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Num certo período, o Fato Novo tinha duas capas. Além da primeira, também a última página apresentava manchetes. Na página 1 as manchetes eram da região de Caí e Montenegro; na última, as manchetes eram de Feliz e Bom Princípio. O jornal era impresso com a capa de Feliz/Bom Princípio impressa de cabeça para baixo para que ela fosse mantida, nos expositores, como frente do jornal.
Na época, o Fato Novo não tinha assinantes. Era vendido nos mercados e armazéns (e distribuído
aos funcionários por algumas empresas).
Por isso, a atratividade das manchetes na capa era muito importante e o artifício de fazer duas capas permitia oferecer boas manchetes tanto na região do Caí e Montenegro quanto na de Feliz e Bom Princípio.
Essa estranha forma de editar o jornal chamou muita polêmica na época e chama atenção até hoje, como se vê no seguinte texto, publicado por Daniel Fuchs Klein na sua página do Facebook
Na época, o Fato Novo não tinha assinantes. Era vendido nos mercados e armazéns (e distribuído
aos funcionários por algumas empresas).
Por isso, a atratividade das manchetes na capa era muito importante e o artifício de fazer duas capas permitia oferecer boas manchetes tanto na região do Caí e Montenegro quanto na de Feliz e Bom Princípio.
Essa estranha forma de editar o jornal chamou muita polêmica na época e chama atenção até hoje, como se vê no seguinte texto, publicado por Daniel Fuchs Klein na sua página do Facebook
Semanalmente folheio as edições do Fato Novo de trinta anos atrás. Cumpro esse ritual para realizar a coluna que sai todos os sábados e que reproduz a capa e um resumo de uma matéria daquele tempo.
E tenho a mesma reação todas as semanas: rio de maneira frouxa e mostro a todos ao meu redor como eram dadas as notícias há três décadas atrás.
Havia uma leveza nos textos. Uma certa poesia que deixava a matéria mais atraente. Expressões bem humoradas atraiam o leitor para assuntos chatos, ou até mesmo, espinhosos.
Olhem o exemplo da capa abaixo: “Vanusa vai bem, obrigado” é o título da matéria que desmente os boatos de que Vanusa estava morto em decorrência de uma tortura que de fato havia acontecido. É um título simples mas divertido. Uma maneira descontraída de tratar um assunto que hoje só seria noticiado cercado de “cuidados e não-me-toques”.
Os mais antigos vão lembrar que o Fato Novo tinha duas capas. Uma com manchetes do Caí e Montenegro e outra com fatos importantes de Feliz e Bom Princípio. Mas o que mais chamava a atenção é que uma capa era “de pé” e a outra de “ponta cabeça”. Ou seja, quando mudava a região da notícia, o leitor tinha que virar o Fato Novo para continuar lendo. E olha que matéria bacana feita pelo Renato Klein saiu na capa da Feliz e nas páginas internas. Vou reproduzir ela inteira abaixo.
"“Meu nome é Stan”, disse finalmente o mendigo
O Fato Novo conseguiu entrevistar o estranho visitante que ultimamente tem frequentado as cidade de Feliz e Bom Princípio. Num dia em que estava de “boa veia”, ele concordou em falar algumas palavras à nossa reportagem.
Ele disse ser natural da Hungria, onde ainda vivem seus pais e irmãos. Seu nome é Stan Grimra ou Stângria. É difícil de entender sua fala e ele não sabe escrever, segundo disse ainda, tem 40 ou 41 anos e veio para o Brasil há muito tempo.
Não se pode ter certeza da autenticidade destes dados, uma vez que Stan apresenta evidentes sinais de perturbação mental. Em todo caso, como não há ninguém na região que o conheça, são os melhores dados disponíveis. Já foi lembrado que na localidade de Conceição existe um restaurante, A Canga, cujo proprietário é húngaro. Talvez se Stan fosse levado até lá e fosse interrogado na língua daquele país, revelasse mais sobre a sua origem ou, no mínimo, seria confirmada ou negada a informação de que ele realmente seja originário da Hungria.
O banho
A pedido do prefeito Paulo Caye, os secretários Edel Steiner (educação) e Remi Schneider (obras), recolheram o mendigo para providenciar melhores condições de vida para ele. Como já foi mencionado em reportagem da edição anterior, ele tem dormido ao relento mesmo nas noites frias e chuvosas deste inverno.
A providência foi tomada na manhã da última segunda-feira. Stan foi inicialmente levado até a Delegacia de Polícia, onde os policiais Bruno Barth e Renato Welter encarregaram-se de dar um banho em Stan e trocar suas roupas sujas por outras em bom estado fornecidas pelo Caritas.
Quando Stan se despiu para o banho, surpreendeu aos policiais tirando do corpo, num lento e penoso trabalho, nada menos que oito calças, duas camisas, quatro blusas e dois casacos. Após o banho, vestido já com roupas novas e bonitas, Stan foi levado ao barbeiro e em seguida ao Posto de Saúde, onde foi examinado pelo Dr. Tássilo Schlatter.
O médico constatou que ele estava em bom estado apresentando apenas uma leve inchação nos pés, razão pela qual receitou-lhe um diurético.
A Prefeitura vem mantendo agora, contatos com entidades assitenciais com vistas a conseguir um local onde ele possa ser internado e tratado. Enquanto isso, a Brigada Militar encarrega-se de alojá-lo em seu destacamento de Feliz até que lhe seja dado um destino.
Cidade sem mendigos, Feliz recebeu inicialmente com estranheza a visita de Stan. Agora tenta ajudá-lo dando-lhe algo mais que uma esmola. Espera-se que sua vida possa mudar e que a solidariedade das pessoas o ajude a recuperar um maior contato com a realidade e a capacidade de conduzir-se melhor.
Esperamos que Stan não durma nunca mais na chuva do inverno."
Vocês entendem o que eu digo? Parece que as notícias eram mais humanas. Vários personagens contavam a história cheia de pormenores. Havia uma despreocupação em ser politicamente correto. O uso exagerado de termos “politicamente corretos” deixa o texto mais frio. E isso não significa que havia um desrespeito. Pelo contrário, percebe-se o interesse e satisfação ao se noticiar que um mendigo estava finalmente recebendo cuidados de toda a comunidade. Só não havia o cuidado de tratá-lo como um anônimo “morador de rua” e sim como o caladão mendigo Stan.
Na capa o subtítulo dizia o seguinte: "O misterioso mendigo da Feliz diz ser húngaro e chamar-se Stan Grimra ou algo parecido. A Prefeitura Municipal e, com a ajuda da Polícia Civil procura encaminhá-lo para uma vida melhor." Já a legenda da foto destacava a diferença de Stan antes e depois do banho. Logo abaixo uma charge com o título “Finalmente um carente na Feliz” brincava com o fato de que Stan era o primeiro mendigo da cidade e as entidades assistenciais estavam brigando para ver quem iria ajudá-lo.
Que espetáculo! Adoro ler o Fato Novo de trinta anos atrás."
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