quarta-feira, 19 de agosto de 2009

203 - Os brancos e os bugres

Os primeiros imigrantes alemães, chegados ao Rio Grande do Sul a partir de 1824, receberam terras nas imediações de São Leopoldo. Mas logo em seguida vieram novas levas de colonos aos quais foram dadas terras em lugares um pouco mais distantes.
Naquela época os vales do Sinos e do Caí eram cobertos por densas matas pelas quais os índios perambulavam na sua vida errante: caçando, pescando, colhendo frutos da mata. Dependendo da tribo a que pertenciam, eles acampavam por alguns meses em cada lugar, fazendo plantações de colheita rápida, como a do milho, em torno dos seus acampamentos. O milho pode ser colhido aproximadamente quatro meses após o plantio. Depois disto, os índios (ou bugres como eles eram chamados por aqui) levantavam acampamento e iam para outro local onde a caça e os frutos da mata eram abundantes. Os caingangues que percorriam o Vale do Cai ainda no século XIX, não eram dados a plantações. Tiravam seu alimento da caça, pesca e coleta de frutos e raizes da mata. Por isto eram tipicamente nômades.
O imigrante alemão tinha conduta diferente. Quando recebia do governo a posse das terras, construía uma choupana e iniciava o cultivo da área recebida, que passava a considerar como sendo exclusivamente sua. Com o tempo, substituía a choupana provisória por uma sólida casa de alvenaria. E o colono não queria saber de nenhum intruso invadindo a sua terra. Assim os colonos alemães foram ocupando as terras do Vale do Caí. Primeiro em São José do Hortêncio. Depois, já pelo final da década de 1840, os filhos dos primeiros colonos que iam crescendo e formando família (ou novos imigrantes que chegavam da Europa), receberam terras em novas colônias que iam sendo criadas pelo governo na região. Foi assim que surgiu a colônia de Feliz, em 1845.
Antes disto os brancos apenas passavam pela região ou permaneciam nela por pouco tempo. Este era o caso dos tropeiros que levavam cavalos e mulas do Rio Grande do Sul para São Paulo e Minas Gerais. Estas províncias, enriquecidas pelo ouro e pelo café, tinham estes animais como principal meio de transporte das suas riquezas. Os tropeiros também levavam gado bovino com o objetivo de possibilitar a venda de carne fresca nas cidades do Brasil Central. Uma alternativa mais saborosa ao charque (carne seca e salgada que era produzida no Rio Grande do Sul e levada ao centro do país em navios). O charque, mais barato, era comida de escravos e pessoas pobres. Os ricos consumiam a carne fresca do gado levado pelos tropeiros por caminhos rústicos abertos no meio do mato e do campo.

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