Certa vez - provavelmente em janeiro de 1973 - Bernardo ganhou o primeiro prêmio na tômbola (rifa) da Festa de São Sebastião. O prêmio era um novilho. Ou melhor: dois novilhos. O outro, por coincidência, foi ganho por um vizinho de Bernardo chamado Inácio D´Ávila.
Bernardo não estava na festa no momento do sorteio, mas vizinhos levaram a boa notícia para ele, que estava em casa. Então Bernardo foi até o local da festa, acompanhado da esposa e dos filhos. Ao chegar foi avistado pelo padre Edvino Puhl. E o padre o intimou a pagar a multa de meia dúzia de garrafas de chopp. Prenda que tradicionalmente era cobrada de quem ganhava o prêmio máximo da tômbola. Mas era só brincadeira, pois o Padre Puhl não bebia. Ao contrário do seu ajudante, o Padre João Wagner, que gostava de tomar cerveja. Esse padre, que virou nome de uma importante rua do bairro Vila Rica, era muito popular. Gostava de conversar com o povo e frequentava armazéns, nos quais bebia com os amigos. No seu trabalho religioso, porém, tinha comportamento bastante austero. Na década de 50 ele andava muito a cavalo, percorrendo as capelas do interior, como a da Várzea do Rio Branco, do Campestre de Santa Terezinha e do Rio Branco.
Interessado em receber o seu novilho, Bernardo perguntou ao padre onde estava o festeiro, que teve a incumbência de conseguir os prêmios (que eram obtidos através de doações). E os dois foram até onde se encontrava Cantarola, o festeiro daquele ano. E este lhes disse que um dos novilhos seria adquirido do criador Colling, de Capela de Santana, e outro da Fazenda Paquete, também situada no distrito de Capela. Cantarola informou que na segunda-feira os novilhos seriam entregues. Mas isso não aconteceu.
Bernardo teve que insistir muito até que Cantarola o levou, juntamente com vizinho Inácio D´Ávila, até Capela para buscar os prêmios. Com Valério Colling, que forneceria o novilho ganho por Bernardo, não houve problema. O novilho estava à disposição. Só precisava ser paga a despesa do transporte até o Caí.
O valor não era elevado e Bernardo se prontificou a pagar esta despesa para o vizinho.
Depois eles se dirigiram até a Fazenda Paquete, onde foram recebidos pelo proprietário Clóvis Kroeff (que foi prefeito nomeado do Caí nos anos de 1944 e 45, durante a ditadura de Vargas). Lá, esperavam receber o novilho que cabia a Inácio D´Ávila. Mas logo na chegada, Clóvis advertiu:
- É. Não vai ter novilho.
Acontece que Clóvis havia combinado com Cantarola de dar o novilho caso este, que era vice-prefeito e chefe das obras na prefeitura, providenciasse a melhoria numa estrada interna da fazenda, necessária para a retirada da lenha de um mato de acácia vendida para a fábrica de papel Borregard. O que não foi feito.
Mesmo assim, Bernardo cobrou do fazendeiro o cumprimento do compromisso:
- Acho estranho, porque no cabeçalho da rifa constava que o prêmio seria uma doação da Fazenda Kroeff.
Mas o argumento não convenceu o fazendeiro e a doação do novilho não se concretizou.
Cantarola havia comprado gado com financiamento do Banco do Brasil para montar um tambo de leite. Na volta para o Caí, Bernardo sugeriu que ele desse um novilho seu para honrar o seu compromisso de festeiro. Cantarola concordou. Mas passaram-se seis meses e Inácio ainda não havia recebido o seu novilho. Cantarola explicou que havia se dado mal no negócio com gado e estava tendo dificuldades para pagar o empréstimo feito no banco. Por isso teria de devolver os animais que havia comprado.
Bernardo foi falar com o Padre Puhl. Já havia se passado quase um ano da última festa e os números de uma nova tômbola já estavam sendo vendidos, mas o prêmio da primeira festa ainda não havia sido entregue. O padre mandou dizer a Inácio para vir falar com ele, que o problema seria resolvido. Inácio foi até a casa paroquial e o padre lhe deu o dinheiro correspondente ao valor de um novilho e ainda perguntou o que ele queria de juro pelo atraso no pagamento. Inácio, satisfeito com a solução do caso, dispensou o pagamento de juros.
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