Lindolfo Collor, a antiga Picada 48, ainda guarda muito daquilo que foi construído pelos antigos colonos |
Carlos: “Ora, Vovô, se o Padre
Blees ainda não tinha vindo, quem é que servia na igreja
nova?"
Vovô: “Pois é, Carlos, naqueles
tempos uma missa era raridade. Muitos piás e muitas gurias da idade de vocês
nunca haviam assistido a uma missa. Uma ou duas vezes ao ano vinha um vigário
brasileiro, lá de Sant’Anna (1). Geralmente havia uma dúzia de crianças para
batizar. Uma vez havia 25 crianças, dos quais 13 piás e 12 gurias. Sempre tinha
também 3 a 4 pares de noivos para serem casados. A maioria dos adultos praticava
os Sacramentos, ao menos no período da Páscoa. Para se confessar era a coisa
mais simples, pois o padre, através do intérprete, que durante muito tempo foi o
Mathias Martini, mandou que aqueles que quisessem exercitar o Santo Sacramento
da Penitência, se ajoelhassem e anunciassem arrependimento e propósito de
melhora. Feito isto, o intérprete anunciava o perdão e a penitência, seguindo-se
a absolvição anunciada pelo padre. Na missa seguinte podiam
comungar.
Por outro lado, as 14 Colônias (2) fizeram seus primeiros ofícios no cemitério, debaixo de uma árvore. No ano de
1844 construíram sua primeira capelinha. Nikolaus Feltens e Jakob Ludwig fizeram
o serviço de carpintaria. Mesmo que naquela época pouca coisa conseguíamos fazer
pela igreja, desde o início tudo o que fizemos foi de coração e com todas as
forças de que dispúnhamos.
Já naquela época, os pais de família tinham a
especial preocupação de que seus filhos aprendessem a ler e escrever. Já
naqueles tempos, as aulas na Picada eram ministradas por Birnfeld, mas as aulas
eram nas casas e ele ia trocando de casa a cada semana.
Nas 14 Colônias, as
primeiras aulas foram dadas pelo Hans Adam Klein: No entanto, nessa escola havia
uns moleques esquisitos como alunos. Havia dois ou três que já tinham uns 16 ou
17 anos e que vinham da picada do outro lado. Eles traziam suas espingardas e
cães de caça e durante o trajeto abatiam muitos bichos para o assado do almoço.
Vejam, crianças, naqueles tempos piás grandes não tinham vergonha de ir à
escola, porque percebiam a utilidade de se aprender algo na juventude. E agora,
aos 12 anos, quando terminam o período escolar, as crianças acham que quase é um
vergonha pegarem um livro em suas mãos. Na Picada Nova também instalaram logo
uma escola, dirigida inicialmente pelo Hammes, no que foi sucedido pelo Stephan
Karling.
Desse modo, crianças, mesmo com
todas as dificuldades por que passávamos, rapidamente conseguimos melhorar um
pouco de situação, pois já tínhamos igreja e escola e também havíamos conseguido
algum gado. De modo que, aos domingos e dias santos, podíamos consumir alguma
carne. Ao invés de bobó de abóbora
tínhamos batatas e no lugar de mingau de quirera de milho tínhamos pão
autêntico. Encontramos também uma maneira bem sucedida de fazermos nossas
plantações e logo teríamos tido algum progresso se não tivéssemos sido
atrapalhados, primeiro pelos bugres e depois pelo farrapos."
1 - Capela de Santana
2 - Atual cidade de Lindolfo Collor
Texto traduzido do alemão, disponibilizado por Hari Klein
Foto do acervo de Moacir Johann
Foto do acervo de Moacir Johann
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