Como um colono alemão fazia para comprar um escravo no mercado de Porto Alegre? Situações como esta são narradas por Egídio Weissheimer no grande livro que escreveu sobre a história da sua família:
Os negócios de Jakob Weisheimer progrediam e ele tinha cada vez mais trabalho para ser feito na sua propriedade. Então tomou uma decisão. Carregou várias carretas com 40 sacos de farinha de mandioca e os levou até o Porto das Telhas. Ali contratou o frete nos lanchões pertencentes a um dos dois colonos que faziam a navegação fluvial no Rio dos Sinos naquela época (Peter Friedrich Petersen e Karl Roth) para levar a sua mercadoria até Porto Alegre. Na capital da província, ele vendeu a farinha e, com o dinheiro, se dirigiu ao mercado de escravos, que funcionava ao ar livre, ao lado do porto. Ali havia um palanque, do alto do qual um leiloeiro comandava as operações de compra e venda de escravos.
O dinheiro obtido com a venda da farinha não era suficiente para comprar um escravo adulto. Um negro de boa idade, forte e saudável custava o dobro do que Jakob tinha para gastar. Assim, ele teve de se contentar em adquirir um negrinho de apenas oito anos de idade. Feita a transação, o leiloeiro disse para o garoto que, daquele momento em diante, teria de obedecer ao seu novo proprietário. Jakob também falou ao menino, dizendo-lhe onde era a sua casa e que não se preocupasse porque lá ele seria bem tratado. O negrinho acenou com a cabeça, como se dissesse que estava tudo bem. Jakob voltou para casa tomando um lanchão para subir o rio e, ao anoitecer, já chegava em casa trazendo a novidade. Foi decidido que o menino se chamaria Adam, mesmo nome do filho que o casal havia perdido na mão dos bugres.
Tratado como filho, Adam integrou-se perfeitamente à família. Aprendeu o alemão e a cuidar da lavoura, dos animais e do moinho. Tornou-se um excelente trabalhador, verdadeiro braço direito de Jakob. Além disto era amável, sabia respeitar os outros e era, também, respeitado. Ganhou a fama de ser o melhor peão de toda a Colônia de São Leopoldo. Acompanhou Jakob e Magdalena até a morte destes e depois passou, como herança, para a família de Jakob II, filho mais velho do casal, em cuja casa, também, se integrou perfeitamente. Foi viver com eles na colônia de São José do Hortêncio, onde morreu em 1890, com a idade aproximada de 70 anos. Antes disto ocorrera a abolição da escravatura, mas o negro Adam, então já fraco pela idade e cego, foi mantido pela família até a sua morte.
Adam, provavelmente, havia chegado da África, num navio negreiro, pouco antes de ser adquirido por Jakob Weissheimer no mercado de Porto Alegre. Ele teve mais sorte do que a maioria dos escravos chegados ao Brasil. A maioria deles era vendida para fazendeiros e obrigada a trabalhar intensamente. E não recebiam os cuidados e atenções familiares que Adam recebeu na casa dos Weissheimer. Por isto, os escravos costumavam viver, em média, apenas dez anos depois da sua chegada ao Brasil.
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