Os castigos aplicados aos escravos, até mesmo por falhas cometidas na execução dos trabalhos a que eram forçados, podiam ser cruéis |
Naquele tempo, os senhores de escravos podiam dispor com bem desejassem de seus cativos. Muitos subjugavam as raparigas escravas mais bonitas, como suas concubinas preferidas, sem terem qualquer escrúpulo pelos resultados procriativos que advinham daquela perversidade e abuso moral.
Era comum, então, o nascimento de uma prole trigueira (1), assim como os demais negros, esses também adotavam o sobrenome de seus senhores, como forma de identificação de suas procedências.
Mais tarde, com a abolição, foram sendo oficializados com o processo de cadastramento em registros públicos obrigatórios.
Isso aconteceu em todos os países escravistas, sendo motivo de constrangimentos para os mais ferrenhos conservadores das castas segregacionistas. Algo que, por certo, perdurará através dos tempos como uma chaga sangrando e um dia, talvez, possa despertar nas consciências o sopro de uma igualdade sem restrições entre os povos.
A fazenda do Cafundó (2) teve o seu dia de glória medieval. O feitor Juvêncio reuniu todos os escravos, sem exceção, na frente da tafona para que presenciassem a punição da escrava Jandira.
Ela fora acusada de haver acobertado o desaparecimento do escravo Acácio, condenado ao tronco por haver negligenciado na tarefa de cuidar da secagem de uma fornada de duas arrobas de farinha de mandioca e um cento e meio de bolos de bijú (4), que seriam destinados, parte para a casa grande e o restante para a senzala.
1 - trigueira - a cor da pele mulata, que se assemelha à cor do trigo maduro.
2 - Fazenda Cafundó - situada nos arredores da cidade do Caí, na margem direita do arroio Cadeia, na atual localidade de Campestre de Santa Terezinha.
3 -tafona - prédio rústico, com instalações específicas para produzir farinha de mandioca e polvilho, produtos extraídos da mandioca.
4 -bijú - doce feito de polvilho
5 - casa grande - residência do fazendeiro e seus familiares
6 - senzala - prédio simples, para acomodação dos escravos
Texto transcrito do livro Os Provisórios, de Duclece Pires
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