O jornal oficial “A Federação”, porta-voz do governo estadual, em seu editorial, afirma que “os camisas verdes, entre nós, acabam de lavrar sua sentença de morte”, reproduzindo o dito telegrama do prefeito de Caí ao governador do Estado, que, por sinal, foi editado pela redação do jornal, excluindo a parte em que Athos de Moraes Fortes conta que estava em Torres na hora do ocorrido (A Federação, 27/02/1935, capa).
A imprensa de língua alemã do Rio Grande do Sul, segundo pesquisa de René Ernani Gertz dividiu-se entre críticos abertos da ação dos integralistas e aqueles que se mantiveram “isentos” dos fatos, não sendo, em última análise, desfavoráveis aos camisas verdes. O Deutches Volksblatt faz parte do segundo grupo, referindo-se ao “terrível tiroteio”, reproduzindo a posição do prefeito local e acentuando que, naturalmente, os integralistas defendem ponto de vista oposto. O Kolonie, de Santa Cruz do Sul, faz parte do primeiro grupo, questionando o fato de que é incompreensível ir a um encontro de propaganda armado, além de colocar como uma das causas dos atritos a homossexualidade de um dos líderes da AIB de São Sebastião do Caí (GERTZ, 1980, p. 224 e 225).
O que se pode depreender comparando as diversas versões do ocorrido é que o conflito que houve na tarde do domingo, 25 de fevereiro de 1935, na sede do município de São Sebastião do Caí, entre integralistas e integrantes da guarda municipal, foi o desfecho de um processo de atritos seqüenciais que já vinham sendo noticiados há alguns dias (vide o texto do jornal integralista) entre o governo municipal e os líderes da AIB na cidade. O fato de haverem os integralistas se dirigido ao dito “comício” armados revela uma intencionalidade de causar, no mínimo, constrangimento aos que lhes observavam pelas ruas da cidade. A atitude de Pedro Lino dos Santos, funcionário da prefeitura, discutindo com os “camisas verdes” (precisando ser seguro pelo guarda “Marinho”), mostra igualmente o grau de estremecimento que se encontravam as relações entre o setor público municipal, influenciado pelos seus dirigentes, e a Ação Integralista Brasileira. Havia, como comprova a matéria do periódico integralista, uma animosidade explícita entre os dois grupos que irão se enfrentar em praça pública. O desfecho não poderia ser diferente, vide o caráter militarizado e belicista dos integralistas e o perfil “coronelista” dos dirigentes da cidade.
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