segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

5262 - Sineiro

Quando estudava no Ginásio São João Batista, em Montenegro, o jornalista 
Fernando Albrechtrecebia a missão de tocar o sino da antiga igreja da cidade

Desafio na corda

Descobri mais uma profissão que exerci quando adolescente. Amigo do tempo do ginásio São João Batista, de Montenegro, postou uma foto da cidade na enchente de 1941. Um dos meus amigos e colega de classe, Cilo Hummes, comentou que ele fora sineiro da igreja que aparece na foto. Sineiro! Quantas profissões desapareceram, e sineiro foi uma delas. O bimbalhar dos sinos hoje é eletrônico ou comandando por algum algoritmo. Pelo que sei, em outros países é com muito orgulho que os sineiros ainda fazem essa tarefa.

 Pois o seu Marcel Proust é realmente o tal. Tinha esquecido que também foi sineiro, mas como free lancer não-pago. O que acordou esse fragmento de memória não foi algum cheiro, mas o comentário de um amigo daqueles tempos. Ressurgido das brumas do tempo, vi-me pendurado nas cordas da antiga igreja matriz. Eram três sinos, um pequeno, um médio e um maior, usado para marcar a primeira missa e a Hora da Ave Maria, às 18h.
 Quando o Ari, o sacristão, pedia para substituí-lo, não precisa falar duas vezes. Demorava até o gongo bater na lateral do sino grandalhão, mas depois que ele embalava tinha que se esperar para que a lei da gravidade fizesse efeito. Bastava uma leve puxada de corda para acionar os outros dois.
 A brincadeira era se pendurar na corda do sino grande, que subia e descia conforme era acionado. Você voava em cima daquele poço abaixo, subindo, descendo, subindo, descendo, até que, antes dele parar, buscava a segurança do estrado lateral.
 Mais uma para meu livro de memórias. Já fui sineiro, é mole? Não de carteira assinado, mas eu tinha potencial para ser um grande profissional na arte de badalar. Posso assegurar que se ouvia a quilômetros de distância.
Artigo de Fernado Alrecht, no Jornal do Comércio

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