sábado, 22 de agosto de 2009

250 - Um imigrante conta a sua história

Para se ter uma melhor idéia do que foi a saga destes primeiros colonizadores, narramos aqui a história contada por um dos primeiros imigrantes que se fixou em São José do Hortêncio. História transcrita por Leopoldo Petry no seu livro sobre São Leopoldo.
O narrador partiu, em 1829, da Província Renana com destino ao porto alemão de Bremen numa viagem em carreta puxada por mulas que durou três semanas. No porto, ele teve de esperar mais 14 semanas, junto com outros imigrantes, até a partida do navio que os levaria para o Brasil.
“Chegou enfim o dia em que nos despedimos para sempre da nossa Pátria. Embarcamos no navio Olberz, de três mastros, mas já um tanto velho.
Além do Comandante e dos marinheiros, vinham neste navio 875 passageiros.
A princípio navegávamos nas proximidades da costa inglesa, numa zona onde, no ano anterior, havia naufragado um transporte de imigrantes. Esses salvaram-se. Tiveram, porém, de permanecer na cidade de Plymouth até a chegada de um navio que os levasse. Julgando que o comandante do seu navio provocara o acidente com o intuito de vendê-los posteriormente como escravos, não simpatizavam muito com ele. Em certa ocasião, ao passar perto de algumas mulheres que estavam lavando roupa, estas avançaram sobre o comandante e o espancaram com as peças de roupa molhadas, o que produziu enorme hilariedade entre os ingleses que testemunharam a luta.
Também o nosso comandante se viu, em certa ocasião, em palpos de aranha.
Quando navegávamos perto do equador, onde mais intenso se faz sentir o calor do sol, a água nos era fornecida em quantidade insuficiente e de má qualidade, o que motivou vários casos de doença entre os passageiros.
Nomeamos uma comissão que foi apresentar nossas reclamações ao comandante. Este, porém, irritou-se e mandou postar um canhão na popa do navio, com o fim de nos atemorizar. Não conseguindo, todavia, o seu intento, mandou satisfazer o nosso justo pedido.
Em outra ocasião, o nosso navio teria ido irremediavelmente a pique se, além do nosso, não houvesse viajado ao Brasil outro comandante velho e muito prático.
Certa noite fomos despertados repentinamente por uma gritaria que nos fez gelar o sangue nas veias.
Subindo, assustados, ao convés, vimos o velho comandante, auxiliado por vários marinheiros, empregar todos os esforços para mudar o rumo do navio. O que, finalmente, conseguiu.
Se tivesse chegado cinco minutos mais tarde, nos disse ele, estaríamos todos sepultados no fundo do oceano, pois iríamos diretamente de encontro a um recife, onde teria se despedaçado a nossa embarcação.
Apesar da viagem haver corrido relativamente bem, vieram a falecer 50 pessoas durante ela. Mas também nasceram 50, de modo que não sofreu alteração o número de passageiros com que saímos da Europa."

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