sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

3574 - No mato de eucaliptos

Os Schaeffer no mato de eucaliptos: logo antes da invasão da acácia


No ano de 1946, Edmundo Schaeffer (que fez essa foto) esteve nas terras que adquiriu na localidade de Vendinha, no interior de Montenegro. Seu pai, Leopoldo e a mãe Maria Carolina Schubert Schaeffer aparecem na foto (à esquerda). No lado direito  um outro casal: Hilda Schaeffer (irmã de Edmundo) e seu segundo marido Orestes Oliveira. No centro da foto estão Wima Schaeffer e seu filho mais novo, Ronaldo. Este postou-se sobre uma pedra, para disfarçar o fato dele ser o mais baixinho da turma.
O cenário era formado por pés de eucalipto.
No ano de 1946, foi fundada  a fábrica Tanino Mimosa, em Montenegro. E, em 1949, abriu a fábrica TANAC. Ambas usavam a casca da acácia para fabricar o tanino. Produto usado na curtição de couro.
Muitos matos de eucalipto, como esse que aparece na foto, foram substituídos por  matos de acácia. E muitas áreas de campo também foram plantadas com acácia.
A região a oeste da cidade de Montenegro, que até então contava com campos intermináveis, foi coberta de matos de acácia e Montenegro se tornou a capital do tanino. A Tanac foi a maior fábrica de tanino do mundo.
O tanino perdeu terreno para o cromo, como produto usado para o processo de curtimento do couro. Mas a vantagem de ser um produto natural, ecologicamente mais correto, faz com que ele possa se impor na concorrência com o cromo. Um mineral muito poluente.


Essa questão é explicada pela seguinte matéria, publicada pelo Jornal Exclusivo:

Com a crescente discussão em torno da preservação do meio ambiente, a indústria busca aplicar tecnologias limpas em seus processos. No setor coureiro, que já foi considerado um dos mais poluidores, não é diferente. O cromo, utilizado no processo de curtimento do couro, vem sendo gradativamente substituído por curtentes alternativos. Uma das opções são os taninos vegetais que, nas peles, transforma as proteínas existentes em produtos resistentes à decomposição.
O curtimento vegetal, praticado desde a Antigüidade, foi substituído, a partir da revolução industrial, por novas substâncias químicas, como os taninos concentrados e sintéticos, e os curtimentos minerais com cromo, alumínio e titânio. Atualmente, o curtimento com cromo é o mais utilizado. No entanto, os resíduos deste processo são considerados perigosos à saúde pública e ao meio ambiente e, por isto, a indústria curtumeira tem se voltado novamente aos curtimentos com taninos vegetais, menos poluentes.
O engenheiro de Produção e consultor do Laboratório de Couros e Calçados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), Alessandro Ramos Carloni, acredita que atualmente a indústria está "redescobrindo" os taninos vegetais para curtimento do couro, principalmente devido "à forte pressão ambiental, aquecimento global e evidências do esgotamento dos recursos naturais do planeta", avalia. A engenheira química e consultora do Laboratório de Estudos em Couro e Meio Ambiente (Lacouro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Patrice Monteiro de Aquim, diz que a indústria do couro está apenas valorizando mais os taninos vegetais, pois ela sempre os utilizou muito, principalmente, nos processos de recurtimento.
A coordenadora de vendas do mercado brasileiro da Seta (Estância Velha/RS), Morgana Carvalho, também crê que a demanda por taninos vegetais sempre existiu, mas pondera: "Nota-se um incremento na procura por artigos altamente vegetalizados, e esta tendência se fortalece pela pressão ambiental, cada vez mais intensa no mercado internacional".
Carloni cita, entre os mais utilizados pela indústria curtumeira, os taninos de quebracho, mimosa (acácia), castanheiro, mirabolano e tara. "Apesar da variação do poder curtente, variando de 2 a 10%, e dos preços, alguns tipos são mais comuns em algumas regiões e outros nem são explorados comercialmente", explica. As propriedades conferidas ao couro, segundo Carloni, variam conforme o tipo de tanino vegetal utilizado, mas, de forma geral, ele diz que são produtos muito adstringentes, reagindo rapidamente com o couro, conferindo um toque mais seco. "Os atanados, como são chamados, podem ser descurtidos com mais facilidade e, quando expostos ao meio ambiente, seu poder de degradação é maior e menos prejudicial que qualquer outro curtente", enfatiza.
Morgana lembra que no Brasil existe apenas a produção do tanino de acácia, sendo que os taninos de quebracho e castanheiro são produzidos somente no exterior e em escalas menores do que o de acácia. "O tanino de acácia é um produto muito versátil, podendo ser utilizado em diversas etapas do processo produtivo de couros, tais como pré-curtimento, curtimento vegetal e recurtimento de couros curtidos ao cromo", aponta. Segundo Patrice, os mais importantes extratos vegetais são hoje obtidos das plantas acácia negra, castanheiro, quebracho e tara. "O couro curtido com tanino vegetal é firme, de fácil lixamento e gravação, pois a fibra do couro vegetal é bastante dura e rígida, deixando-se cortar bem com esmeril. Ele tem baixa solidez à luz e se distingue dos demais pela quantidade de agente curtente que a pele incorpora, que no caso do couro para sola pode chegar a 100% sobre a substância pele", analisa.
CRESCIMENTO - Na opinião de Carloni, o uso de taninos naturais no curtimento tende a crescer. "O uso deve crescer com a exigência de materias comprovadamente não prejudiciais ao meio ambiente. As indústrias tenderão a oferecer um leque maior de produtos naturais, interferindo diretamente nos preços atuais dos produtos", afirma.
Patrice acredita que o crescimento do uso dos taninos deve acontecer por dois motivos: substituição ao cromo e por sua qualidade. "Primeiramente, o seu uso no curtimento, que elimina o uso do cromo, um resíduo classe I, gerando um produto menos impactante ao meio ambiente com forte marketing ambiental: couro chromo-free. Outro fator relevante para o seu uso aumentar é sua aplicação no recurtimento, que confere melhores propriedades ao couro, resultando em um produto de melhor qualidade, uma busca incansável pelo mercado", frisa. De acordo com ela, o curtimento com taninos é importante por seu processo não agredir tanto o meio ambiente, pois seus resíduos são degradáveis e servem para uso em compostagens na produção de adubos.
"Os couros curtidos com tanino são geralmente empregados para fabricação de solas, correias, selas de cavalo, malas, sapatos infantis, estofados e outros", cita. Morgana tem a mesma opinião, avaliando a tendência mundial de couros cada vez mais naturais e o aumento das exigências ambientais. "Assim como o tanino de acácia é obtido de fontes naturais renováveis, o couro curtido a base de tanino vegetal e os resíduos gerados no processo produtivo são biodegradáveis, impactando positivamente na reutilização dos resíduos em outros segmentos ou até em reprocessamento", completa.
Para Carloni, os curtentes alternativos são um bom investimento. "Considerando que o couro se tornará artigo de luxo por volta de 2015, segundo previsões, e que o mercado esclarecido e com poder de compra não se importa em pagar por produtos ‘corretos’, podemos considerar que vale a pena fazer uso de produtos alternativos, mesmo que gerem couros relativamente mais caros", finaliza.

Matéria de Lia Nara Bau

Foto do acervo de Egon Arnoni Schaeffer




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