domingo, 17 de março de 2013

1775 - Relatório da administração do intendente do Caí, ano 1919

O intendente João de Deus Flores relata situação
do município e realizações do seu governo
O jornal A Federação, na sua edição de 5 de agosto de 1920, publicou resumo do relatório apresentado pelo intendente (prefeito) caiense João de Deus Flores quanto à situação do município e realizações da sua administração no ano de 1910.
O jornal A Federação era veículo oficial do Partido Republicano (que deteve o poder estadual durante décadas e cujos principais líderes foram Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros e Getúlio Vargas). O jornal não tinha qualquer compromisso com a imparcialidade e fica evidente isso nas primeiras linhas da matéria, quando o editor classifica o intendente caiense como do jornal, mesmo cortando longos trechos do relatório (classificado como exemplar, longo e circunstanciado), não omite que o intendente "congratula-se pelos grandes serviços que vem prestando ao Estado, o dr Borges de Medeiros, presidente do Estado."
Começa o relatório por um balanço das finanças municipais, no qual chama atenção que uma das principais fontes de renda do município é a subvenção à instrução pública. Provavelmente uma verba oriunda do governo estadual ou federal para ajudar a prefeitura na manutenção das escolas. Uma das maiores despesas do município era a manutenção da Guarda Municipal. Na época, a polícia que existia nos municípios era a guarda da intendência (prefeitura), que era subordinada aos prefeitos.
É interessante o trecho que trata da iluminação pública na cidade. Ela ainda feita com lampiões a querosene (derivado de petróleo usado para iluminação). O que, certamente, era motivo de críticas, pois outras cidades do nível do Caí, e até menores, já contavam com usinas geradoras de energia elétrica. Montenegro, por exemplo, contava com esse serviço desde 1919.
O intendente justifica o atraso pelo fato de não haver sido cumprido o contrato feito pelo intendente anterior (Pedro Gonçalves de Carvalho) com a empresa Bromberg.

Um parênteses: tanto João de Deus Flores como Pedro Gonçalves de Carvalho são ditos coronéis. Não se pense, por isso, que esses homens tenham sido militares. O título de coronel era a forma do governo, na época, homenagear aqueles que lhe prestaram serviços relevantes. Algo parecido com os título de nobreza concedidos pelos monarcas.

O intendente diz ser necessário esperar pelo término do contrato para fazer a usina hidráulica já projetada (utilizando uma das cascatas do arroio Cadeia. Certamente, se trata da cascata existente na localidade de Campestre de Santa Terezinha (no trecho do arroio Cadeia que vai de São José do Hortêncio a São Sebastião do Caí). Essa cascata tem, realmente, uma notável queda d'água, mas tal riqueza jamais foi aproveitada. Só na década de 40 o Caí veio a ter a sua usina (termoelétrica), situada no centro da cidade. Antes, porém, a cidade foi abastecida por energia da usina termoelétrica de Montenegro (a segunda daquela cidade, inaugurada em 1938).
PASSOS
Nota-se que a prefeitura, naquela época, custeava os passos e isso era um fato importante, digno de ser mencionado no relatório. Passo é um lugar onde se consegue atravessar um rio, mesmo não existindo uma ponte. A prefeitura custeava a manutenção dos passos. O que significa isso? O mais provável é que ali existiam barcas e que, devido ao pouco movimento de veículos (automóveis, camihões, carretas e charretes) existente na época, a prefeitura o responsável recebia pagamento da prefeitura para manter o serviço. Em 1930, as únicas pontes que existiam sobre o rio Caí eram a ponte ferroviária da Mariazinha (próxima a Montenegro) construída pelo ano de 1909 e a ponte rodoviária de Feliz, construída em 1900.
Mesmo para atravessar o arroio Cadeia, os veículos precisavam utilizar uma barca (a não ser quando o arroio estava muito baixo). A ponte de ferro existente sobre o arroio Cadeia só foi construída no ano de 1931. Boa parte desses passos estavam situados na divisa entre municípios e, nesses casos, a despesa da manutenção dos mesmos era repartida com o município situado do outro lado do rio. 
Os passos existentes no município, em 1930, eram os seguintes: 
Sobre o rio Caí, os passos do Matiel (próximo à cidade do Caí), do Manduca (próximo à cidade de Montenegro), do Caí (entre Capela e Montenegro ou Triunfo - ou entre Nova Santa Rita e Triunfo ou Montenegro), servia para ir de Porto Alegre a Triunfo - certamente uma travessia difícil, pois ali o rio Caí é bastante largo e profundo), da Linha Sertório (?), Sebastopol (próximo a Nova Petrópolis), Selbach (próximo a Bom Princípio) e Pareci Novo (junto à cidade do mesmo nome). No arroio Cadeia, a prefeitura subsidiava os passos da vila (a cidade de São Sebastião do Caí) situado um pouco abaixo da ponte de ferro, perto da granja Oderich), um no Campestre (próximo ao bairro Conceição), outro em Silveira (?) e mais um em 14 Colônias (atual município de Lindolfo Collor). Na época, o atual município de Capela de Santana, e também o de Nova Santa Rita, pertenciam também ao município do Caí. Com o que o rio dos Sinos fazia a divisa entre Caí e São Leopoldo e Porto Alegre. Havia, assim, um passo no rio dos Sinos que era chamado Passo do Caí (nome idêntico ao outro passo, no rio Caí).
EXPORTAÇÃO
O relatório da administração João de Deus Flores relaciona quais são os principais produtos de exportação do município (é bom lembrar que, na época, o município incluía Nova Petrópolis, Alto Feliz, Feliz, Linha Nova, Vale Real, São José do Hortêncio e Capela de Santana): Os principais produtos caienses exportados (para outros municípios, estados ou países) eram os seguintes: alfafa, farinha de mandioca, banha, arroz, álcool, azeite, aveia, aguardente, milho, conservas, feijão, caramelos, polvilho, café moído, cevada, cera, licores, vinho, mel, linguiça, salame, toucinho, aves, ovos, manteiga, couros, amendoim, fundo, presunto, paio, sola, roupeiros e balaios de vime, balaios de vime, queijos, porcos.

Foto do acervo de João Luz

2 comentários:

  1. O jornal A Federação, era editado em Porto Alegre e pertencia ao Partido Republicano, que dominava a política e o governo gaúcho na época dessa edição: 5 de agosto de 1920.

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