terça-feira, 17 de janeiro de 2012

1294 - 30 anos do Fato Novo: cidade morta

No ano de 1981, uma menina le a primeira edição do jornal
Na visão de Jean Roche, o Caí era uma cidade estagnada, como as “cidades mortas” descritas por Monteiro Lobato no seu livro de mesmo nome. O escritor referia-se no livro à situação que encontrou na cidade de Areias, no estado de São Paulo. O crítico Jean Danton, resumiu assim o que Lobato queria dizer com a expressão cidades mortas.
“Em 1917, Lobato, já formado, é nomeado promotor público da cidade de Areias, no interior paulista. Areias era o que o autor mais tarde chamaria de Cidades Mortas. Vítimas das mudanças econômicas, esses lugarejos, antes prósperos, viviam em estado de lesmice patológica. Com a economia local quebrada, a maior parte dos jovens se mudara para cidades mais desenvolvidas e só ficava em Areias quem não tinha condições ou idade para a mudança.
Numa cidade como essa, até o passeio matutino do recém-nomeado promotor público virava atração pública. As moças saiam na janela para ver Lobato passar. Naquela época, Lobato já namorava sua futura esposa, Maria da Pureza Natividade. Ia de vez em quando a São Paulo para vê-la. As cartas escritas para ela revelam gripes, caçadas a onças, uma ou outra refrega entre vizinhos e muita saudade. Em suma, não havia o que fazer em Areias. Assim, Lobato gasta a maior parte do tempo lendo e escrevendo. Vai passando para o papel o que observa no lugarejo. São esses escritos que mais tarde formarão o livro Cidades Mortas. Nos escritos, Areia é rebatizada de Oblivion, depois Itaoca.
Em Oblivion, só meia dúzia de pessoas recebe jornais. São a intelectualidade local. Livros só há três, que passam de mão em mão. Cada um que pegava fazia questão de escrever algo. “Li e gostei”, afirmava um. Outro versificava: ‘Já foi lido - pelo Valfrido’. Cidades Mortas é cheio desses casos, entre eles o de um réu que escapou enquanto o júri permanecia horas reunido numa sala, incapaz de tomar uma decisão.”
No Caí das décadas de 1910 a 1950 a situação era parecida. Não tão grave como a de Areias (segundo a descrição de Lobato), mas o suficiente para impressionar a Jean Roche e todos que conheceram a cidade naquela época.
Roche calculou que, entre 1900 e 1950, pelo menos 23.000 pessoas haviam deixado o município.
Ele escreveu ainda, no seu livro, que “Caí...não fez senão sobreviver desde que a estrada de ferro e a rodovia que servem São Leopoldo se apoderaram do seu tráfego comercial”.
Na década de 50, o asfaltamento da estrada até Porto Alegre deu um pequeno alento à cidade. Depois houve o renascer da fábrica Oderich, que havia quase cessado as suas atividades. Mas a fábrica não ganhou impulso significativo a não ser pelas décadas de 80 e 90.
A industrialização, que fez crescer cidades como Caxias do Sul e Novo Hamburgo (antes menores que o Caí) não se firmava na cidade. Vários empreendimentos que pareceram promissores na década de 1940 (como a Fecularia Caiense e a Frutas do Rio Grande Ltda) fracassaram. Uma fábrica de extrato de tomate criada pela Arrozeira Brasileira chegou a ser instalada no prédio atualmente pertencente ao Country Clube. Mas fechou em seguida, sem chegar a produzir efetivamente. Pelo ano de 1960 instalou-se na cidade uma fábrica de sorvetes da Kibon. Mas também esta fechou depois de alguns anos. Na década de 70 o doutor Bruno Cassel empenhou-se em atrair empresas para o município e conseguiu concretizar a vinda da Eran, uma fábrica francesa de calçados. Pioneira na produção de calçados com solado injetado. A fábrica se desenvolveu bem por alguns anos, mas seus proprietários acabaram se desinteressando pelo negócio e vendendo a empresa para a Vacchi (curtume de Sapucaia do Sul), que também não teve sucesso na continuação da empresa. Só na década de 80, quando a fábrica foi novamente vendida (para a Azaléia) a empresa teve um desenvolvimento realmente satisfatório que chegou a ser empolgante no período compreendido entre meados da década de 80 e a de 90, mas depois entrou em gradual declínio. Até o seu fechamento no ano de 2005.

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