sexta-feira, 21 de agosto de 2009

241 - Franceses no sertão gaúcho

Nesta época, o único núcleo populacional já estruturado existente no Vale do Caí - com igreja e uma pequena povoação em torno, dotada de precário comércio e escola - era o de Capela de Santana. Mas as terras próximas ao rio Caí já estavam todas tomadas por fazendas, inclusive no local onde hoje se situa Montenegro. E mesmo algumas áreas um pouco mais distantes do rio Caí, como Costa da Serra, as terras já haviam sido distribuídos e ocupadas. Por isto, os irmãos Brochier tiveram de se aventurar mais para o interior, adquirindo - de segunda mão (não diretamente do governo) - terras que ainda estavam desabitadas naquela época. Terras situadas ao norte de Costa da Serra, local onde já viviam algumas famílias de estancieiros. As terras dos Brochier - quando eles lá chegaram - eram totalmente desabitadas pelos homens brancos, razão pela qual os índios ainda costumavam incursionar por elas, livremente. Os índios que habitavam a região eram nômades, viviam percorrendo os extensos territórios desabitados, caçando e colhendo frutos da mata. E eles tinham até um acampamento na região de Serra Velha, junto ao Arroio Santa Cruz ou de um dos seus afluentes. Ali, de tempos em tempos, a tribo se instalava, até esgotar a caça e as frutas existentes nas matas mais próximas. Então eles mudavam-se para outro ponto e só retornavam tempo depois, quando de novo o local pudesse lhes fornecer alimento abundante. Eram índios da tribo dos patos, pertencente à grande nação tupi-guarani. Eles eram habituados a conviver com os portugueses de muito tempo, mas esta convivência não era sempre pacífica. No Vale do Caí já haviam se verificado confrontos entre os primeiros colonizadores lusos que haviam se instalado com fazendas na região do atual município de Montenegro. Os índios costumavam atacar as propriedades dos colonos, causando danos e promovendo pilhagens, o que levou os colonos a se organizarem numa tropa que perseguiu os índios expulsando-os das redondezas. Isto aconteceu em 1817, antes da chegada dos irmãos Brochier, e a expedição de luso-brasileiros foi comandada por Custódio Machado. Depois disto os índios deixaram de percorrer as propriedades dos lusos, situadas por perto do rio Caí. Mas eles ainda continuavam excursionando pelos terrenos mais afastados do rio, como é o caso das terras que compõem o atual município de Brochier.
Quando vieram tomar posse das terras que haviam adquirido, João Honoré e Augusto instalaram-se no mesmo local onde hoje está situada a cidade de Brochier. De início, eles construíram choças precárias que depois foram substituídas por duas boas casas construídas por eles mesmos com madeira extraída das matas locais. As duas casas, feitas com grossas tábuas de pinho, resistiram ao tempo, chegando praticamente inteiras até a década de 1990, quando foram demolidas. Antônio Carlos Fernandes da Rosa as visitou antes da demolição e escreveu sobre elas dizendo que as tábuas de que eram construídas resistiram à ação do tempo “provavelmente por provirem de pinheiros velhos, com muito cerne, e também por sua espessura de 5 centímetros ou mais”. Afirma também o doutor Rosa que “A ação do tempo se fez sentir na formação de estrias longitudinais na parte externa das tábuas, sem contudo provocar apodrecimento.” As duas casas eram bem próximas uma da outra e estavam posicionadas em ângulo, o que provavelmente foi feito para possibilitar que, no caso de ataque dos índios ou outros agressores, os dois irmãos pudessem se ajudar na defesa. Da frente de qualquer uma das casas se avistava perfeitamente a frente da outra.

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