Vapor Lageado no porto do Caí |
Muitos incautos ou inexperientes já enfrentaram dissabores ao se jogarem, em suas correntezas. Muitas pessoas, desconhecendo o perigo da força de suas águas, pereceram por afogamento, ocasionando profundo pesar aos seus familiares e amigos. Além de perdas de vidas humanas, aconteceram naufrágios em épocas em que o rio era muito usado como estrada fluvial até Porto Alegre.
No dia 14 de junho de 1942, à tarde, o barco Santa Cruz, pertencente ao Sr. Balduíno Dietrich e conduzido pelo seu filho Armando, afundou depois de passar pelo porto de Montenegro, quando voltava de Porto Alegre e já vazio. A gasolina dirigia-se ao porto Maratá, onde residiu a família Dietrich.
Um forte temporal fez com que o barco adernasse e afundasse em seguida, salvando-se apenas o Sr. Armando Dietrich que nadou até a margem. Faleceram neste acidente fluvial a esposa do Sr. Armando, Sra. Célia Hövller, o filho do casal Amaury de apenas três meses e o maquinista que viajava no porão junto ao motor, Sr. Ernesto Câmara, exímio nadador e que residia, em Porto dos Pereira.
Antes desta tragédia, outro fato triste aconteceu no ano de 1922. Segundo narrativa do Pe. Bruno Metzen, natural de Pareci Velho, em seu livro ‘Pareci Novo: Canteiro de plantas, frutas e flores’, páginas 14 e 15:
“Em 1922, a Companhia [União] de Navegação Fluvial, de propriedade de Jacó Michaelsen, foi vendida a Carlos Emílio Kayser e Pedro Erig. Pertenciam ao patrimônio da Companhia os vapores Caxias, Oto e Horizonte. O horizonte era o maior e o mais luxuoso. Transportavam passageiros e a produção agrícola de todo o vale do Caí até Porto Alegre. Partiam do cais de São Sebastião do Caí às 18:30 horas. Viajavam durante a noite toda para chegar a Porto Alegre de manhã.
“No dia 6 de junho, o Horizonte partiu de São Sebastião do Caí, com grande carga e regular número de passageiros. Até Montenegro tudo ocorreu normalmente. Depois da partida de Montenegro [e antes tendo atracado em Pareci Novo, onde embarcaram vários passageiros, rumando até Porto Alegre], passados uns 15 minutos, pelas 3 horas da madrugada, explodiu violentamente a caldeira do vapor. A embarcação submergiu logo, ficando apenas a ponta do mastro à flor da água. Houve vítimas fatais, cerca, de 11 pessoas. Entre os passageiros desaparecidos estavam o Sr. Luiz Carlos Weber, negociante em Pareci [Novo] e um menino de 10 anos, Mário, filho de Cristina Kinzel.”
Tudo aconteceu por um descuido, pois faltou água na caldeira e esta explodiu. O Horizonte era o vapor mais antigo das três embarcações da Cia. União.
Continua Metzen: “Fora construído no estaleiro de Charqueadas, São Jerônimo. Media 27,35 metros de comprimento, 4,15 de boca e l,40 de proa. A máquina tinha potência de 24 cavalos. O vapor transportava cerca de 500 sacos de farinha de mandioca, 150 sacos de amendoim. Trazia as ‘chatas’ Capivara e Alphe, ambas carregadas com mais de 1.000 fardos de alfafa emprensada. Os donos [da Companhia] foram obrigados a indenizar as vítimas [e os colonos proprietários das mercadorias transportadas, o que lhes trouxe um grave prejuízo]. Quase faliram.”
A fertilidade da várzea do Caí é uma dádiva do rio, deve-se a ele muito do progresso que se seguiu à colonização da região, porém as histórias dos inúmeros eventos em rios nos contam como é necessário ter cautela com o transporte sobre a correnteza das águas fluviais. As mesmas precauções que precediam os saudosos mergulhos, desde as beiras dos barrancos ou desde os saltos com cordas amarradas nos galhos das árvores sobre o espelho d’água, servem como alerta ou como conselho à manutenção de uma relação saudável com o Caí e com os demais rios, canais do desbravamento regional e da história de seus feitos.
Texto de José Adalíbio Fell
Foto disponibilizada no Facebook por PabloSane Henz
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