Os colonos, tiveram de superar muitas barreiras até terem casas confortáveis como essa |
Carlos: “Vovô, naquele tempo, quando vocês chegaram aqui, já existia a igreja e o Padre Blees, que sempre me chama de seu Tocaio (1)?”
Vovô: “Aí, Carlos, você acertou de
novo! Onde estaria a igreja, onde estaria o Padre Blees? Tudo o que os novos
colonos haviam derrubado ainda não tinha o tamanho da nossa roça de agora.
Ninguém de nós sabia nada de nada ou como deveria ser lavrada a terra.
Derrubamos um eito de mata, se for muito, uma quarta (2), na qual plantamos milho.
Picamos todos os galhos e troncos, amontoamos tudo, esperando secar para por
fogo. Queimar a mata, como se faz hoje em dia, não era conosco, pois sempre
pensávamos que o fogo continuaria floresta adentro e queimaria tudo. Rolávamos
os troncos mais grossos para os lados e quando havia um curso d'água,
empurrávamos os troncos para dentro dele.
Depois nos pusemos a desenterrar as
raízes, porque nós alemães achávamos que entre tantos tocos e raízes não se
podia fazer nada. Na hora de plantar, então, acho que fazíamos tudo mais errado
ainda.
O milho plantávamos apenas um grão em cada cova. Os cereais e o trigo,
dos quais plantamos uma boa porção, pela simples razão de que
queríamos voltar a comer pão à moda alemã, plantamos muito junto, do mesmo modo
como fazíamos na Alemanha, tendo como consequência uma colheita ruim.
E as
nossas construções, então. Não ficaram muito melhores que nossa plantação. Quatro
estacas de madeira nos cantos, trançados de cipós e arremates de barro nas
paredes, uns buracos nas paredes à moda de janelas, uma cobertura de capim seco
e nosso primeiro rancho estava pronto. Pregos não existiam. À moda brasileira,
portas e janelas, vigas e caibros eram fixados com “embiras” (3).
Os caixotes
trazidas da Alemanha viraram mesa e bancos, e as poucas coisas trazidas de
além-mar eram todo o equipamento doméstico disponível. A comida também estava de
acordo com esse cenário: milho triturado em moinhos manuais e cozido em água com
um purê de abóbra (abóbora). Essa era a nossa comida cotidiana dos primeiros
tempos.
Nós crianças, quando rezávamos o “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”,
recordávamos com saudades do excelente pão da terra do Mosel, do outro lado do
mar, e nosso pai certamente teria trocado os 272 Morgen de floresta pelos 20 ou
25 Morgen da linda terra arável que possuía na velha pátria. Mas agora era tarde
para lamentar e nós nos vimos obrigados a transformar a necessidade em virtude,
como diz o alemão. Então, minhas crianças, que hoje correm soltas em nossas
picadas abertas e que moram numa bela casa confortável, têm o que comer e o que
beber à vontade, vocês nem conseguem imaginar como era a vida daqueles pobres
abandonados à sua própria sorte em meio à floresta.
1 - tocaio é o mesmo que xará. Ou seja, homônimo
2 - deve ser mais ou menos um hectare (10.000 metros quadrados)
3 - fibra de alguma árvore, usada para amarrar
Texto traduzido do alemão, diponibilizado por Hari Klein
Foto do acervo de Moacir Johann
Texto traduzido do alemão, diponibilizado por Hari Klein
Foto do acervo de Moacir Johann
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