sábado, 5 de abril de 2014

3869 - Primeira viagem de caminhão

Jardineira que fazia a linha Caí-Porto Alegre: sem paredes laterais
e com cinco bancos, cada um para cinco pessoas


Helena Cornelius Fortes escreveu o livro Reminiscências, todo ele em versos. A obra, que evoca  a história caiense, foi editada em 1975, quando era comemorado o centenário da criação do município.
Um dos poemas que compõem a obra foi intitulado como Primeiras viagens de Caminhão a Porto Alegre.
Caminhão era o nome que as pessoas usavam quando ainda não conheciam a palavra ônibus.

Primeiras viagens de "caminhão" a Porto Alegre

Geraldo Diefenthaeler e Helmuth Blauth,
na década de trinta, 
botaram linha de "caminhão"
que, até hoje, não foi extinta.

Os carros eram dirigidos 
por ambos os proprietários
um num dia e outro no outro,
repartindo os horários.

Por não haver rodoviária,
nem local de paradeiro, 
apanhavam e largavam, 
em suas casas, os passageiros.

Fácil como hoje não era:
quem quisesse viajar 
teria que ir, na véspera,
ao empresário e avisar.

Péssima era a estrada com chuva,
não tinha  um palmo de asfalto.
Lá no Morro da Roseta,
só com bois se chegava ao alto (1).

Saía-se de um buraco 
e noutro se caía lá adiante.
Em Conceição, era o atoleiro, 
em frente à igreja Protestante.

De vez em quando um passageiro
como sinal levantava a mão,
e o motorista atencioso 
já parava o "caminhão".

Mais que um saltava fora
querendo ser o primeiro,
e o Geraldo aproveitava
pra fazer o seu palheiro.

Das seis da manhã em diante,
o "caminhão", como o chamavam
percorria a nossa vila
recolhendo os que a esperavam.

Com bancos pra cinco pesssoas,
era aberto nos dois lados.
No inverno essa longa viagem
nos deixava congelados.

Nesse tempo, em Porto Alegre,
mulher sem chapéu não andava; 
e a gente, pra não ser guaiaca
um "copa-alta" enterrava.

Era tão baixinhoo teto
do caminhão sempre a pular
que a gente ia cabisbaixa
pra chapéo não achatar.

Entrava-se em Navegantes
pelo Caminho Novo (2) a fora.
Não tinha Avepnida Farrapos
nem  aterros, como agora.

Lá, bem no portão dos fundos
do grande e velho Mercado
o nosso caminhãozinho
ficava quieto e parado.

E os passageiros caienses
dali em diante se espalhavam,
E às três horas da tarde 
ao mesmo lugar retornavam.

No mesmo banco sentados
e a mesma estrada enfrentando, 
com um ônibus confortável
e com asfalto iam sonhando.

Só depois de quinze anos
o sonho foi realizado,
a Empresa então adquiriu 
o seu ônibus fechado (3).
Com música e foguete
o carro foi inaugurado.

E pra alegria de todos
pela cidade circulou
com uma banda lá dentro
e só de noite parou.
O Helmuth, seu proprietário, 
da direção se ocupou.

A ECO (4) foi grande impulso 
para o antigo Caizinho;
suas rodas nunca pararam
galgando os maus caminhos.
Bem diz o velho ditado:
Não há rosas sem espinhos.

1- a lomba da Roseta ainda existe, na estrada de chão que vai do passo do Cadeia (ou da ponte de ferro) em direção ao atual campus da UCS, no Lajeadinho. Para os carros de hoje, é uma lombinha fácil de subir.

2 - nome antigo da rua Voluntários da Pátria.

3 - os primeiros ônibus eram do tipo jardineira, abertos nas laterais.

4 - Empresa Caiense de Ônibus, mais tarde denominada ECOL, com o L de Limitada.

Foto do acervo da Empresa Caiense de Ônibus

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