sábado, 12 de dezembro de 2009

751 - Brasileiros e alemães

O livro Bernardo Padeiro é composto de 51 capítulos, que abordam aspectos da vida caiense em diferentes épocas do século XX. Um exemplo é o capítulo "Brasileiros e Alemães", que reflete a divisão social existente por volta de 1940:

"Algumas das brigas que aconteciam na época se deviam à rivalidade entre as pessoas de origem alemã e as de origem portuguesa.
Desenvolvia-se a guerra na Europa, na qual a Alemanha de Hitler lutava contra a Inglaterra e a França. Principalmente na fase inicial do conflito, quando a Alemanha mostrou grande poderio militar e obteve vitórias avassaladoras, a população de origem germânica que vivia no Caí se mostrava eufórica. Neste período inicial da guerra o Brasil se manteve neutro no conflito. E pode se presumir que a razão pela qual Getúlio Vargas demorou para se posicionar contra os alemães na guerra tenha sido o respeito que ele tinha pela colônia alemã do Rio Grande do Sul, estado do qual ele foi governador no final da década de 20. Assim como o Caí, também Porto Alegre era uma cidade de forte presença da população germânica. E os alemães eram - tanto em Porto Alegre como no Caí - o setor mais dinâmico da sociedade, contando com figuras admiráveis como o caiense A J Renner (empresário nascido em Alto Feliz, que começou sua atividade de empreendedor no Caí, mudando sua empresa para Porto Alegre na década de 10 e que veio a se tornar no mais notável empresário gaúcho da primeira metade do século XX).
No Caí, as pessoas de origem alemã falavam o idioma alemão, tinham aulas em alemão nas escolas (que eram particulares, mantidas pela comunidade com apoio financeiro do governo), assistiam a filmes alemães que eram apresentados nos cinemas e tinham enorme orgulho da sua descendência. Os descendentes de alemães, tinham, via de regra, um padrão cultural e econômico superior ao da população de origem lusa e sentiam orgulho disso. Costumavam chamar as pessoas de origem portuguesa de “ploa”. A convivência entre alemães e “ploas” era predominantemente harmoniosa, mas existiam também conflitos e ressentimentos.
Bernardino Costa lembra que, durante a guerra, grupos de descendentes de alemães passavam pelas ruas da cidade cantando em alemão, imbuídos de forte espírito patriótico.
Assistindo ao desfile, Bernardo, perguntou a outro menino luso qual a razão daquele comportamento dos alemães e ouviu o seguinte comentário:
- Eles estão felizes porque a Alemanha está indo bem na guerra e, se ela ganhar, os brasileiros vão ter de lavar os pés deles."

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