sábado, 1 de novembro de 2014

4945 - O primeiro prédio próprio do Clube Riograndese

A frente que o Clube Riograndense tinha para a rua Ramiro Barcelos,
que foi alugada para o banco Itaú
Clube Riograndense em 1919:  o prédio de alvenaria foi construído
em frente ao prédio de madeira, construído em 1899
Primeira sede própria do Clube Riograndense (Gesellschaft Germânia)
O Clube Riograndense não tem, hoje, o destaque que teve outrora na comunidade montenegrina. Fundado por imigrantes alemães, ainda no século XIX, ele funcionou por vários anos em prédios cedidos por particulares.
Conforme narra Rugard G. Heller na sua contribuição ao Montenegro Ontem & Hoje de 1982, já em 1981 Montenegro contava com duas sociedades de canto coral. Ambas fundadas por pessoas de origem alemã. Uma chamava-se Eintracht (Concórdia) e outra Brüderbund (União de Irmãos). Havia uma grande rivalidade entre os dois grupos e isso levou os seus integrantes até a algumas brigas. Para acabar com isso, os mais ponderados resolveram unir os dois grupos, para isso, foi feita uma reunião na residência de Guilherme Schüller, situada na rua da Floresta (atual Ramiro Barcelos) número 1306. Ela aconteceu no dia 20 de agosto de 1981 e compareceram 42 pessoas. A união foi confirmada e assim foi fundada a Gesang-Verein (Sociedade de Canto) Germânia. A nova sociedade nascia com o propósito de cultivar o canto e, futuramente, a música, o teatro, as recreações e os costumes alemães. Havia, por parte dos colonos alemães um natural interesse em preservar a notável cultura do seu país de origem. Os primeiros corais eram exclusivamente masculinos.
Os sócios fundadores foram Pedro Müller 1º, Jacob Rick, Guilherme Einloft, Emílio Schaeffer, Georg Gerhard, Christiano Timm, Augusto Leser, Bernardo Griebeler, Frederico Karst, Augusto Kothe, Jacob Augustin, Jacob Augustin Filho, Christoff Augustin, José Scholz, Carl Huber, Christiano Ruperti, Peter Erchsen, Jacob Schaan, Germano Schneider, Pedro Boos, Jacob Bender, Christiano Rupertti, Peter Erichsen, Jacob Schaan, Germano Schneider, Pedro Boos, Jacob Bender, Christiano Matte, Edmundo Schuler, Ferdinando Schwarz, Christiano Martini, Asmus Erichsen, Lourenço Kröff, Afonso Enck, Carl Grünewald, João Schuler, Guilherme Schuller, Bartholomeu Stumpf, Christiano Herzer, Pedro Dhein, João Stumpf, Guilherme Holderbaum, Pedro Müller Segundo, Miguel Schu, Eduardo Ambergen, Franz Jahn, João Roden, Pedro Stumpf. 
O local escolhido para o funcionamento da sociedade foi a residência de Emílio Schaeffer, na rua João Pessoa 935.
A primeira diretoria foi constituída por Carl Huber, presidente; Peter Erichsen, secretário e Jacob Schaan, tesoureiro.
Desde então a sociedade funcionou ininterruptamente, mesmo sem contar com uma sede própria. Em março de 1887, a sede foi transferida para o Hotel do Comércio, um prédio bem mais amplo e confortável, na rua João Pessoa, no mesmo local onde, mais tarde, foi construída a sede do Sport Club 7 de Setembro.
Em 1889, foi organizado um coro misto, com a participação de esposas e filhas dos associados e a sociedade voltou para a sua sede antiga, na rua João Pessoa 935, agora transformada em Hotel São João. 

HOTÉIS
Assim como São Sebastião do Caí, Montenegro tinha muitos hotéis naquela época.  As duas cidades, por serem portos, eram local de escala para quem vinha de Bento Gonçalves, Caxias do Sul e da região norte e noroeste do estado pelas rodovias Buarque de Macedo (de Lagoa Vermelha a Montenegro)  e Rio Branco (de Vacaria a São Sebastião do Caí). Essas estradas, no início, eram muito precárias e as viagens duravam dias. Ainda mais no inverno, quando as condições de tráfico se tornavam ainda piores. Do Caí ou de Montenegro a viagem era feita  em vapores, com muito mais conforto e rapidez (não mais que sete ou oito horas). Os hotéis dessas cidades, que dispunham de camas e chuveiros, além de restaurantes, eram de grande valor para os viajantes.
Presumivelmente, Emílio Schaeffer transformou sua casa num hotel e, durante as obras de reforma e ampliação, as  reuniões do coral passaram para o Hotel do Comércio.

No dia 26 de outubro de 1895, numa reunião de sócios, foi tomada a decisão de adquirir um terreno para a construção da sede própria e a compra foi concretizada no dia 7 de dezembro. O terreno, com frente para a rua Ramiro Barcelos, pertencia a Fernando Schuller e corresponde ao local em que hoje se encontra instalada a agência do Banco Itaú.
Antes do prédio ser construído e haver a instalação do clube na sua sede própria, houve uma outra mudança de local. Desta vez para a casa do industrial Gustavo Jahn, que era também um amante da música. As reuniões e ensaios do coral passaram a ser realizadas na sua casa, situada na rua Capitão Cruz. Jahn era um excelente músico e criou uma orquestra da sociedade.
No dia 22 de maio de 1898 foi decidida a construída no terreno recentemente adquirido. Essa primeira construção era de táboas e media 65 metros de frente por 120 de comprimento. A construção começou em 8 de novembro, com projeto do sócio Germano Leser.
No dia 17 de maio de 1899, a sociedade mudou seu nome para Gesellschaft Germânia (Sociedade Germânia), reformulou seus estatutos, que reafirmavam o propósito de cultivar a cultura germânica através do canto e da música em idioma alemão.
No dia 1º de junho, já na sede própria, foi realizada a primeira reunião de diretoria, já no novo prédio. No dia 20 de agosto aconteceu a solene inauguração da sede, com grande baile e apresentações artísticas.
Vieram para a festa 70 pessoas de Porto Alegre, pelo rio Caí, num vapor especial. Uma banda esperava por esses convidados no cais do porto e, sob chuva torrencial, esses convidados foram conduzidos até o Hotel São João, onde lhes esperava um lauto almoço.
Vieram muitos convidados também de Hamburgo Velho, São Leopoldo e Lomba Grande vieram muitas pessoas, parte montadas a cavalo, parte em carretas. a cerimônia de inauguração começou às sete e meia da noite, com discurso do presidente do clube, Gustavo Jahn. Houve exibição musical com coral e orquestra, além de solos instrumetais.
No dia seguinte houve novo conserto, mas esse teve de ser interrompido, pois chovia torrencialmente e o barulho produzido por ela no telhado de zinco era ensurdecedor. Mas a festa continuou, com um baile que estendeu-se até a madrugada. A inauguração da nova sociedade foi o maior acontecimento social ocorrido até então na cidade.
Depois disto, grandes eventos foram realizados naquele prédio, como a comemoração dos 400 anos do descobrimento da América, em 3 de maio de 1900 e, em 1901, foi ali realizado o 2º Deutscher Bund für Rio Grande do Sul, o torneio de canto da Liga dos cantores germânicos do Rio Grande do Sul.
Competiram, além dos cantores locais, sociedades de São Leopoldo, três grupos de Porto Alegre e a Sängerkranz, de São João dos Brochier. Saiu vencedor o coral montenegrino. 
Em 1902, a entidade adotou o nome de Sociedade Germânia. No ano seguinte foi adquirido mais um terreno junto ao prédio da sede. Aumentava o número de sócios, o grupo coral se projetava como um dos melhores do estado, vencendo seguidos torneios disputados nas outras cidades de colonização alemão. Foi consrtruída uma cancha de bolão. 
Em 1910 foi tomada a decisão de construir uma pomposa frente de alvenaria situada entre o prédio de madeira e a rua Ramiro Barcelos. Em 1912, foi comprado um meio terreno ao lado do que já pertencia à sociedade. O objetivo era permitir a existência de duas entradas laterais no prédio.
Em 1912 a obra foi concluída e tornou-se verdadeiro orgulho  para os montenegrinos. Com sua frente de dois pisos e requintada arquitetura, tornou-se o mais imponente prédio da cidade.
Em 1916, a sociedade já contava com luz elétrica. Algo  muito raro na época. A cidade ainda não contava com uma rede pública de eletricidade, mas a energia era fornecida pela usina particular pertencente à cervejaria Jahn, pertencente ao benemérito presidente da sociedade, Gustavo Jahn. Essa cervejaria estava instalada na esquina das ruas Capitão Cruz e São João, no prédio até hoje ainda de pé. Uma rede com postes e fios foi estendida da cervejaria até a Sociedade Germânia.
Numa época em que não havia nem rádio nem tv e poucas oportunidades de diversão eram oferecidas ao povo, a Sociedade Germânia era o que mais alegrava e entretia a população.

Um comentário:

  1. Olá, sou bisneto de Peter Erichsen e estudo a genealogia da família Erichsen. Você sabe se o Asmus Erichsen citado no texto era o filho do Peter ou outro parente?
    Saberia me dizer onde conseguir a documentação com os dados dos sócios fundadores do Clube Riograndense?

    ResponderExcluir