domingo, 1 de junho de 2014

4082 - Pesquisa do professor Luiz Ernesto Brambatti para o projeto Rota Estrada Rio Branco

A CHEGADA DOS IMIGRANTES ITALIANOS AO PORTO DO GUIMARÃES, EM SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ

Em 1875, com a chegada dos imigrantes italianos a Porto Alegre, o único caminho de que dispunham para chegar ao “Campo dos Bugres”, depois denominado de “Colônia Caxias” em janeiro de 1877, era pela via fluvial, através do Rio Cahy[1], até o Porto do Guimarães, no recém criado município de São Sebastião do Cahy. Uma vez chegados ao porto do Guimarães, os colonos italianos lá permaneciam, as primeiras famílias, até que ficassem prontos os barracões e casas provisórias e fossem feitas as medições das colônias. Conforme chegavam em Porto Alegre, os imigrantes eram transferidos também para os barracões existentes em São Sebastião do Caí, Passo Esperança, na Picada Feliz, em Nova Palmyra e no Campo dos Bugres.
O rio Cahy (MASSON,1940,p.28), com “h” e “y” tal como escrito na época, tem cerca de 30 léguas de comprimento, desaguando no Rio Jacuí. De Porto Alegre até o Porto dos Guimarães são aproximadamente 13 léguas ou 132 quilômetros.
Em 1881 (CAÍ, 1881) atuavam no transporte fluvial entre São Sebastião, Maratá, Montenegro e Porto Alegre, os seguintes vapores e respectivos comandantes:
Vapor Barão do Cahy:Sr. Luis Christiano Lauer.
Vapor União: Sr. João Antonio Collor
Vapor Maratá : Sr. Carlos Guimarães Schlling
Vapor Brasileiro: Sr. Felipe Carlos Trein
Outros vapores foram construídos para atender a demanda crescente de transporte: Rio Branco, Gaúcho, Garibaldi, Lageado, Otto, Horizonte, Caxias e Salvador.  O transporte fluvial pertencia a duas companhias de navegação de S. Sebastião do Caí: Navegação Fluvial do Caí e Navegação Sedutora.
“O Horizonte era um barco muito grande e bonito. Levava carga e 30 passageiros. E ainda rebocava três chatas (barcos sem motor), cada uma com tamanho equivalente ao do próprio vapor, atulhadas de carga.
O que movia o vapor era a caldeira: uma grande “panela de pressão”. A água, fervendo dentro dela, escapava na forma de um jato, que impulsionava as pás de uma roda. E estas, girando, mergulhavam na água, trabalhando como remos e impulsionando o barco.
O barco partia do Caí às seis horas da tarde e chegava em Porto Alegre às seis da manhã. Começava, então, a viagem de volta, chegando no Caí no final da tarde. (KLEIN, Historias do Vale do Caí, 2009)

Em 1881, o Presidente da Camara Municipal de São Sebastião do Cahy solicitou uma série de informações aos comandantes dos vapores, no entanto as respostas não foram localizadas no arquivo histórico de SSCaí. 

Aos comandantes dos vapores desta Villa: Vapor Barão do Cahy:Sr. Luis Christiano Lauer;Vapor União: Sr. João Antonio Collor;Vapor Maratá : Sr. Carlos Guimarães Schling;Vapor Brasileiro: Sr. Felipe Carlos Trein
Paço da Camara Municipal na Villa de São Sebastião do Cahy, 18 de fevereiro de 1881. Ilmo. Sr. Para esta Camara poder prestar informação ao Governo  da Provincia sobre assumptos que muito interessam ao progresso deste município precida que V.S.  em qualidade de comandante do Vapor Barão do Cahy se digne de informar-lhe  o seguinte:
1.       Quanto, liquido, pelo mesmo vapor o cidadão Luiz Manoel Weck, arrematantedos impostos sobre gêneros de exportação  deste município no exercício de 01 de julho de 1879 a 30 de junho de 1880;
2.       Quaes os gêneroscomerciais  e industriais, sua quantidade e arrobas, que o memo vapor exportou deste município no referido tempo;
3.       Qual a força máxima , média e mínima  do mesmo vapor em numero de sacas e arrobas, bem como  de suas lanchas ou barcaças que o acompanhão;
4.       Quantas viagens o mesmo vapor faz por semana e de que porto parte para Porto Alegre;
5.       Qual o rendimento e despesa annual do mesmo vapor, bem como quanto por cento tem produzido de dividendo ou lucro aos accionistas devendo V. S. addicionar outras quaisquer informações  ou esclarecimentos  que lhe occorrerem  a respeito.
Deos guarde a V. S.
Assinado: Paulino Ignácio Teixeira – Presidente da Camara
Secretário: João Francisco D’Aguiar Junior.
(TRANSCRIÇÃO DO LIVRO DE ATAS DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ. LIVRO 4, Arquivo histórico de S. S. do Caí. 1881)


Uma das primeiras fotos da imigração italiana. Autor desconhecido.
Atribui-se a travessia do Rio Caí. Cedida pelo Museu e arquivo
histórico de São Sebastião do Caí
Vapor Otto ancorado no porto de São Sebastião do Caí: fonte: autor
desconhecido, cedidas pelo arquivo histórico de São Sebastião do Caí- 1910. 

Vapor Garibaldi ancorado no porto do Guimarães, em São Sebastião do Caí
carregando mercadorias vindas das colônias em direção a Porto Alegre: fonte:
autor desconhecido, cedidas pelo arquivo histórico de São Sebastião do Caí. 

Vapor Lageado ancorado no Porto do Guimarães, em São Sebastião do Caí .
Fonte: autor desconhecido, cedidas pelo arquivo histórico de São Sebastião do Caí. 

Para que os imigrantes chegassem às colônias, tinham que enfrentar vários obstáculos naturais neste novo corredor migratório. O primeiro deles era o próprio acesso dos vapores ao porto do Guimarães, pois o rio Cahy, em época de seca, não oferecia calado para se chegar até o porto, e haviam as corredeiras que, com pouca  vazão, tornavam inviável o tráfego fluvial.  A carga e os passageiros desciam então no porto Maratá.
A solução encontrada foi construir uma barragem com eclusa próxima de São Sebastião, atualmente município de Pareci Novo, iniciada em 1895, pelo Engenheiro Dr. José da Costa Gama, da Cia. de Melhoramentos do Caí e inaugurada em 1906, com o nome de Barragem Rio Branco.
Antes de 1906, em períodos de pouca água, os vapores não deixavam de fazer a linha ligando o Caí à capital. Mas o ponto final da linha era no porto Maratá, situado próximo à foz do arroio de mesmo nome. Este local fica no atual município de Pareci Novo. A alguns quilômetros, rio a baixo, da sede do município. (KLEIN, Historias do vale do Cai, 2010)
 
Projeto da Barragem Rio Branco feita pelo Eng. Costa Gama, construída no Rio Caí, iniciada em 1895 e concluída em 1906, para permitir o acesso dos vapores até o porto do Guimarães. A barragem tinha uma eclusa. Fonte: Alceu Masson, Monografia, 1947,  p.105.



[1] Utilizamos a escrita de rio Cahy , com “h” e “y”, de origem guarani, tal como era utilizado na documentação da época. Quando refere-se ao município atual, utilizamos a forma portuguesa da palavra “Caí”.  Também porque existe um outro rio Cahy no Sul da Bahia, município de Prado, que permanece com a grafia original. 

Material extraído do site estradariobrancohistória, de Luiz Ernesto Brambatti

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