segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

5263 - Boas e mas lembranças da vida de colono

Trabalhar na roça era penoso, mas todos na família tinham obrigação de ajudar

Trabalho da roça

Quando era pequeno e, depois, adolescente em São Vendelino, adorava fingir de trabalhar na roça de um grande amigo dos meus pais, seu Ignácio Schneider e dona Idalina. O pai era comerciante e relativamente bem de vida, ao passo que Ignácio era colono com meros 20 hectares. Plantava-se de tudo menos soja. A leguminosa ainda não era o xodó que é hoje. Até se dizia que fazia mal para os ossos, era comida para porcos apenas.
 Ao assunto. A família ia quase toda para a roça para preparar a terra ou plantar. Eu tentava trabalhar, porque só levantar uma enxada e baixá-la repetidas vezes cansava à beça. Tinha eu ser forte como eles para fazer isso o dia inteiro. De tarde, vinha a hora do fristick, o café da tarde. Como eu gostava dessa hora. Lembro até hoje do cheiro do pão preto ou pão de milho. Interessante, não é mesmo messier Proust?
 Tudo era cuidadosamente embrulhado em uma toalha de mesa. Em um cesto, já estava café preto ou com leite em uma garrafa de vidro; aos poucos vinha o resto, o pão, schmier de cana-de-açúcar (engrossada com pedacinhos de chuchu ou batata doce), kesschmier (que vocês conhecem como queijo tipo Quark) e uma linguiça caseira de comer ajoelhado.
 Alemão gosta da mistura doce-salgado, como os americanos, aliás. Então me preparavam uma fatia grossa de pão cheia de schmier com o kesschmier por cima e um naco de primeira grandeza de linguiça. Às vezes, vinha torresmo feito em casa, quando se matava o porco. Queria muito comer torresmo, mas os que eu achei ou não tinham gosto, ou sua ficha corrida não era recomendável.
 Rapaz, que refeição. Daria tudo para voltar ao café da tarde do seu Schneider, sentado numa pedra à sombra de uma árvore e ouvindo o murmúrio do Arroio Forromeco logo adiante.
Coluna de Fernando Albrecht para o Jornal do Comércio

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