terça-feira, 27 de maio de 2014

4062 - Inácio Ledur

Silvino Ignácio Ledur, além de integrar a comissão emancipacionista, contribuiu para o desenvolvimento de Bom Princípio, trazendo trabalho e renda, vendendo terrenos e construindo casas. Hoje, na tranqüilidade da aposentadoria, ele se dedica a manter a saúde, jogar um carteado e aproveitar a família e tudo o que a vida lhe deu com muito suor.
Quem é Silvino Ignácio Ledur?
É um cara que quase virou padre, ajudou a emancipar Bom Princípio, foi professor, dono de armazém, agricultor e empresário. Um cara com muito a agradecer e pouco a pedir.
Quase virou padre?
Sim. Bom. Vou começar do início. Eu nasci em casa, no Morro Tico-Tico, e uma parteira me ajudou a sair do ventre da minha mãe, dona Isabela Martine Ledur. Ela disse que tinha valido muito a pena ter esperado os nove meses. Um pouco mais crescidinho eu comecei a estudar em Santa Terezinha, na capela antiga, onde fiquei por cinco anos. Depois, aos 11 anos eu vim para o Centro de Bom Princípio, onde então eu passei a estudar no Seminário São João. Gostei da coisa e então passei a estudar no Seminário de Gravataí, onde eu fiquei mais seis anos, e, por fim, fui ainda para Viamão, quando então eu vi que não tinha vocação. Era à hora de escolher o “vestido” preto ou o florido. Eu preferi o florido, que era o de não ser padre.
Não virou padre, mas virou o que?
Virei professor. Voltei para Bom Princípio e passei a dar aula no primário da Bela Vista. Neste tempo conheci minha esposa Carmem, com quem casei. Foi em 1961. Logo em seguida, eu ganhei um contrato do estado e nos mudamos para Linha Francesa Alta, em Barão, que naquela época nem era município. Fomos morar na Casa Paroquial. Fiquei dois anos lecionando por lá. Foi aí que eu deixei de ser professor.
Por quê?
Lá em Barão veio morar um padre e a Carmem e eu tínhamos que nos mudar, não podíamos ficar lá. Aí um amigo nosso que vendia produtos para um armazém em São Leopoldo, nos contou que este comércio estava a venda. Era de um gringo e tinha uma boa clientela. Não hesitamos. Compramos o negócio. E fizemos a coisa certa. Naquele tempo não existiam os supermercados e vendíamos de tudo o que fosse pensar em produtos coloniais. Queijos enormes, manteiga em lata, coisas que hoje nem existem mais. Fizemos o nosso pé de meia. Com o que sobrava comprávamos casas para alugar. Foram seis anos magníficos lá.
E então?
Aí meu pai Jacó Afonso adoeceu e pediu para que eu voltasse para cuidar dele. Vendemos o armazém em São Leopoldo e passamos a nos dedicar à agricultura e à avicultura. Então, no Morro Tico-Tico, começou o meu envolvimento comunitário. Me convidaram para ser presidente da Sociedade Bom Progresso, onde permaneci durante muitos anos junto na diretoria. Passaram a me convidar para diretorias de outras entidades. Quando fui ver já tava no meio de muitas. Sempre ajudando, pois esse era o meu intuito.
E não voltaste mais para o comércio?
Voltei. Ficamos eu e a Carmem por cinco anos na agricultura. Foi quando o pai dela dividiu a herança com os filhos no Centro de Bom Principio. Não precisávamos de muito para viver bem. Então como a gente já conhecia o ramo de imobiliária lá de São Leopoldo, com apoio do irmão da Carmem, resolvemos investir nisso. Passamos a lotear os terrenos da herança e começamos a vender. Paralelo a isso, abrimos uma construtora, pois quem compra terreno, também quer ter onde morar. Meu filho João Carlos assumiu o comando da construtora e o Ricardo, o Paulo e o Alexandre, meus outros filhos, que eram menores, ajudavam.
Deu certo. Mas não tinha muito cliente porque a cidade era pequena. Faltava algo que fizesse o município ser mais pujante. Faltava indústria.
E o que se fez em relação a isto?
Eu fui conversar com os proprietários da Reichert Calçados, em Feliz, e com o pessoal da Cerâmica Kaspary. Ofereci as terras da minha família para eles colocarem suas empresas. E eles aceitaram. Começou a vir ônibus de vários lugares, com gente para trabalhar. Foi então que loteamos o restante das terras do Morro Tico-Tico. Quem vinha de fora, começou a comprar terrenos para morar mais perto da empresa. A localidade que tinha umas 80 residências, hoje tem mais de mil. Foi então que Bom Princípio cresceu. E com o Município se desenvolvendo a imobiliária e a construtora cresceram juntos. Hoje os negócios ficam por conta do João Carlos, do Ricardo e do Paulo. Eu descanso.
E o Alexandre?
Ele é proprietário da empresa de Doces Bom Principio, que fica em Tupandi, onde também trabalha minha filha mais nova, a Luciane.
Tens mais filhos?
Sim, são sete no total. Tem mais dois que me orgulham. Deus não quis que eu fosse um meio padre e fez com que eu fosse pai de dois padres bons. Os gêmeos Francisco e Inácio se formaram padres e hoje atuam na capital. O Padre Chico dirige a Paróquia São João, enquanto o Padre Inácio está a frente da Paróquia Conceição, no Centro.
Acredito que todos os meus filhos, meus maiores patrimônios, estão bem encaminhados.
E qual a sua relação política com Bom Princípio?
Eu estive na comissão emancipacionista, fui candidato a prefeito e vereador. A criação do Município se deu após ficarmos sabendo, através de Orlando Hensel, que Barão iria se emancipar. Se eles podiam, porque Bom Princípio não. Isso era em 1981. Juntamos a comunidade, conversamos com pessoas influentes de Tupandi e São Vendelino, para anexar a Bom Princípio, para que pudéssemos ter eleitores suficientes para emancipar. Acho que precisava de uns três mil. Conseguimos. A Assembleia Legislativa aprovou nosso pedido para realização de eleições e lá mesmo em Porto Alegre eu fui “coagido” a entrar no PDS e colocar meu nome à disposição para ser prefeito. 
As eleições eram diferentes. Só existiam dois partidos, que botavam quantos candidatos quisessem (1). Vencia o partido que fazia o maior numero de votos, juntando todos os candidatos, e o candidato do partido virava prefeito. Eu sabia logo que não venceria a eleição, mas entrei para somar. O PMDB tinha ampla maioria, mas colocou só dois candidatos. Nós do PDS colocamos três, e o Hilário Junges, que já era vereador em Montenegro fez diferença. Ele conseguiu quase todos os votos em Tupandi e somados aos meus e do outro candidato vencemos a eleição. Auxiliei na instalação da prefeitura. Conseguimos trazer a primeira creche para a cidade, a Branca de Neve, bem como implantar o 2º grau na Monsenhor José Becker. Depois em 88 concorri a vereador, mas não me elegi. A nossa família segue atuante na política local, mas eu deixei para os outros.
Matéria publicada pelo jornal Visão do Vale em 26 de fevereiro de 1913, provavelmente de Alex Steffen
1 - Na verdade, o limite era três candidatos por partido.

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