rio estava cheio, era preciso esperar a água baixar. O que podia levar dias.
Depois a Estrada Rio Branco seguia, pelo outro lado do rio, encontrando as localidades de Santo Inácio (no mapa, S Ignacio), depois pela atual Vale Real, então mais conhecida como Kronenthal, mas que o autor do mapa preferiu designar como São Pedro, já que o padroeiro local era esse santo e o cartógrafo, compreensivelmente, não sabia escrever Kronenthal. Adiante de Vale Real, a estrada deixava o Vale do Caí e enveredava pelo vale do arroio do Ouro e, enfrentando trecho tenebroso devido ao terreno extremamente acidentado, subia a serra até chegar em Cachias. A dificuldade de fazer uma estrada na serra fica evidente pelo fato dos engenheiros do império haverem preferido o caminho mais plano, próximo ao rio, até o ponto em que Caxias ficasse mais próxima e fosse possível trilhar menos caminho acidentado.
PASSO DO CAÍ
O mapa não é muito preciso, mas mostra bem que, na época, o local próximo à cidade de São Sebastião do Caí, em que se podia atravessar o rio (local conhecido como Passo do Cai) era situado próximo a Harmonia. O desenho no mapa mostra que, da cidade do Caí, ia-se para o norte (até o bairro Vila Rica) e ali se atravessava o rio num lugar bastante raso. Esse local ficou conhecido como Passo do Caí, mas não ficava junto à cidade, onde o rio é mais profundo.
Ainda pela metade do século XX, conhecia-se por Passo do Caí um local situado um pouco antes do Morro do Peixoto (para quem vai do Caí a Harmonia).
A ponte estreita que hoje existe perto de São Sebastião do Caí foi construida em 1970 e, antes disso, o passo ainda era utilizado, quando o rio estava bem baixo. Normalmente, porém, era preferível usar a barca, que existia no início da rua Pinheiro Machado e fazia a travessia de carroças, caminhões, automóveis e pedestres.
BOM PRINCÍPIO E SÃO VENDELINO
No inicio da colonização alemã no Vale do Caí, nas décadas de 1850, 60 e 70, Bom Princípio e São Vendelino foram loteados e atraíram muitos imigrantes europeus. Especialmente alemães, mas também um bom contingente de franceses e outras nacionalidades.
Em 1915, no entanto, tanto Bom Princípio como São Vendelino viviam um período de ostracismo. Em 1900, foi construída a ponte de ferro na localidade de Feliz e o eixo rodoviário da região passou por Feliz e isso fez com que Bom Princípio e São Vendelino mergulhassem numa fase em que ficaram esquecidos, à margem dos principais fluxos econômicos. O que só foi mudar com a construção da RS-122, por volta de 1970, passando pelas duas localidades, hoje municípios independentes. No mapa de 1915, as duas localidades nem foram mencionadas.
O mapa do Rio Grande do Sul foi feito pela Terceira Secção do Estado Maior do Exército em 1915. Encontra-se no Arquivo Nacional, Rio de Janeiro. Pesquisado por Luiz e. Brambatti, Jan/2013
ResponderExcluirSó tem esta parte, ou tem de todo a Estado do Rio Grande do Sul?
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