Certa vez meu pai lhe contava um caso acontecido há muitos anos com uma mula do meu avô. Naquele tempo, antes do surgimento do automóvel na região, a mula era o meio de transporte mais adequado para as viagens longas, devido à sua grande resistência. Era comum se ver, nas estradas de então, passar um caixeiro-viajante montado numa mula e trazendo mais um ou duas no cabresto, ou seja, presas por uma corda à primeira.
Meu avô (o comerciante Jacob Klein de Costa do Cadeia) tinha uma mula tostada que, um dia, emprestou ao seu vizinho Henrique Horn para uma viagem até Lajeado. Moravam ambos no Pareci Velho, o que representava, em relação a Lajeado, a distância de uns 70 quilômetros. Seu Henrique fez a viagem sem problemas, mas ao chegar naquela distante cidade, descuidou-se à noite ao prender o animal fugiu.
No outro dia, a mula apareceu sozinha na casa de meu avô. Ela havia percorrido aquela distância toda sem se perder e cruzando a nado o rio Caí. Conseguiu, assim, chegar de volta à sua casa.
Quando meu pai terminou de contar o caso, tio Pedro refletiu um pouco e ponderou com aquele seu ar grave de sempre:
- Se fosse um automóvel, não fazia isso.
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