Em 1928, Alípio Pires foi assassinado por um capanga, quando passava pela rua Marechal Deodoro. O atirador estava numa das janelas do segundo piso da prefeitura |
Falam dos políticos de hoje em dia. Eles, de fato, talvez não sejam uma maravilha, mas essa história demonstra que, no passado, eles eram bem piores.
Alípio Pires era o filho mais velho do Tenente Ernesto Pires. Seu pai foi grande fazendeiro, dono da Fazenda do Cafundó, que se estendia pela margem direita do arroio Cadeia, desde as imediações de São José do Hortêncio, até os arrabaldes da cidade de São Sebastião do Cai.
Desde moço ele participou, com o pai, impedindo que as fazendas do pai e do tio Thomé Pires Cerveira (e a região toda) fossem importunadas pelas revoluções que tingiram de sangue o solo gaúcho.
Ele foi o único filho do Tenente Ernesto que seguiu a vocação militar. Aprendeu a usar todas as armas disponíveis na época e, com muito treinamento, tornou-se exímio na sua utilização.
Ficou famoso, na região, pela sua valentia. Passou a ser cortejado por políticos que o persuadiam a cumprir tarefas de intimidação contra os inimigos desses políticos.
Quando tinha 25 anos, ele casou-se com uma linda jovem, de Capela de Santana, chamada Miguelina de Miranda e o casal teve três filhos. Os meninos Consuelo e Ernesto, mais a menina Elaine.
Sua mulher morreu jovem, de uma doença que, na época, era chamada de ferida braba, hoje conhecida carcinoma, que nela se desenvolveu na mama e a levou a uma morte lenta e dolorosa. Orfãos de mãe, as crianças tinham o amor do pai, mas mesmo esse lhes faltou porque Alípio passou a exercer a atividade "mercenário político, muito solicitado por influentes figurões de partidos de grande expressão, que se alternavam no poder do Governo do Estado, sempre com o apoio armado, uma espécie de grupos de "guarda-costas", hoje utiliazados pelos atuais políticos, mas também agindo no sentido de eliminar, sumariamente, todo aquele que representava uma forte ameaça aos objetivos mais imediatos da corrida pelo poder", conforme escreveu Duclece Pires em "Os Provisórios".
Alípio ficou preso, por um ano, na Casa de Correção de Porto Alegre por causa de uma escaramuça política na qual se meteu e que resultou em várias pessoas gravemente feridas. Ao voltar para casa, procurou logo pelos filhos, aos quais era muito apegado.
No dia 4 de julho de 1928 ele foi, com os dois filhos maiores, Consuelo e Elaine (com seis e quatro anos de idade), visitar parentes na cidade de São Sebastião do Caí. Quando passavam pela frente do prédio da prefeitura, na rua Marechal Floriano Peixoto, levando as duas crianças pelas mãos, ouviu alguém chamar o seu nome. Pressentindo o perigo, ele virou-se para o lado do qual vinha o chamado, ao mesmo tempo que jogava as crianças para os lados. Ouviu-se o estouro de tiro de um mosquetão (espingarda de uso militar) e teve tempo de ver o atirador, numa das janelas do segundo piso do prédio da prefeitura.
O tiro atingiu o pulmão e o coração de Alípio, que tinha 34 anos de idade.
As crianças assistiram à agonia do pai caído na rua principal da cidade. Várias pessoas vieram acudi-lo e ele foi levado para o hospital, mas nada mais podia ser feito.
As crianças, abraçadas uma a outra, choravam e chamavam pelo pai. Tião, que foi seu fiel companheiro em batalhas, irmão bastardo, filho de uma negra escrava, havia morrido há cinco anos e Alípio foi o último sobrevivente da tropa de provisórios comandada por Thomé e Ernesto Pires. Se Tião estivesse vivo, certamente vingaria a morte de Alípio, pois esse era o código de ética vigente na época.
Texto baseado na narrativa de Deoclece Pires, no livro Os Provisórios
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